Covid-19: Paróquia portuense já serviu 23 911 refeições com projeto «Porta Solidária», desde março

«Depois de se levantar o Estado de Emergência, a fome aumentou» – Padre Rubens Marques

Foto: Presidência da República/Lusa

Porto, 19 mai 2020 (Ecclesia) – O pároco da Senhora da Conceição, responsável pelo Projeto ‘Porta Solidária’, no Porto, afirmou hoje que “a fome aumentou”, depois do levantamento do Estado de Emergência e informou que serviram mais de 23 mil refeições, entre 12 de março e 18 de maio.

“A nossa média de 2019 eram 160 pessoas por dia; desde 12 de março até ao dia 18, já tínhamos servido 23 mil 911 refeições. Abrimos este serviço em 2009, na altura da crise económica, o pico em número de pessoas que procuravam refeição foram 60 mil num ano; se compararmos com esse pico, agora estamos num muito maior”, disse o padre Rubens Marques em declarações à Agência ECCLESIA.

Esta segunda-feira, o padre Rubens Marques foi recebido pelo presidente da República, no Palácio de Belém, e considerou que o chefe de Estado “está muito sensibilizado pelo aumento da pobreza”, procurando perceber, “através de números, como é que aumentou a necessidade de alimentação”.

“O Senhor presidente consegue colocar este assunto na agenda jornalística, na agenda política. Sensibiliza os governantes, as autoridades, a opinião pública para estas causas em que é preciso agir, não só em forma de emergência, como nós, mas de modo estrutural. Pensar como fazer com que a pobreza em Portugal não tenha estes picos que a façam baixar do limiar da pobreza”, explicou o sacerdote, que se revelou “surpreendido” por Marcelo Rebelo de Sousa “querer saber da resposta concreta ‘Porta Solidária’”.

O padre Rubens Marques alerta que “depois de levantar o Estado de Emergência, a fome aumentou” porque algumas famílias “ainda tinham alguma reserva de dinheiro”, mas com empresas em lay-off e o desemprego, “já gastaram as poucas reservas que tinham e começam a ter necessidade de alimentação”.

Infelizmente a fome vai aumentar devido a vários fatores, como o desemprego, os empregos precários, empregos sem vínculo – muitos jovens ligados à restauração, ao turismo, às cabeleireiras, à manicura, vários serviços nos ginásios, muitos ligados à entrega de comida, senhoras ligadas a limpezas de alojamentos locais e edifícios, entre tantas formas novas de pobreza que se geraram, com a pandemia”.

O Projeto ‘Porta Solidária’, da Paróquia de Senhora da Conceição, na Diocese do Porto, todos os dias, serve o jantar em regime de take-away: as pessoas levam duas embalagens com “uma refeição quente e meio de litro de sopa, além de um kit com três sandes, dois iogurtes, três peças de fruta e um bolo”.

Foto: Lusa

Segundo o sacerdote, “os voluntários continuam a dizer presente”, com “alguns agora a adaptar o voluntariado ao horário de trabalho que passou a ser presencial”, e têm dois turnos por dia, o primeiro com oito pessoas das 15h00 às 16h30, e o segundo com cerca de 25 pessoas, entre as 17h00 e as 20h30.

O padre Rubens Marques destaca que “tem acontecido uma verdadeira multiplicação dos pães” com o Projeto ‘Porta Solidária’ a receber “muitas ofertas sobretudo de particulares, de grandes empresas, da sociedade civil, das rondas (carrinhas) que tinham deixado de sair”, dos hotéis, e “uma grande ajuda, uma grande contribuição de outras confissões religiosas” que tem sido “um grande sinal de Deus porque a caridade aproxima, a caridade não divide”.

“Nós ficamos espantados com as famílias tão generosas que vêm aqui. Aos sábados é muito habitual termos cinco carros à espera para descarregar ofertas. Há particulares que recolhem através de familiares, amigos, vizinhos e trazem”, salientou.

O pároco da Igreja de Senhora da Conceição adianta que no Porto, neste momento, “começa a haver mais ajuda, sobretudo em relação à população sem-abrigo” porque já estão no terreno “12 das cerca de 30 rondas” que distribuem alimentação à noite.

O entrevistado destaca também a resposta da Câmara Municipal no Hospital Joaquim Urbano que, “para além de camas de emergência, tem também o restaurante solidário” e a ‘Casa Mãe Clara’ das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição que “fornece o almoço”, na Casa de Saúde da Boavista.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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