«Vertigem» e «pressão» deturpam notícias

Presidente da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais fala do silêncio como «arma secreta»

Lisboa, 10 mai 2012 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal que acompanha as comunicações sociais em Portugal disse hoje em Lisboa que é necessário encontrar um “equilíbrio” entre o ritmo noticioso e o silêncio para preservar o rigor jornalístico.

“A vertigem da pressa, a caça à manchete, a pressão das tiragens e dos shares, se calhar, pressionam mais que o desejável equilíbrio da comunicação e vão fazendo caminho, normalizam modelos”, assinalou D. Pio Alves, durante a sessão de apresentação do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, que a Igreja Católica vai celebrar a 20 de maio.

A iniciativa, este ano dedicada ao tema ‘Silêncio e palavra: caminho de evangelização’, título de mensagem de Bento XVI para esta celebração, reuniu cerca de cinco dezenas de jornalistas.

O bispo auxiliar do Porto admitiu que o tema escolhido pelo Papa pode ser tido como “raramente aplicável ou não aplicável às exigências quotidianas da profissão”, posição da qual disse discordar.

“O silêncio, a capacidade de silêncio – antes, durante e depois – é essa espécie de arma secreta que, primeiro, educa o comunicador e, depois, equilibra a comunicação”, declarou.

O responsável pela Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, organismo dos bispos católicos, admitiu que “não será fácil a construção da ponte silêncio-profissional da comunicação e vice-versa”.

“Diante da imagem lancinante da mãe que, inesperada e tragicamente, acaba de perder o seu filho jovem sobram todas as palavras: a que propósito se lhe pergunta ‘como se sente’?”, exemplificou.

D. Pio Alves frisou que não está em causa “a aceitação do silêncio como ocultamento dos factos que são notícia”, mas alertou para as situações em que “as mesmas perguntas são habilmente reinventadas até que o interlocutor pareça dizer aquilo” que o jornalista “tinha decidido que devia dizer”.

“Como cabe o silêncio na pressa da notícia? Como se compagina o silêncio com a urgência da primícia informativa, da primeira mão, do rigoroso exclusivo?”, questionou.

A apresentação da mensagem de Bento XVI decorre no Mosteiro de Santa Maria das Monjas Dominicanas, em Lisboa, com a presença do jornalista Henrique Monteiro, diretor da Editorial Impresa, e da irmã Maria Albertina, clarissa do Mosteiro de São José, Vila das Aves.

O cónego João Aguiar Campos, diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, convidou os presentes a “debater como fazer hoje, no barulho das notícias, a verdadeira novidade”.

A celebração do Dia Mundial das Comunicações Sociais foi a única do género a ser instituída pelo Concílio Vaticano II (Decreto ‘Inter Mirifica’, 1963).

OC

 

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