Voluntariado: 37 dias na Índia marcaram vida de estudante de Medicina

Carolina Vitorino, da Diocese de Santarém, destaca a dificuldade de «pensar em tudo» o que viveu

Foto: Carolina Vitorino – junto ao túmulo de Madre Teresa de Calcutá

Santarém, 20 jan 2023 (Ecclesia) – Carolina Vitorino, jovem estudante do quarto ano de Medicina, passou 37 dias em voluntariado na Índia e recordou os momentos felizes que passou, as imagens “chocantes” que não lhe saem da memória e o exemplo de fé de Madre Teresa de Calcutá que a faz “não desistir”.

“Os dias eram muito exaustivos, acordávamos muito cedo, fazíamos muito trabalho em clínicas, cuidados de saúde primários, em locais muito rurais da Índia, e nessas aldeias que fomos visitando havia de tudo, crianças e famílias que, não tendo nada, nos queriam oferecer alguma coisa, queriam receber-nos bem em casa, dar água, arroz, e as crianças brincar connosco, uma simples corrida deixava-os de coração cheio”, partilha, em declarações à Agência ECCLESIA.

A estudante de Medicina sempre teve “um sonho gigante” de fazer voluntariado em África mas, depois de várias tentativas, surgiu a oportunidade de ir para Calcutá, na Índia, uma experiência que a marcou.

Foto: Carolina Vitorino

“Sempre me disseram que as pessoas nestes países são muito caridosas mas é mesmo modificador da nossa vida ver à nossa frente acontecer aquilo”, refere.

Carolina Vitorino fez a formação e foi selecionada, com outra colega da sua faculdade, para partir no dia 22 de julho de 2022 para Calcutá, “um dia impossível de esquecer”. 

“Foi tudo caído do céu, sempre imaginei participar de um projeto da minha faculdade que faz voluntariado em Moçambique e, ao longo dos quatro anos, tentei inscrever-me mas nunca fui selecionada, depois surgiu este projeto que faz parceria entre o Instituto Indiano para as mães e crianças e a Associação Nacional de Estudantes de Medicina”, conta.

A jovem de 22 anos, natural de uma pequena aldeia na Diocese de Santarém, fez o seu “maior voo” e, em Calcutá, aterrou com um grande tempestade, que associou ser “um presságio para a força que teria de ter para os dias seguintes”.

“Marcou-me muito este tempo e ainda hoje é difícil pensar em tudo o que vivi”, assume.

Calcutá é conhecida pela “cidade da alegria”, Carolina Vitorino considera ser “impossível esquecer a “bondade, simplicidade e humildades” das pessoas com quem ali se cruzou e recorda muitas pessoas “em toda a Índia, deitadas, prostradas no chão, num estado de saúde tão grave que ninguém olha para elas”.

“Todos os dias eram de alegria, pode ser chocante num país que tem poucas condições como temos noção, acho que pela simplicidade e humildade profunda das pessoas era impossível não sorrir, como a Madre Teresa dizia um ‘simples sorriso deixava aquelas pessoas felizes’”, recorda.

A jovem ainda não escolheu a área de Medicina que quer seguir mas pondera que tem de ser uma “área em que possa privilegiar a proximidade com as pessoas” e, quatro meses depois da experiência na Índia, não deixa de pensar no que viveu.

Não consigo deixar de pensar na Índia: se fechar os olhos, ouvir os sons e lembrar os cheiros é impossível não sorrir, é intrínseco, no segundo a seguir posso estar a chorar”.

Para a Medicina traz o ensinamento de poder ser capaz de trabalhar “em todos os países do mundo”, conceito lembrado pelos seus professores, e que, depois da experiência de voluntariado, lhe faz ainda mais sentido conjugando com “a necessidade de humanização da Medicina”.

Foto: Carolina Vitorino

Carolina Vitorino considera-se uma pessoa “com fé desde pequena” e teve a oportunidade de aprofundar o exemplo de Madre Teresa de Calcutá mas a dúvidas têm permanecido.

“Ir à Índia foi como que um grande abanão no que acreditava, não que tenha deixado de acreditar mas tem sido complicado de gerir a complexidade das situações que eu vivi à luz da nossa fé e Madre Teresa foi exemplo para mim porque me permitiu perceber que não deixamos de ser católicos por não sentir Deus, com ela percebi que não posso desistir e estou a fazer um esforço para me reerguer”, indica.

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, 21 de janeiro, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast

SN

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Agência ECCLESIA

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