XII dia do migrante de Setúbal recorda o centenário do Beato Scalabrini

Celebração jubilar nacional na Amora Os missionários, missionárias e leigos Scalabrinianos celebraram, em unidade com a Igreja local, o centenário da morte do seu Fundador, Beato João Baptista Scalabrini: “apóstolo dos migrantes e da catequese”, como Pio XII amava apelidá-lo. A esta grande figura da “santidade” da Igreja será dedicada a nova igreja paroquial de Amora, passando a ser a segunda, na Europa, com este orago. A celebração jubilar foi presidida por D. Gilberto dos Reis, bispo de Setúbal, na presença das autoridades locais, do director nacional da Obra Católica Portuguesa de Migrações, da comunidade paroquial de Amora, das comunidades scalabrinianas no país e de diversos grupos de migrantes e ciganos, vindos das várias latitudes diocesanas de Setúbal. Deste modo, assinalou-se o XII dia diocesano das migrações: dia dos povos. Fazer memória do bom pastor que deu a vida pelos diocesanos “O B. João Baptista Scalabrini nasceu em Fino Mornasco (Itália), em 8 de Julho de 1839. Com apenas 36 anos de idade, foi nomeado bispo de Piacenza. Serviu a diocese com sabedoria durante trinta anos, sempre animado por uma ardente e incansável caridade apostólica: visitou cinco vezes as 365 paróquias da diocese e por duas vezes, em 1901 aos EUA e, em 1904 ao Brasil e Argentina, atravessou o Atlântico para “evangelizar” os emigrantes e apoiar as missões. A última viagem transatlântica, comprometeu-lhe seriamente a saúde. Morreu santamente na madrugada do domingo de Ascensão: 1 de Junho de 1905. Durante as visitas pastorais, apercebeu-se de que milhares de seus diocesanos emigravam, atraídos por promessas fáceis, sem qualquer tutela governamental, expostos a todo o género de exploração e, sobretudo, sem nenhuma assistência religiosa. Por isso, em 1887 fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos) e mais tarde, em 1895, as Irmãs Missionárias de São Carlos. No ano 1889 deu vida á “Sociedade São Rafael”, uma associação laical para protecção dos direitos dos migrantes. Fundou instituições para a defesa dos direitos dos operários, das mondadoras “sazonais” de arroz e dos mais pobres. Em 1879, durante uma tremenda carestia, chegou a privar-se de tudo para distribuir 3.000 refeições diárias. Deu uma particular atenção à educação cristã da juventude. Convocou o 1º Congresso de Catequese e fundou uma revista para a formação cristã das crianças e dos catequistas. Foi proclamado bem-aventurado por João Paulo II, no dia de 9 de Novembro de 1997”. Celebrar a visão sapiencial e inter-cultural das migrações Foi com essas palavras, que o Pe. Pedro Granzotto, superior dos scalabrinianos e prior de Amora, apresentou, resumidamente a biografia do B. Scalabrini aos 700 participantes que acorreram à solene celebração nacional do Centenário. João B. Scalabrini inspira hoje a Igreja a ver as migrações como um “sinal dos tempos” a que é preciso dar respostas concretas; a estudar as suas dimensões, as consequências dramáticas e a denunciar, com a veemência dos profetas bíblicos, os perigos que nela se instalam: a exploração laboral, a laceração das famílias, a violência e discriminação, o abandono da prática religiosa, a perda da própria dignidade humana e identidade cultural. Como homem de fé e da eucaristia, convida os cristãos a desenvolver sobre as migrações, sobretudo, um olhar muito positivo e de esperança: a realização do projecto de Deus para reunir todos os povos da terra na fé em Jesus Cristo e na única e una família humana. Os cem anos de presença de Scalabrini impelem as comunidades cristãs a actuarem uma “pastoral específica” em relação à mobilidade humana e a perceberem que a acção missionária da Igreja não se dirige simplesmente aos que desconhecem o Evangelho. Mas, também aos migrantes e refugiados que, devido à sua “condição móvel e estrangeira” e outras situações adversas, correm o risco de “perder” a fé, de ficar à “beira do caminho como o homem desfigurado da parábola do bom samaritano” – como referiu D. Gilberto. Os migrantes são uma bênção, não um perigo O bispo de Setúbal, na sua intervenção agradeceu a numerosa presença de imigrantes na diocese, estimados em 70.000 (integrando a estimativa relativa aos irregulares), bem como o testemunho de fé e de apego aos valores da família e trabalho que muitos demonstram exemplarmente na sua diocese. Exortou todas as paróquias e movimentos para o acolhimento generoso dos migrantes, sobretudo dos mais vulneráveis em situação irregular, e pediu que em cada paróquia, ao longo deste ano da eucaristia, seja criado um “grupo de trabalho” para o acolhimento e apoio aos imigrantes e suas famílias, como prevê a diocese nas suas orientações pastorais. Por sua vez, o Pe. Manuel Soares, director do Secretariado Diocesano da Pastoral de Migrações, alertou para o facto de a Comunicação Social, frequentemente, apresentar as migrações de forma negativa, como ameaça, em vez de reconhecer que os migrantes contribuem com o seu trabalho, cultura, religiosidade para o desenvolvimento pleno e “civilizacional” do país. Elogiou ainda o zelo missionário e a acção pastoral dos scalabrinianos e scalabrinanas em Portugal e junto, sobretudo, das Comunidades Portuguesas. “Todas as gentes virão a ti” em ano da Eucaristia Após a partilha da mesa eucarística, os cabo-verdianos, são-tomenses, romenos, ciganos, jugoslavos, guineenses, angolanos, moçambicanos, brasileiros, timorenses e portugueses partilharam também o almoço realizado com as iguarias gastronómicas culturais que, em fraternidade, todos colocaram sobre a outra mesa. Com o intuito de valorizar o património cultural e pôr as comunidades a conhecerem-se melhor, seguiu-se um “espectáculo intercultural” muito animado e participado pelas várias comunidades presentes que se prolongou pela tarde dentro: com músicas, poemas e danças das terras de origem dos presentes. Que grande graça poder “cantar com liberdade os cânticos do Senhor em terra estrangeira”! A festa do centenário do B. Scalabrini significou, assim, o “abraço de comunhão” da Igreja, na pessoa do bispo, para com todos os povos e culturas diferentes que vão estando, cada vez mais, no coração das preocupações das comunidades e movimentos cristãos. Na Amora, viveu-se, na mais pura simplicidade, o que Bento XVI disse recentemente a um grupo de migrantes: “A Igreja é chamada a abrir as fronteiras entre os povos e a abater as barreiras entre classes sociais e raças. Nela não há lugar nem para esquecidos, nem para desprezados. Na Igreja apenas existem livres irmãos e irmãs em Jesus Cristo”. Graças ao carisma e ao espírito de Scalabrini presente há 100 anos na acção de muitos cristãos em muitas igrejas locais, as migrações internas e internacionais tornam-se numa maravilhosa “oportunidade de evangelização” e de “providencial catolicidade” para a Igreja, assim como “ponte natural” para o diálogo fraternal entre culturas, ritos e religiões. Leonel Orlando com M. da Silva

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