Igreja/Vocações«Não é uma questão de número, é de qualidade», afirma D. José Rodriguez Carballo

Arcebispo espanhol destaca que jornada de formação do clero do sul de Portugal «é uma profecia diante da cultura individualista» da sociedade

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Albufeira, 16 jan 2024 (Ecclesia) – O arcebispo coadjutor de Mérida-Badajoz (Espanha) disse hoje que o “problema” das vocações na Igreja “é uma questão de qualidade”, nas jornadas de atualização do clero das quatros dioceses do sul de Portugal, e explicou as três características do sacerdote.

“As vocações são um problema na Igreja, certamente um problema porque estão a diminuir muito as vocações à vida consagrada e as vocações à vida sacerdotal. Tentei sublinhar muito que não é uma questão de número, é de qualidade, por isso temos a obrigação de despertar a vocação nos jovens, de acompanhar a vocação”, explicou D. José Rodriguez Carballo, em declarações à Agência ECCLESIA.

O arcebispo coadjutor de Mérida-Badajoz acrescenta que pensa que muitas vocações se perdem porque não acompanham, e identificou um acompanhamento sobretudo em duas áreas, a dimensão “espiritual”, porque uma vocação sacerdotal “só se mantém” se têm vida de oração, e a “dimensão afetivo-sexual, nesta sociedade em que tudo é hipersexualizado”.

“Neste mundo sexualizado não é fácil viver a castidade e o celibato mas para nos é uma graça a que queremos responder cada dia, por isso, temos que formar-nos muito na dimensão também da afetividade e sexualidade, em geral a dimensão humana”, desenvolveu o antigo secretário do Dicastério para a Vida Consagrada.

‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’, é o tema das jornadas de atualização do clero das Dioceses do Algarve, de Beja, de Évora e de Setúbal, desde esta segunda-feira até sexta, dia 19 de janeiro, com a participação de 77 pessoas, entre bispos, padres, diáconos e alguns seminaristas.

“Gosto muito deste encontro porque juntam padres de dioceses do sul de Portugal e depois de muitos anos de experiência vê-se um clima de sinodalidade, de comunhão. Isto é o que deve caracterizar neste momento a nossa Igreja, seguindo o caminho que nos assinalou o Papa Francisco”, destacou o arcebispo espanhol, considerando-o “uma profecia diante da cultura individualista”.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

D. José Rodriguez Carballo apresentou dois temas – ‘O panorama das Vocações Sacerdotais na Igreja Católica. Mudanças e Desafios’, e o ’Perfil do Presbítero para o Século XXI, que a Igreja e o Mundo esperam’ – nos dois primeiros dias de formação.

Sobre o perfil do sacerdote hoje, o antigo colaborador do Papa, explicou que teve em conta sobretudo o ministério de Francisco, e insistiu em três características, seguindo o pontífice: ‘Servos’, “a única forma de poder na Igreja é o serviço”; ‘pastores’, por que, como se sabe pela Sagrada Escritura, “conhece as ovelhas pelo seu nome, e acompanha”, e ‘irmãos’, os padres são “gente do povo, não podem esquecer as raízes”, estando “ao serviço como irmãos”.

A Diocese do Algarve acolhe este encontro em Albufeira, e o seu bispo destaca que “é uma iniciativa muito enriquecedora para as dioceses, para o clero”, sentem-se “quase membros da mesma diocese” pela partilha que existe para além dos temas.

“O tema é sempre algo que nos motiva e nos mobiliza para participarmos, este tema, embora seja recorrente, na verdade, tem a ver com o essencial do nosso ser e do nosso agir, como para os presbíteros, como bispos, como diáconos. Ser pastores, à imagem de Cristo, bom pastor, é sempre um desafio, é sempre um apelo, há sempre algo a iluminar, a corrigir, a propor, atendendo também ao mundo que nos rodeia”, acrescentou D. Manuel Quintas à Agência ECCLESIA.

O bispo do Algarve salientou também que a partilha sobre as realidades de diocesanas “é enriquecedora”, e adiantou que de numa reunião entre os quatro bispos portugueses e o arcebispo espanhol, esta segunda-feira, surgiu a ideia de um encontro, “para fins de fevereiro”, entre as dioceses da Província Eclesiástica de Évora com a Província Eclesiástica de Mérida-Badajoz porque “os problemas” são comuns, e é importante “a partilha, sobretudo, daquilo que cada diocese está a encontrar para ultrapassar estas dificuldades”.

OC/CB/PR

 

O encontro de atualização do clero das dioceses do sul foi organizado pela 17ª vez pelo Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE) que, segundo o seu diretor, “é a continuação de uma das temáticas do ano passado, que foi o ano vocacional”, e quiseram dar o contributo para uma reflexão que “preocupa”, procurando que as temáticas “estivessem muito ligadas à figura do presbítero, a partir da Sagrada Escritura, a sua formação intelectual, espiritual”.

“Esta abordagem de D. José que de facto é fundamental, o perfil, o sacerdote, os desafios, olharmos para o mundo, percebermos que o mundo mudou e que a Igreja também sofre estas influências, mas pode dar o seu contributo, pode aproveitar, como ele dizia, a crise não assumindo passivamente e sofrendo, mas encarando a crise também como oportunidade de mudança”, explicou o padre Manuel António Rosário.

Em 2022, o Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE) passou a integrar a Universidade Pontifícia de Salamanca (UPSA), em Espanha, uma das “mais prestigiadas instituições da Igreja Católica”, destacaram os bispos das Dioceses do Algarve, de Beja e Évora.

“Tem sido muito positivo, nós estamos muito satisfeitos e Salamanca também, temos tido uma boa colaboração, uma grande recetividade da parte da Faculdade de Teologia”, disse, esta terça-feira, o diretor do ISTE, à Agência ECCLESIA.

O padre Manuel António Rosário explicou que a UPSA “tem sido excecional” reconheceram “todo o curso” do Instituto Superior de Teologia de Évora que também tem “procurado adaptar o currículo”, e, nos exames, os alunos do Instituto interdiocesano “estão ao nível dos outros centros”, o que também é positivo e “deixa satisfeitos”.

Segundo o diretor do ISTE, ao mesmo tempo, obriga a que façam um “maior esforço de formação do clero” para terem professores formados e a idade limite para lecionar, que são os 70 anos de idade.

“Estamos a fazer um esforço grande de formação que é fundamental, não apenas para a dimensão letiva no Instituto, mas também é um enriquecimento dos nossos presbitérios e é uma ajuda também para a renovação das nossas dioceses”, acrescentou o sacerdote.

O Instituto Superior de Teologia de Évora foi criado a 8 de setembro de 1977, por decreto do então arcebispo de Évora, D. David de Sousa, e passou a ser interdiocesano em 1985, com estatutos aprovados pelos três bispos da Província Eclesiástica de Évora, constituída pelas Dioceses do Algarve, Beja e Évora.

 

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