1º de Maio: «Há mulheres que negoceiam as licenças de maternidade» para manter o posto de trabalho

Maria das Neves, dirigente da LOC/MTC, mãe e professora longe da família lembra «um direito que foi conquistado com muito esforço» e é agora «muito relativizado»

Lisboa, 01 mai 2022 (Ecclesia) – A professora e coordenadora da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos na Diocese do Porto afirmou que “há mulheres que negoceiam as licenças de maternidade” para manter o posto de trabalho.

Na entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, Maria das Neves Jesus partilhou as condições em que é professora do primeiro ciclo, longe dos filhos “toda a semana”, e alertou para a necessidade de cada mulher defender o direito à licença de maternidade.

“Conheço situações – e eu não concordo com elas porque isso então é um retrocesso – em que há mulheres que negoceiam as licenças de maternidade e, portanto, não as gozam. Ou melhor, gozam, mas depois, na prática, não gozam porque o telemóvel continua a tocar, os e-mails continuam a tocar”, afirmou.

A dirigente da LOC/MTC lembrou “um direito que foi conquistado com muito esforço” e é agora “muito relativizado” para salvaguardar o “posto de trabalho” no regresso ao emprego

“Continua-se a trabalhar para não correr o risco de, quando se chegar lá, quando acabar os quatro ou cinco meses, termos outra pessoa no nosso lugar. É tão simples quanto isso”, afirmou.

Maria das Neves Jesus é de Santa Maria da Feira, na Diocese do Porto, e, agora com 43 anos, fez a opção por voltar à escola, sabendo que teria por consequência deixar os filhos e o marido longe, uma vez que é professora do primeiro ciclo nas Caldas da Rainha.

“Passo a semana toda fora da minha família: ao domingo venho no comboio, à noite, e regresso na sexta-feira, ao final da tarde”, lamentou.

A professora considera que, nas atuais circunstâncias, conciliar a vida familiar com a vida profissional é “um desafio grande” porque os filhos e o marido “ficam toda a semana sem a mãe” e a mãe fica sem os filhos e o marido.

“Emocionalmente é um bocadinho complicado”, afirmou, lembrando também o custo efetivo do trabalho longe da família.

Maria das Neves disse que, nos vários setores laborais, “não há a preocupação por saber se a trabalhadora é mãe, se tem filhos pequenos”

“As condições do mercado de trabalho são estas e nós aceitamos ou não! É uma escolha pessoal. Nunca está em cima da mesa a conciliação da vida familiar com a vida profissional”, sublinhou.

A coordenadora da LOC/MTC na Diocese do Porto e antiga coordenadora nacional da JOC (Juventude Operária Católica), disse também na entrevista semanal Renascença/Ecclesia que a Liga Operária Católica tem de “olhar para realidades novas” que são um novo tipo de exploração, nomeadamente a “questão do burnout, do desgaste físico e psicológico a que as pessoas estão sujeitas, até pessoas com muita qualificação”.

“O cumprimento de prazos, a constante necessidade de dar resposta a alguma coisa, os telemóveis que têm de estar constantemente ligados porque este vai telefonar… Há uma série de realidades que neste momento já não são realidades da fábrica”, afirmou.

Maria das Neves homenageou também as “mães coragem” da Ucrânia que fugiram da guerra com os seus filhos, nomeadamente as que encontraram acolhimento em Portugal.

Henrique Cunha (Renascença) e Paulo Rocha (Agência ECCLESIA)

PR

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