Dominicanos: «Futuro da congregação está em participar na reforma da Igreja Católica» – Frei Bento Domingues

Província Portuguesa assinalou hoje na Serra do Montejunto os 800 anos da chegada dos primeiros irmãos religiosos ao país

Foto Agência ECCLESIA/HM

Cadaval, 05 mai 2018 (Ecclesia) – Os dominicanos estão a assinalar esta sexta-feira 800 anos de presença em Portugal com uma visita guiada às origens da congregação, junto à Serra do Montejunto, e um encontro de reflexão intitulado ‘Em busca das Raízes’.

Em entrevista hoje à Agência ECCLESIA, o frei José Manuel, do Instituto São Tomás de Aquino, responsável pela organização destes eventos, destacou a importância de vir a um “lugar” que diz muito a esta ordem religiosa, e onde terá sido construído o primeiro mosteiro dominicano no país.

Aquele responsável reconhece que tem subsistido “situações de dúvida” quanto ao local desse primeiro mosteiro, “porquê no Montejunto, porquê numa zona tão isolada”.

Mas aponta um das “razões fortes” que sustentam a possibilidade dessa primeira estrutura ter sido criada neste local.

Isto pouco tempo depois da Ordem de S. Domingos ter sido confirmada, em 1216, e contado com os primeiros dominicanos portugueses.

O facto de estarmos a falar de um lugar, a Serra do Montejunto, que historicamente sempre teve “um culto mariano” e por isso “uma zona que, mesmo sendo isolada, chamava as pessoas e podia assim ser um centro de pregação”, salientou o frei José Manuel.

Durante esta manhã, religiosos dominicanos de Portugal e de outros paises, como Angola e Timor, mas também leigos, investigadores, representantes da autarquia do Cadaval e outras pessoas interessadas acompanharam uma visita às ruínas, orientada por João Ludgero, daquela que terá sido a primeira casa da congregação em Portugal.

Esta tarde vai decorrer ainda um colóquio dedicado a este tema, para lançar mais luz sobre esta matéria, que contará com a participação de frei Bento Domingues, do Instituto São Tomás de Aquino, que trará uma conferência sobre os ‘Dominicanos: Ontem e Hoje’.

Foto Agência ECCLESIA/HM, Frei Bento Domingues

Sobre as origens da Ordem em Portugal, o frei Bento Domingues realçou as evidências que apontam para uma primeira presença “em Santarém”, embora também existam indicações de que ela tenha começado no Montejunto, ao que “consta” por impeditivos “de ordem real”.

“Eu acho um bocado raro, estranho, no cimo de um monte assim, mas foi precisamente para acusar que aqui não era para ficar, que aqui era para andar para Santarém”, sustentou.

No entanto, acrescentou o religioso de 83 anos, “a história longa é uma história de zigue-zagues” e o essencial é estar em causa uma congregação que “ligou o estudo à pregação” como forma de “ajudar as pessoas”.

“E eu creio que todas as vezes na história destes 800 anos em que o estudo preparou a pregação, dentro da oração claro, foram momentos extraordinários”, sublinhou o frei Bento Domingues.

Sobre o presente e o futuro dos Dominicanos, aquele responsável fez votos de que a congregação continue com o mesmo espírito empreendedor que a fez nascer, e que motivou “a sua ida para a Ásia, para a África” e para outras realidades mais próximas e mais remotas.

“A vida continua. Por todo o lado a Ordem está com problemas de antiga e de renascimento em muitos sítios, até em sítios em que se pensava que nunca mais iria haver nada, está num surto de crescimento. E a mim isso dá-me muita alegria”, confidenciou o religioso.

O frei Bento Domingues considerou ainda essencial que os dominicanos “participem na reforma da Igreja Católica”, que não deixem abafar mas “ajudem e secundem o trabalho que tem sido feito pelo Papa Francisco”, sobretudo no anúncio do “Evangelho da Alegria” às pessoas.

“Mas para o fazerem, têm em primeiro lugar de se auto-reformar a eles”, apontou o membro do Instituto de São Tomás de Aquino, considerado um dos maiores teólogos portugueses, que alertou que “sem investigação teológica, sem investigação das ciências humanas, sem o casamento da filosofia, das ciências humanas e todas as ciências e a teologia, não há futuro para a reflexão cristã”.

A presença dos primeiros dominicanos em Portugal data de 1218 mas a Província Portuguesa da Ordem de S. Domingos foi instituida em 1418, pelo que a congregação também está a assinalar essa data especial dos 600 anos.

Nesse contexto, vai decorrer nos dias 9 e 10 de outubro um colóquio virado para o futuro desta comunidade religiosa, que perspetivará não só o trabalho a realizar no país mas também em outros territórios, como África e todo o Oriente.

HM/JCP

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Agência ECCLESIA

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