XXXI Semana Nacional de Migrações

“Uma Só Família Humana” 1. Nas Comunidades portuguesas dispersas actualmente por 122 países, o Espírito de Deus chama cristãos – na sua maioria mulheres! – e pessoas de boa vontade para se comprometerem com a Missão da Igreja. Muitos emigrantes e lusodescendentes, enraizados em Jesus Cristo, são verdadeiros missionários da “universalidade” do Reino e fazedores corresponsáveis do diálogo entre valores familiares e culturais. Uns, só em terra estrangeira descobrem que Deus não faz acepção de pessoas e ama toda a nação que o teme e pratica a justiça (Act. 10, 34-35). Outros, marcados pela “memória de sofrimento” causada pelo racismo sempre latente, discriminação social e nacionalismo xenófobo de que são frequentemente alvo, tornam-se artífices de paz e de unidade da única família humana. 2. A crescente presença de comunidades imigrantes, desde há 3 décadas, entre nós permanece um dos maiores desafios à Igreja no que concerne a sua abertura mental, a qualidade do seu acolhimento solidário e mútuo, o dever da partilha na reciprocidade dos dons, vocações e ministérios. Sente-se que algo de novo está a nascer na consciência das comunidades cristãs. Há sinais positivos de que se vai ultrapassando a fase da “de-missão” que, a nosso ver, caracterizou a relação difícil de muitos portugueses com africanos, brasileiros ou emigrantes regressados. As comunidades imigrantes – e foram os europeus do Leste que mudaram o paradigma da relação com o estrangeiro! – querem ser reconhecidas como irmãs a partir das suas diferenças culturais, linguísticas e religiosas. Sê-lo-ão ainda hoje, se entendermos que estas pessoas que vieram ou estiveram lá fora não estão aqui de passagem, mas fazem doravante parte integrante do nosso viver em sociedade, do nosso celebrar a fé na caridade que liberta e na actualização da “missão” que reconhece a dignidade de cada pessoa criada á imagem de Deus. 3. Uma comunidade (sub) urbana ou rural que não se esmera na prática do acolhimento aos recém-chegados – portugueses ou estrangeiros –, que ignora a vida concreta e a cultura das pessoas em interacção comunitária, que teima em não se solidarizar com as trágicas histórias de refugiados e de “ilegais”, não passa de um grupo que “privatiza” o seu natural impulso missionário, canoniza a “ex-comunhão” dos diferentes e anonimato dos mais pobres, abandona no adro os peregrinos de outras experiências de igreja. Enfim, segrega “irmãos e irmãs” da mesma família humana fragmentando assim a unidade e a beleza que Deus deseja e semeia na humanidade. Por isso, diz o documento pontifício, aprovado pelo saudoso Paulo VI e intitulado a “Igreja e as deslocações humanas” que este ano completa 25 anos: “a organização do acolhimento, na harmonia da caridade, incita as paróquias a serem cada vez mais comunidades, não agregados anónimos ou simples estação de serviço espiritual”. Pe. Rui Pedro, Director nacional da OCPM

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