«Ficamos órfãos, perdemos o nosso guia espiritual» – Padre Vasco Gonçalves
Viana do Castelo, 22 set 2020 (Ecclesia) – O bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira, foi recordado hoje por vários sacerdotes da sua diocese com saudade e admiração, em declarações à Agência ECCLESIA.
“Ficamos órfãos, perdemos o nosso guia espiritual mas perdemos também uma grande testemunha da Igreja, um homem profundamente dedicado, dedicado ao seu povo”, disse o padre Vasco Gonçalves.
O sacerdote destacou que D. Anacleto Oliveira “investiu muito nas visitas pastorais” e sempre numa “atitude de proximidade das pessoas”, uma pessoa que parecia “tímida” mas quando entrava no convívio com as pessoas “perdia a noção do tempo, entregava-se e queria conhecer as pessoas e estar com elas”.
“É conhecido entre todos nós esse gosto de fazer caminhadas, trilhos. Ele perdia-se pelas aldeias do alto-Minho e aproveitava essas ocasiões para de surpresa aparecer às pessoas e conhecer as pessoas numa conversa informal”, recordou o padre Vasco Gonçalves, a respeito de 10 anos de episcopado, no que considera “um grande testemunho de um bispo”.
O padre Armando Dias, também do presbitério da Diocese de Viana do Castelo, refere que o falecido bispo tinha “uma grande personalidade, uma retidão enorme de espírito”, era um homem sábio, “de grande inteligência dado ao estudo”, e com “uma profundidade bíblica excelente, ao mesmo tempo, um pensamento atual, muito esmerado, muito oportuno”.
“Era um homem que trazia sempre aquela sensação de paz, de bondade, equilibrada pelas ideias, pela sabedoria bíblica, pela tradição da Igreja”, destacou, lembrando D. Anacleto Oliveira como “um homem de Igreja, que construía a Igreja, a partir da Igreja e para a Igreja” e sem se apropriar de nada, “um homem pobre, simples, sincero, desprendido de tudo”.
Segundo o padre Armando Dias, o bispo estava “sempre bem-disposto, sereno, tranquilo”, e mesmo quando pudessem “estar um bocadinho mais exaltados”, D. Anacleto Oliveira “tinha sempre uma paz” que “desafiava”.
O bispo da Diocese de Bragança-Miranda afirmou, por sua vez, que “na tristeza da separação” o conforta “a certeza da esperança cristã”, por isso, dá “graças a Deus pelo dom, pelo ministério do senhor D. Anacleto”.
“Tive a graça de colaborar com ele na Comissão Episcopal Liturgia e Espiritualidade e na solicitude pelas nossas Igrejas e é com esta atitude de gratidão que participo nesta celebração e dou graças a pelo precioso trabalho ao serviço da Palavra de Deus, ao serviço da Liturgia da Igreja e o seu testemunho leva-nos a prosseguir com fé, com esperança e com caridade”, desenvolveu D. José Cordeiro.
São Bartolomeu dos Mártires, que foi bispo de um território que hoje compreende quatro dioceses – Braga, Bragança-Miranda, Viana do Castelo e Vila Real – “aprofundou a relação de amizade” de D. José Cordeiro e D. Anacleto Oliveira, porque juntos trabalharam na causa da canonização do santo português.
“Acredito que São Bartolomeu dos Mártires estará para o acolher a fim de celebrar plenamente a liturgia da Páscoa eterna”, acrescentou o bispo da Diocese de Bragança-Miranda.
O arcebispo de Braga e responsável pela província eclesiástica em que se insere a diocese do Alto Minho, disse à Agência ECCLESIA que a morte do bispo de Viana foi “um grande choque para todos”.
D Jorge Ortiga, que presidiu hoje à Missa exequial de D. Anacleto Oliveira, recorda “um bispo totalmente disponível para servir este povo do Minho”.
“Uma disponibilidade alicerçada naquilo que era a sua especialidade que é a Palavra de Deus. Não esteve a inventar nada, foi pura e simplesmente seguir em autenticidade e em verdade aquilo que hoje deve ser um discípulo de Jesus Cristo, é um testemunho do serviço, um testemunho de doação”, destacou.
Já o presidente da Camara Municipal de Viana do Castelo falou num “dia triste”, lamentando a morte de “uma pessoa muito afável, de uma relação muito próxima”, e, acima de tudo, “de uma grande profundidade teológica”.
“Recordo o grande empenho que ele tinha em conhecer os problemas, em dedicar-se à sua população. Foi um homem que se dedicou à Diocese de Viana e sobretudo recordo a preocupação que ele teve também na canonização de São Bartolomeu dos Mártires, foi um trabalho muito eficaz que todos lhe devemos. É de facto um dia triste”, referiu José Maria Costa à reportagem da ECCLESIA.
O último adeus a D. Anacleto Oliveira contou com a presença de vários bispos portugueses, incluindo D. Antonino Dias, responsável pela Diocese de Portalegre-Castelo Branco e natural do Alto Minho, o qual sublinhou a importância da proximidade com a população.
“Quando há uma sintonia grande com o povo, o povo também sabe agradecer e estimar como pessoa e família, e é aqui o caso”, assinalou.
Já o bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lamentou a “partida de um grande amigo”, referindo que, nestas ocasiões, para além da “grande tristeza” também “vem sempre um sorriso de boas lembranças”.
“Vim conhecê-lo na conferência episcopal, neste cinco anos e sempre o admirei como mente lúcida. Era uma pessoa muito bem formada, particularmente a partir da Bíblia que ele estudava, e fazia estudar e apresentava com gosto e com paixão”, desenvolveu D. José Ornelas, destacando o papel do falecido bispo na nova tradução da Sagrada Escritura, que está em curso.
Esta quarta-feira, os restos mortais de D. Anacleto Oliveira estarão em câmara ardente na Catedral de Leiria, a partir das 10h00; às 15h00 o cardeal D. António Marto preside à Missa Exequial; a sepultura será no cemitério das Cortes, terra natal do falecido bispo.
D. Anacleto Oliveira faleceu na última sexta-feira, aos 74 anos de idade, na sequência de um despiste de automóvel, na Autoestrada 2 (A2) perto de Almodôvar; o bispo de Viana do Castelo era o único ocupante da viatura.
LFS/CB/OC
Notícia atualizada às 22h18