37.º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos

Promovido pela Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) em parceria com o Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana e Caritas de Beja, presidido por D. António Vitalino Fernandes Dantas, Bispo de Beja e Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Beja, Dr. Jorge Pulido Valente, na Sessão de Abertura, realizou-se, de 19 a 21 de Novembro de 2010, o 37º Encontro Nacional da Pastoral dos Ciganos, no Centro Pastoral do Seminário Diocesano de Beja. O Encontro contou com a presença de cerca de 50 participantes das Dioceses de Aveiro, Viana do Castelo, Porto, Portalegre-Castelo Branco, Lisboa, Setúbal e Beja, assim como dos membros da direcção nacional da ONPC, técnicos da Caritas de Beja, alguns ciganos e esteve aberto à participação da comunidade e de outras pessoas interessadas.

Da temática tratada, da riqueza de partilha entre os participantes e do contacto com a realidade cigana do Bairro das Pedreiras de Beja, os participantes chegaram às seguintes conclusões:

 

1 – Apesar das resoluções e recomendações existentes no país, com vista a proteger os direitos fundamentais dos ciganos, e das diversas iniciativas com vista à sua inclusão social, assim como das orientações da doutrina da Igreja nesse sentido, muitos são ainda objecto de actos de anticiganismo, discriminação racial e xenofobia, que criam obstáculos a uma integração e aceitação na sociedade e na Igreja.

2 – É necessário promover uma abertura à escuta dos anseios e desejos do povo cigano, a fim de que as soluções para a sua inclusão social e eclesial sejam soluções integradoras, que não piorem a situação de exclusão e marginalização em que se encontram, de que é exemplo o realojamento do Bairro das Pedreiras em Beja e outras situações semelhantes no país.

3 – No contexto do “Ano Europeu de luta contra a pobreza e a exclusão social”, constata-se que uma mudança é possível. A pobreza e a exclusão social não são inevitáveis, se forem enfrentadas com o empenho de todos, e se forem criadas condições capazes de oferecer soluções para erradicar a desfavorável situação social e económica dos ciganos. Um passo importante é a luta contra a discriminação no acesso ao emprego e à habitação.

4 – Os verdadeiros protagonistas da integração social e cultural dos ciganos são eles próprios. A escolarização dos jovens é o primeiro meio de promoção e integração. É indispensável favorecer uma escolarização de qualidade dos ciganos menores, pelo menos até completarem a escolaridade obrigatória, assim como apoiar a formação profissional e os estudos superiores e universitários dos jovens.

5 – A missão dos operadores pastorais entre os ciganos não se limita somente ao seu cuidado espiritual e ao apoio social, exige, também, um esforço de formação e sensibilização, dos membros da Igreja e da sociedade naquilo que se refere a opiniões e preconceitos sobre esta população. Tal esforço deve ser orientado, sobretudo, para aqueles que exercem influência sobre outros, em particular os meios de comunicação social.

6 – A Igreja tem um papel importante na promoção, apoio e defesa dos direitos dos indivíduos e dos grupos ciganos perante as diversas instituições locais, nacionais e internacionais. Do mesmo modo, a Igreja é chamada a empenhar-se em sanar a chaga do anticiganismo amplamente difundido na sociedade, com manifestações muitas vezes violentas e dramáticas.

7 – A presença evangelizadora da Igreja entre os Ciganos leva a constatar que estes, em geral, são muito religiosos e que a fé faz parte da sua vida e da sua cultura. Muitas vezes esses expressam as suas crenças e percursos religiosos com os valores que lhes são próprios, como por exemplo, no campo familiar e na relação com os idosos. A importância e o valor da família torna-se, particularmente evidente, no forte apoio recíproco e na solidariedade dos seus membros em casos de doença, preocupações ou luto.

8 – A celebração da fé, no seio da comunidade cigana, deve ser promovida segundo a sua sensibilidade e cultura, daí a importância de promover um conhecimento dos seus ritos, tradições e cultura, assim como, procurar na nossa fé o que pode ir ao encontro da sensibilidade sua religiosa. A valorização da cultura cigana, como por exemplo, a música, ajudará a promover o sentido de pertença. Também é importante promover o encontro ecuménico com as Igrejas que trabalham no seio da comunidade cigana.

9 – O testemunho, vivido como presença, participação e solidariedade, é um factor importante de pastoral, assim como é o ir ao encontro dos ciganos à luz do Evangelho, superando preconceitos, medos e percepções estereotipadas, mitos e justificações: a pessoa não é boa por natureza ou estatuto, da mesma forma que não é má por nascimento ou por pertencer a determinada etnia.

10 – O acolhimento nas comunidades paroquiais deve ser feito por pessoas devidamente preparadas. A Igreja tem o dever de investir nos ministérios de hospitalidade, nomeadamente a favor dos Ciganos. Um caminho sugerido é a realização, nas paróquias, de um ministério, não ordenado, de hospitalidade e acolhimento. O acolhimento oferecido pela Igreja deve estar integrado na acção pastoral, bem ponderada e autêntica, comunicada com calor e afecto. A pessoa ou a família cigana deve perceber a atitude de acolhimento, de respeito e amizade, que lhe é oferecida.

11 – As relações de amizade interpessoais promovem a confiança mútua. Trata-se de relações baseadas no respeito recíproco, no conhecimento pessoal, no acolhimento e no reconhecimento das diferenças de identidade. Neste âmbito, é oportuno difundir e promover o conhecimento da figura e das virtudes do beato cigano Zeferino Giménez Malla, apresentando-o como modelo de santidade, conquistada através da doação da própria vida para defender o seu amigo.

12 – Torna-se um imperativo para os cristãos começar a olhar o mundo dos ciganos com amor, conscientes de que até agora não se tem sido suficientemente capazes de fazê-lo, do mesmo modo que, à luz do Evangelho, são chamados a interiorizar e a recordar que os Ciganos são irmãos e irmãs em Cristo e que a persistente segregação que estes sofrem, é sofrida pelo próprio Cristo.

13 – O trabalho dos “Mediadores Ciganos”, nas escolas, autarquias, hospitais…, é indispensável para a inclusão dos ciganos, para que possam aceder aos direitos que a sociedade lhes oferece e para os ajudar a cumprir os deveres que têm para com a sociedade. É importante que se promova a presença dos mediadores em todos os campos da sociedade como também nos serviços prestados pela Igreja.

14 – Encorajamos os esforços para alargar, o mais possível, o trabalho de rede sobre o território a favor dos ciganos, envolvendo as autarquias e entidades locais, as instituições, as escolas, as comunidades cristãs, as associações, o voluntariado… Todos são chamados a desenvolver as suas competências e responsabilidades, não de modo isolado, mas valorizando, o mais possível, as sinergias que nascem da colaboração, das ideias, da criatividade e, sobretudo, da boa vontade.

15 – O Encontro de 2011 será acolhido pelo Secretariado da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, e realizar-se-á de 18 a 20 de Novembro.

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