«Zoom in»: Património religioso a visitar na Guarda (c/vídeo)


Igreja de São Vicente

Documentada desde o século XIII a Igreja de São Vicente nada preserva do templo medieval. O edifício é uma reconstrução do final do século XVIII, sob o mecenato do prelado episcopal, D. Jerónimo Rogado do Carvalhal e Silva. No exterior do templo destaca-se o portal sobre o qual se encontra colocada a pedra de armas do responsável pela reedificação. No interior da igreja, à tonalidade aurifulgente da talha, executada no século XVIII, contrapõe-se a sobriedade cromática da série de painéis de azulejos figurados setecentistas, onde se expõem cenas da Paixão de Cristo, na capela-mor, e cenas da vida de Nossa Senhora no corpo da igreja. Estes painéis azulejares são atribuídos a Salvador de Sousa Carvalho (ca. 1727-1810), artista nascido em Lisboa, uma figura marcante na produção azulejar coimbrã da segunda metade de setecentos. Os painéis, na sua dimensão maior, ao centro, atingem os 26 azulejos de altura e são envolvidos por uma densa e exuberante decoração, animados por concheados volumosos e sinuosos rococós, com pintura em tons de azul mais carregado na cercadura e mais ténue ao centro, avivados, no enquadramento, com marmoreados amarelos e manganês, aparecendo, na parte superior a compor todo o conjunto, “coroamento de flores e folhagens verdes de cobre”[1]. Na parte inferior, uma cartela, tipicamente rococó, centra toda a composição.

Capela-mor

Os painéis desenrolam-se segundo uma sequência lógica.

  • Flagelação
  • Símbolos da Paixão – no lado do Evangelho e da Epístola
  • Coroação de espinhos
  • Pilatos e Cristo – Ecce Homo
  • Queda de Jesus no caminho do Calvário
  • Porta em Tromp l’oeil

Corpo da igreja

No corpo da igreja, os painéis são idênticos aos da capela-mor, atingindo em altura 26 azulejos com o mesmo tamanho.

Repetem, nos enquadramentos que envolvem as partes decorativas, os mesmos elementos concheados de contorno irregular. A parte figurativa é de temática mariana e podemos observar:

  • Nossa Senhora apresentada no Templo
  • Casamento de Nossa Senhora
  • Anunciação
  • Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel
  • Nascimento de Jesus
  • Adoração dos Magos
  • Fuga para o Egipto
  • No Batistério: O batismo de Jesus, São Francisco e São Jerónimo

Capela do Batistério

O batistério da Igreja de São Vicente surge como um edifício independente, de planta centralizada e com a pia batismal em pedra elevada sobre uma coluna. O batistério também tem cerca de 390 azulejos do mesmo tipo, com a representação do Batismo de Cristo. No batistério, ainda, e interrompendo o painel de azulejos do lado esquerdo, onde se vê representado São Jerónimo, um dos patronos do bispo construtor, lê-se a seguinte legenda, coeva da edificação:

“IN HOC BAPTISTERIO NOMEN ACCEPIT
HIERONYMUS EPISCOPUS EGITANIENSIS
CUJUS OPE ECCLESIA ISTA AFUNDAMENTIS
REEDIEICATA FUIT ANNO
MDCCLXXXX”

NESTE BATISTÉRIO RECEBEU O NOME JERÓNIMO
BISPO DA GUARDA, A CUJAS ESPENSAS ESTA IGREJA FOI REEDIFICADA DESDE OS FUNDAMENTOS
NO ANO DE 1790

 

Igreja de São Vicente
Localização: Guarda, Rua Francisco dos Passos
Tutela: Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de São Vicente

[1]SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 78.

 

Igreja Matriz de Vinhó

O Convento da Madre Deus foi mandado edificar em 1567 pelo cavaleiro Francisco de Sousa e sua mulher, Dona Antónia, para recolhimento de Freiras Clarissas. Do primitivo templo subsiste a igreja de nave única e o portal lateral que era o primitivo acesso à entrada principal da igreja, utilizado pelas clarissas, e sobre o qual foi colocado a pedra de armas dos fundadores. No interior, assistimos à integridade entre a talha e a pintura de caixotão, sendo a abóbada da nave o prolongamento dos retábulos de Estilo Joanino e a abóbada da capela-mor o prolongamento do retábulo de Estilo Nacional. O retábulo do Evangelho recebe uma pintura do século XVI (?). O arco triunfal é totalmente revestido a talha, tendo no fecho as insígnias da Ordem Franciscana: dois braços estigmatizados o da dextra sobreposto e nu, o da sinistra sotoposto e vestido de “burel”. Aquelas armas têm origem na bênção dada por São Francisco na hora da sua morte aos frades que haviam aderido ao seu modo de vida; naquele momento o Santo cruzou os braços e estendeu por cima deles a cruz assim formada, benzendo-os a todos, presentes e ausentes, em poder e nome de Cristo. “O braço nu alude pois a Cristo, em cujo nome se realizou a bênção por intermédio de Francisco, e encontra-se sobreposto para assinalar a Sua primazia. O braço vestido de burel identifica o santo fundador da Ordem, uma vez que este tecido havia sido escolhido para a composição do respetivo hábito em sinal de despojamento, de humildade e de sacrifício, pois tratava-se do tecido mais rude, mais barato e menos confortável. Ambos os braços apresentam mãos com chagas: a de Cristo alude naturalmente à crucificação; a de Francisco aos estigmas.”[1]. Os caixotões executados no final do século XVII foram pintados com narrativa hagiográfica e bíblica. No interior da igreja encontramos, ainda, a Capela do Menino Jesus da Tia Baptista “[…] FEITA DAS ESMOLAS DOS DEVOTOS E DA DIVISA O MENINO JEZUS DA TIA BAPTISTA DO CEU NO ANNO DE 1773.” Esta capela é decorada com retábulo de talha e painéis azulejares setecentistas, onde se expõem cenas da vida de Nossa Senhora e do seu Filho – a Anunciação, o Nascimento de Jesus, a Adoração dos Reis Magos e a Circuncisão, referida no Evangelho de Lucas (Lc 2, 21).

 Localização: Gouveia, Vinhó, Adro do Convento.

Tutela: Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Vinhó.

[1] http://www.academia.edu/7840267/Her%C3%A1ldica_franciscana [consultado a 7 julho 2021].

 

 

Santuário de Nossa Senhora do Desterro

Segundo a tradição o aparecimento, em diferentes locais, das imagens da Virgem, de São José e do Menino Jesus, deram origem à construção do Santuário de Nossa Senhora do Desterro formado por dez capelas edificadas entre o século XVII e XIX. Este santuário, considerado o mais célebre das terras beirãs, ergue-se a cerca de 80 metros de altitude, num local aprazível e de particular beleza natural.

A Capela de Nossa Senhora do Desterro edificada no século XVII foi totalmente reconstruída e ampliada entre o final do século XVIII e início do século XIX. O exterior do edifício é animado por vários elementos de cantaria e o interior da capela é dinamizado pela presença de mobiliário litúrgico, que permite centrar nela as principais festividades, com o recurso à teia comungatória, ao púlpito e ao coro-alto. Os retábulos laterais são tardo-barrocos.

A Capela de Nossa Senhora dos Prazeres ou dos Doutores é a mais peculiar das edificações. No que se refere à temática encontramos eco nas palavras de Lucas: “[o]s pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. Terminados esses dias, regressaram a casa e o Menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. Pensando que ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procura-Lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos os quantos ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: “Filho porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura!”. (Lc 2,41-48). O episódio encontra-se materializado num conjunto de esculturas de dimensões avultadas.

Na Capela da Anunciação encontra-se representado o episódio em que o anjo Gabriel é enviado por Deus, à cidade de Nazaré, com o objetivo de informar a Virgem que irá dar à luz um Filho. Na Capela da Apresentação narra-se o episódio da Apresentação do Menino Jesus no Templo. Na Capela de Jesus no Horto ou Capela da Agonia  narra-se, segundo o Evangelho de Lucas, a Oração de Jesus no Monte das Oliveiras onde: “[…] vindo do céu, aparece-lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais intensamente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíram na terra” (Lc 22 ,43). Na Capela do encontro representa-se a IV Estação da Via-Sacra – Jesus encontra Sua Mãe. Na Capela do Calvário está representada a XI Estação da Via-Sacra – Jesus é cravado na Cruz. Na Capela de Nossa Senhora da Piedade encontra-se representada a XIII Estação da Via-Sacra – Jesus é retirado da cruz. Do santuário fazem ainda parte a Capela de Nossa Senhora das Dores e a Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem.

 

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