Vila Real: Cáritas Europa acompanha projeto de apoio a reclusos da cáritas diocesana no estabelecimento prisional local

Pessoas com comportamentos aditivos e dependências são as destinatárias das sessões que todas as semanas têm lugar na cadeia onde são realizados trabalhos manuais e se trabalham competências de empregabilidade

Vila Real, 17 mai 2024 (Ecclesia) – A Cáritas Diocesana de Vila Real desenvolve, desde 2016, no estabelecimento prisional local, o projeto de reinserção social ‘Espaço Humanus 3G’ (3ªgeração), que leva os reclusos a trabalharem, todas as semanas, competências de empregabilidade e a realizarem trabalhos manuais.

“[O projeto] é dirigido a indivíduos com comportamentos aditivos e dependências. Com problemas ligados ao consumo de substâncias psicoativas, lícitas e ilícitas”, explica o vice-presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real, Carlos Martins.

O encontro desta semana decorreu esta quinta-feira, com a particularidade da visita da Comunidade de Prática (CdP) Prision Justice da Cáritas Europa, que realiza entre 15 e 17 de maio o encontro anual em Vila Real.

“Toda a delegação, todo o grupo realizou a visita ao estabelecimento prisional. Eles vêm de diferentes contextos. Temos presente a Cáritas Espanhola, Cáritas França, Cáritas da Bélgica, Alemanha, Lituânia e Moldova. Isto é, contextos prisionais muito, muito diferentes”, elucida Carlos Martins, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O vice-presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real dá conta que as delegações ficaram admiradas com a proximidade que existe com os reclusos e a “humanidade” em contexto prisional.

“Essa é a grande diferença que eles notam. Dizem que [lá] é tudo muito desumano, impessoal. Por exemplo, ficaram admirados pelo nosso estabelecimento prisional, os reclusos serem tratados pelo nome e as suas celas estarem identificadas pelo nome. Enquanto nos estabelecimentos prisionais o recluso não tem nome, tem um número. É um número, no fundo, é reduzir a pessoa a um número e não a uma pessoa”, refere.

Foto: Cáritas de Vila Real

O bispo de Vila Real celebrou a eucaristia na prisão local e no momento de ação de graças, um dos reclusos leu uma carta de agradecimento, que segundo Carlos Martins, “espelha bem” o sentimento dos reclusos face ao trabalho desenvolvido no âmbito do projeto de reinserção social.

“Obrigado, hoje em especial a Cáritas, Mónica, Dália, Pedro, a Cáritas está presente connosco aqui na Prisão desde 2016, que olha muito mais para além das grades, trazendo a sua caridade, misericórdia e amor para com aqueles que estão à margem, aqueles que foram ficando esquecidos”, pode ler-se na carta.

“A Cruz é a marca de cada um de nós, das nossas mãos feitas no Atelier
Humanus da Cáritas”, acrescentou.

Mónica Cruz, animadora sociocultural, e Dália Carriço, psicóloga, são os rostos que acompanham os reclusos nas visitas que realizam ao estabelecimento prisional em cada semana, intercaladamente.

O ‘Espaço Humanus 3G’ é composto por dois ateliers: Humanus, atividades lúdicas e recreativas, conduzido por Mónica Cruz, e Espaço de desenvolvimento de competências de empregabilidade, dirigido por Dália Carriço.

“Trabalho de uma forma prática e também teórica estas questões da empregabilidade. Desde a procura de emprego, à elaboração de um currículo, ao treino de competências para uma entrevista, o cuidado com a imagem, as competências de comunicação, que procuro levar neste âmbito da comunicação algum conhecimento sobre não só a comunicação, necessária para desenvolver uma boa entrevista, mas também as competências de comunicação de um modo geral: ensinar a comunicar, ensinar a ouvir, ensinar a criar espaços também para os outros se exprimirem”, destaca a psicóloga.

Já Mónica Cruz refere que o papel que desempenha junto dos reclusos passa por dinamizar atividades lúdicas, num espaço onde podem desenvolver as suas capacidades e, por vezes, descobrir “novos talentos”.

“Eu costumo dizer esta frase, é transformar o não lugar num lugar. Onde eles têm voz, onde mostram os seus talentos”, salienta.

Sobre os frutos do trabalhado desenvolvido, Dália Carriço adianta que os reclusos já conseguem “respeitas o outro”, “conseguem ouvir, integrar, ainda que muitas vezes discordando da opinião do outro”.

“Conseguem ter ali comportamentos muito mais corretos da convivência em grupo e da partilha de conhecimentos, de opiniões em grupo […] Depois, com o tempo, isto é um trabalho também não só nosso, naturalmente, mas do próprio indivíduo, em termos de adaptação e de toda a estrutura prisional. Percebemos, numa boa parte deles, uma maior serenidade, que também deriva naturalmente desta adaptação”, indica.

Carlos Martins fala que é percetível o entusiasmo dos reclusos e que durante a semana este é o “grande momento” pelos qual esperam.

“E isto é importante, quer para eles, quer para nós, porque nós, também, depois, ao ouvir isto e ao sentirmos isto, ficamos de coração cheio porque sentimos que o nosso trabalho está a surtir algum efeito”, realça.

O vice-presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real diz que em “equipa que ganha não se mexe” e, portanto, o objetivo é dar continuidade ao ‘Espaço Humanus 3G’, financiado pelo ICAD, Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências.

‘Espaço Humanus 3G’ foi desenhado para dar resposta à vertente da reinserção de indivíduos com problemas de uso e abuso de substâncias psicoativas e um projeto de intervenção que procura criar novas oportunidades de desenvolvimento social através de apoio psicossocial, e articulação e encaminhamento para as estruturas da rede de apoio formal para uma população com problemas ligados ao consumo de álcool (e outros consumos), podendo ou não estar integrados na rede de tratamento existente, informa a Cáritas Diocesana de Vila Real.

LJ/PR

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Agência ECCLESIA

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