Zâmbia: ver Deus na precariedade da vida

Missionário português fala da sua experiência junto das populações desfavorecidas naquele país africano

“O serviço, a entrega ao outro, a capacidade de caminhar junto com o irmão que sofre e com ele descobrir Deus, dão um sentido à vida que não se encontra na satisfação imediata das nossas necessidades (ou caprichos) egoístas”.

É assim que o padre Horácio Rossas começa por definir, em entrevista à agência ECCLESIA, o que significa para si ser missionário.

Natural do Bairral, uma pequena aldeia a 7 quilómetros de Lamego, o sacerdote recorda que “foi este forte desejo de ajudar os outros” que o levou a entrar no Seminário dos Combonianos, em 1982, com 19 anos de idade.

A sua vocação tem sido fortemente marcada pelo trabalho junto das populações mais desfavorecidas de África. Depois da sua ordenação sacerdotal, colaborou em obras no Quénia, em 1989, e no Sudão, em 1995.

“Aprendi a conhecer Deus na precariedade da vida, nas dificuldades do dia-a-dia, no perigo constante, mas sobretudo na certeza da Sua presença amiga e protectora”, sublinha o missionário comboniano, que conviveu ao longo dos anos com os flagelos da guerra, da pobreza e da morte, procurando levar o Evangelho por entre essas realidades.

Na Zâmbia desde 2005, o sacerdote está actualmente a trabalhar como pároco de Lilanda, um aglomerado urbano constituído por bairros pobres, na periferia de Lusaka, com uma população a rondar as 80 mil pessoas, 20 mil das quais são cristãs.

“A missão comboniana aqui tem com objectivo específico o anúncio do Evangelho aos que o não conhecem ou não o conhecem suficientemente. Jesus Cristo é a Boa Nova da Salvação oferecida a toda a gente. Por isso, o serviço que procuramos prestar a esta Igreja local é no sentido de contribuir para a promoção e libertação integral desta gente pobre por quem Jesus morreu na cruz”, explica o padre Horácio Rossas.

Grande parte da população de Lilanda vive em situação de extrema pobreza, motivada sobretudo por uma elevada taxa de desemprego. A falência de muitas das fábricas da região tem deixado as famílias sem condições para satisfazerem sequer as suas necessidades básicas.

Para além desta realidade, “aqui a percentagem de pessoas infectadas com SIDA é altíssima e como resultado, o número de órfãos é enorme” sublinha o missionário comboniano.

De facto, a esperança média de vida é muito reduzida, já que quase metade da população local é constituída por jovens, com idades abaixo dos 30 anos.

No sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de vida destas pessoas, a missão comboniana de Lilanda tem em curso três projectos essenciais:

O primeiro diz respeito ao trabalho pastoral de assistência e formação das comunidades cristãs; o segundo, chamado “Twesheko”, que quer dizer “Tentemos”, é um projecto de saúde que dá assistência e apoio ao domicílio a seropositivos e suas famílias, servindo directamente cerca de mil pessoas; o terceiro consiste num plano educativo, para crianças órfãs e vulneráveis, através da Escola Comunitária de Lilanda.

Tratam-se de projectos que, de acordo com o padre Horácio Rossas, ganham alento através das pequenas vitórias do dia-a-dia.

“Quando, à noite, recordo as pessoas que encontrei durante o dia, e a alegria de uma velhinha doente que ficou extremamente feliz porque a visitei, mesmo se me sinto muitas vezes impotente perante tantas necessidades, vejo nessa alegria o sentido do meu serviço missionário”, realça.

Com o Dia Missionário Mundial já aí à porta – marcado para o próximo Domingo, dia 24 de Outubro – o padre Horácio Rossas considera a ocasião como uma oportunidade única para recordar a vocação missionária da Igreja.

“No fundo, pode criar-se uma maior sensibilização para a vocação missionária de cada cristão, tomando consciência de quanto falta ainda fazer para que a Boa Nova da Libertação de Jesus chegue ao coração de tanta gente (incluindo o nosso!)”, conclui o sacerdote.

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