Igreja Patriótica chinesa reage com cautela à excomunhão dos seus Bispos

A Associação Patriótica Católica (APC) da China mostrou-se muito cautelosa perante a excomunhão automática em que incorreram os seus novos bispos ordenados e aqueles que os ordenaram sem consentimento do Papa. Este facto era lembrado, ontem, no comunicado que dava conta da reacção oficial da Santa Sé perante as cerimónias promovidas pela APC à margem de qualquer negociação com a Igreja Católica. “Não conheço os detalhes da notícia. Não posso dar a minha opinião sem saber de todos os aspectos”, disse à agência EFE Liu Bainian, vice-presidente da APC, subordinada ao governo de Pequim e independente da Santa Sé. As ordenações não autorizadas dos dois bispos, realizadas dia 30 de Abril 3 de Maio foram consideradas como “uma grave violação da liberdade religiosa”, referia o comunicado apresentado pelo porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls. Bento XVI “recebeu a notícia (das ordenações, ndr) com profundo desagrado, pois um acto tão relevante para a vida da Igreja como uma ordenação episcopal foi levado a cabo, em ambos os casos, sem respeitar as exigências da comunhão com o Papa”, podia ler-se. Essas duas ordenações representam “uma grave ferida à unidade da Igreja e, para isso, como se sabe, estão previstas severas sanções canónicas”, esclareceu Navarro-Valls. O Código de Direito Canónico prevê a excomunhão do Bispo, que sem mandato pontifício, conferir a alguém a consagração episcopal e também daquele que é consagrado (Cân. 1382). O porta-voz da APC, com cinco milhões de fiéis, atribuiu as nomeações à necessidade de solucionar o problemas das dioceses vacantes, já que “das 97 dioceses da China, 44 não têm bispo”. “É necessário divulgar a palavra de Deus. Não podemos esperar a evolução das relações entre a China e o Vaticano”, disse ainda, apesar de ter desmentido as informações que circulam sobre a ordenação de mais 20 bispos da APC. A China e o Vaticano romperam relações diplomáticas em 1951, quando dois bispos nomeados unilateralmente pelo regime comunista foram excomungados. Em resposta, o Núncio Apostólico foi expulso do país e mudou-se para Taiwan. Embora o Partido Comunista Chinês se declare oficialmente ateu, a Constituição chinesa permite a existência de cinco Igrejas oficiais (Associações Patrióticas), entre elas a Católica, que tem 5,2 milhões de fiéis. Segundo fontes do Vaticano, a Igreja Católica “clandestina” conta mais de 8 milhões de fiéis, que são obrigados a celebrar missas em segredo, nas suas casas, sob o risco de serem presos. Alguns sacerdotes católicos de Pequim, Xangai, Hebei, Shaanxi e Heilongjiang manifestaram ontem o seu alívio perante a reacção do Vaticano, que fixou com clareza os limites que está disposto a aceitar nas negociações. “Se o Vaticano não tivesse falado, a Igreja Católica corria o risco de ser engolida pela Igreja Patriótica”, disseram, citados pela agência católica AsiaNews. A questão de fundo reside, precisamente, no heroísmo dos fiéis da Igreja que, na China, permanecem fiéis ao Papa e a Roma. Vários contactos informais têm sido desenvolvidos desde que Bento XVI sucedeu a João Paulo II, fazendo do estabelecimento de relações diplomáticas com a China uma das suas prioridades, algo que a APC vê como um perigo para a organização. A chave de solução poderá estar no processo de nomeação de Bispos para a China, mas nunca desautorizando a Santa Sé. Qualquer cedência perante os homens do regime chinês poderia ser mal interpretada por todos aqueles que, ao longo de décadas, sofreram perseguição, foram presos ou enviados para “campos de reeducação”, celebrando às escondidas com receio das autoridades. Um caso semelhante aconteceu no pontificado de João Paulo II, com a comunidade greco-católica da Ucrânia, que sobreviveu na quase completa clandestinidade à repressão comunista na URSS. Apesar de saber que, ao acolher estes católicos, estaria a criar hostilidade duradoura junto da Igreja Ortodoxa da Rússia, nunca o Papa polaco sacrificou os chamados “uniatas” à negociação com Moscovo – abrindo um capítulo que ainda hoje é, provavelmente, o principal pomo de discórdia entre as duas Igrejas.

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