Vaticano: Valorização das mulheres corresponde a «aspiração» da Igreja e da sociedade, diz irmã Nathalie Becquart (c/vídeo)

Subsecretária do Sínodo dos Bispos destaca aposta do Papa Francisco numa Igreja menos «clerical» e mais centrada na comunidade

 

Cidade do Vaticano, 21 mai 2021 (Ecclesia) – A irmã Nathalie Becquart, primeira mulher a desempenhar o cargo de subsecretária do Sínodo dos Bispos (Santa Sé), disse à Agência ECCLESIA que a promoção da presença feminina é uma “aspiração” da Igreja e da sociedade.

“Vejo uma evolução na Igreja. Diria que há 10, 20 anos, talvez, a questão das mulheres era levantada, sobretudo, por mulheres, mas hoje em dia ela é levantada e manifestada também pelos homens”, realça a religiosa, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A nomeação do Papa Francisco, anunciada em fevereiro, mostra “algo de novo”, segundo a responsável, sublinhando que a Igreja tem possibilidade de mudar e “muda”, efetivamente.

“Se a Igreja se move, todas as instituições têm a possibilidade de mover-se”, realça a irmã Nathalie Becquart.

A decisão do Papa foi apresentada pelo Vaticano como um contributo em favor de uma Igreja mais sinodal e missionária, abrindo novos caminhos para a participação das mulheres nos processos de discernimento e decisão eclesial.

A religiosa é a primeira mulher a ter a possibilidade de participar, com direito a voto, numa assembleia do Sínodo dos Bispos, que reúne representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, por iniciativa do pontífice.

A subsecretária do organismo assinala que existe “uma grande aspiração a ter igualdade entre homens e mulheres”, a nível mundial, com relações de “cooperação” e de valorização da diferença.

Nathalie Becquart mostra-se “impressionada” com o impacto mediático da sua nomeação e com as mensagens que chegaram de todo o mundo, “não só de mulheres”, incluindo crentes de outras religiões.

“Este gesto não chega de repente, há uma história”, observa, destacando que o Papa respondeu a um pedido que “vem do terreno”.

A entrevistada recorda que o Sínodo sobre os jovens, de 2018, e o Sínodo especial para a Amazónia, de 2019, deixaram clara a vontade que as mulheres estejam associadas aos “processos de decisão” na Igreja Católica.

Foto: internationalunionsuperiorsgeneral.org

Questionada sobre a instituição do novo ministério de catequista e o alargamento dos ministérios de leitor e acólito às mulheres, a subsecretária do Sínodo considera que são sinais da vontade de construir uma Igreja “ministerial”, com sentido alargado e responsabilidade e novo estilo de “liderança”.

“Uma liderança de serviço” e mais colaborativa, realça, traduzindo também a dinâmica da sinodalidade, em que os ministros não são vistos “fora ou acima da comunidade”.

A religiosa sublinha a necessidade de uma “antropologia relacional” em que todos se situem “na interdependência e na reciprocidade”.

“A missão não está reservada a alguns, que foram ordenados ou são religiosos”, adverte.

Francisco, prossegue a entrevistada, propõe uma Igreja “mais sinodal e menos clerical”, mais à imagem das comunidades dos primeiros séculos.

“Uma Igreja onde todos são atores, onde todos caminham em conjunto”, precisa a irmã Nathalie Becquart.

A religiosa sublinha que a sinodalidade é uma dimensão “constitutiva” da Igreja, que é preciso experimentar, para gerar comunidades missionárias e ao serviço ao bem comum.

“Não é, em primeiro lugar, uma questão de organização interna, mas é para a missão de hoje, para servir este mundo”, indica.

A responsável admite que esta mudança implica um processo “espiritual de conversão”, para vincar a dimensão “comunitária” na vida em Igreja.

“A sinodalidade é sempre missionária, está sempre orientada para o serviço de todos, o diálogo com o mundo. Assumo também o desafio do diálogo inter-religioso, do diálogo ecuménico, com o mundo político, o mundo económico. Isso também faz parte desta dinâmica sinodal”, conclui.

OC

A irmã Nathalie Becquart ocupou vários cargos na área de Marketing e na formação de jovens, tendo sido diretora espiritual da Rede Inaciana da Juventude em França, coordenadora nacional do programa de escutismo para jovens em áreas urbanas pobres e multiculturais.

Entre 2012 e 2018 foi diretora do Serviço Nacional para a Evangelização da Juventude e das Vocações na Conferência Episcopal Francesa.

Desde 2016, foi muito ativa na preparação do Sínodo da Juventude, no Vaticano, decorrido em 2018, como coordenadora geral do pré-sínodo e depois como auditora.

Em maio de 2019 foi nomeada consultora da Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispo,s pelo Papa Francisco, e em fevereiro deste ano como subscretária do Sínodo.

A religiosa assinala à ECCLESIA que estes têm sido meses “intensos” de trabalho, que implicaram “uma grande mudança”, e que procura “tecer laços” com as pessoas, desde o Vaticano.

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Agência ECCLESIA

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