Francisco alertou para a «resignação», «tristeza e desânimo» entre os religiosos que «se afastam de Deus»
Cidade do Vaticano, 01 fev 2020 (Ecclesia) – O Papa Francisco alertou hoje os religiosos e religiosas para o “olhar mundano”, para a “tentação que paira” na vida consagrada que procura o “sucesso, a consolação afetiva” e faz “o que quer”.
“E sabemos o que acontece depois! Reivindicam-se os espaços próprios e os direitos próprios, deixamo-nos cair em críticas e murmurações, indignamo-nos pela mais pequena coisa que não funcione e entoamos a ladainha da lamentação acerca dos irmãos, das irmãs, da comunidade, da Igreja, da sociedade”, advertiu Francisco durante a homilia da celebração eucarística com os membros dos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida apostólica, no âmbito do XXIV Dia Mundial da Vida Consagrada.
Na Basílica de São Pedro, o Papa falou na rotina e pragmatismo que tomam conta de um religioso ou religiosa, que “já não vê o Senhor”: “no seu íntimo aumentam a tristeza e o desânimo, que degeneram em resignação”.
“A vida consagrada, se permanecer firme no amor do Senhor, vê a beleza. Vê que a pobreza não é um esforço titânico, mas uma liberdade superior, que nos presenteia como verdadeiras riquezas Deus e os outros. Vê que a castidade não é uma esterilidade austera, mas o caminho para amar sem se apoderar. Vê que a obediência não é disciplina, mas a vitória, no estilo de Jesus, sobre a nossa anarquia”, enumerou a partir dos votos que os religiosos fazem.
O Papa falava de “irmãos e irmãs consagrados” como pessoas “simples” que viram “o tesouro que vale mais do que todas as riquezas do mundo” e, por ele, “deixaram coisas preciosas, tais como bens, criar uma família própria”.
“Por que o fizestes? Porque vos apaixonastes por Jesus, n’Ele vistes tudo e, fascinados pelo seu olhar, deixastes o resto. A vida consagrada é esta visão. É ver aquilo que conta na vida”, sublinhou.
Como consagrados, indicou Francisco, “homens e mulheres que vivem para imitar Jesus”, os religiosos “são chamados a tornar presente no mundo o olhar d’Ele, o olhar da compaixão, o olhar que vai à procura dos distantes, que não condena, mas encoraja, liberta, consola” em atitudes que devem começar na própria comunidade.
“Devemos pedir a graça de saber procurar Jesus nos irmãos e irmãs que recebemos. É aqui que se começa a praticar a caridade: no lugar onde vives, acolhendo os irmãos e irmãs com as suas pobrezas”.
Francisco pediu aos religiosos e religiosas que procurem dar graças, pois, “saber ver a graça é o ponto de partida” e também que mantenham um olhar de esperança.
“Olhemos o Evangelho e vejamos Simeão e Ana: eram idosos, viviam sozinhos e contudo não tinham perdido a esperança, porque estavam em contacto com o Senhor. O olhar dos consagrados só pode ser um olhar de esperança. Saber esperar”, sugeriu.
“Amados irmãos e irmãs, agradeçamos a Deus pelo dom da vida consagrada e peçamos um olhar novo, que saiba ver a graça, que saiba procurar o próximo, que saiba esperar. Então os nossos olhos também verão a Salvação”, finalizou.
No final da celebração, D. João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, afirmou que assim como prossegue a reforma da Igreja, também “é necessária a reforma da vida consagrada”.
“Identificamos outros modos hoje de viver a vida consagrada, identificamos a necessária formação, de curar a vida fraterna e a comunidade e a importância da dimensão humana e espiritual, de modo particular”, sublinhou.
O cardeal brasileiro precisou que a vida consagrada necessita de “melhor preparação na vida económica e na administração dos bens”.
O cardeal D. João Aviz sublinhou a constante “presença paterna do Papa” junto dos religiosos “sem deixar influenciar-se pela turbulência que nos afeta na vida da Igreja”.
“Obrigado pelo seu amor à vida consagrada”, finalizou.
LS
Atualizada às 17h38