Verão: «Espero que nas férias haja mais tempo para conversar com os filhos» – António Estanqueiro

Professor de Filosofia e Psicologia aponta a escuta como segredo na comunicação interpessoal e gestão de conflitos nas famílias

Lisboa, 17 ago 2019 (Ecclesia) – O professor António Estanqueiro aponta os dias de férias como um tempo “privilegiado” para “desacelerar”, aproveitar o tempo em família e “colocar-se à escuta”, uma dica para estar em harmonia em família.

“Férias são tempo de descanso, eu gosto de associar aos dias de descanso, dia do Senhor, sábado e domingo, fim-de-semana, este tempo de alguma distensão e descontração. As pessoas têm mais tempo, porque “para tudo há um tempo na vida” como dizia o Eclesiastes, aqui há mais tempo para estar com os outros”, explica à Agência ECCLESIA.

“Desacelerar nas férias é essencial, podem ser um tempo para abrandar o ritmo agitado da vida, parar refletir, respirar, meditar e pensar quem somos, o que queremos e se andamos nos caminhos que desejamos”, acrescenta.

Numa sociedade em que se passa a vida a “fazer muitas coisas ao mesmo tempo”, o professor de Filosofia e Psicologia aponta o dedo à “sociedade hiperativa, que valoriza quem trabalha muito e dorme pouco, valoriza-se a pressa” e considera as férias como um tempo propício aos encontros e à escuta.

“A comunicação entre as pessoas é fundamental, há que zelar pela qualidade das relações interpessoais; uma das coisas que é necessária para gerir a comunicação entre todos é tirar os empecilhos da comunicação”, aponta.

António Estanqueiro, com 68 anos de idade, permite-se a dar alguns conselhos às famílias alargadas que, em tempo de férias, se juntam e onde tem de haver harmonia entre as várias faixas etárias.

Desacelerar a utilização das tecnologias (um dos empecilhos), as pessoas conversam poucos minutos, as tecnologias não são boas para comunicar com quem está perto… o desafio é moderar o uso, estar atento ou outro, dar-lhe importância. Então quando as crianças são muito pequenas, durante o ano inteiro, é uma correria, despachar para ir para a escola, tomar banho e comer depressa e por favor adormecer depressa… Há pouco tempo para conversar e eu espero que nas férias haja mais tempo para conversar com os filhos!”

Negociar o que se faz nas férias, tentando agradar a jovens, crianças, pais e avós, não sendo fácil, é “imprescindível”, e gere-se com “muita comunicação e estando à escuta do outro”, segundo António Estanqueiro.

Esta atitude da escuta é também destacada na relação com os “avós da família” numa forma de aprendizagem e valorização em tempo de férias, “para que haja uma transmissão de sabedoria”.

“Ouvir os mais velhos, vale a pena ouvir as histórias que eles contam… Eu sei que para alguns netos é chato, porque o avô conta muitas vezes a mesma história, mas, se ele fizer perguntas diferentes, se calhar, vai ouvir coisas que nunca tinha ouvido. As férias são propícias a estes encontros para conversar com os mais velhos e, apesar de estarmos sempre ligados, não subestimemos a presença pessoal e o toque, penso que andamos desequilibrados porque nos afastamos uns dos outros”, adianta.

António Estanqueiro é formador de professores, pais e líderes, autor de vários livros, entre eles uma obra intitulada “Saber lidar com as pessoas”, que vai na 25ª edição, e reforça que as férias só “podem ser animadas quando se oferece tempo”.

“Até podemos ter uma férias animadas, por fora, e desanimadas, por dentro; temos de lhe dar alma e isso é aproveitar as férias e os tempo livres para nos cultivarmos e cultivar as relações com outras pessoas, dando-lhes tempo… oferecer tempo é um ato de amor muitíssimo importante”, reconhece.

O bom humor e o sorriso, “distância mais curta entre as duas pessoas” desbloqueiam muitos conflitos, segundo o professor, “todos temos o dever de nos aproximar de pessoas que nos fazem crescer harmoniosamente, nos deixam bem-dispostas, com esperança e otimistas”.

“Estas são as boas pessoas desta vida e temos de aprender muito porque, para chegarmos ao respeito mútuo, é preciso caminharmos e é sempre possível encontrar um ponto comum e aceitar”, explica.

O mês de agosto, em Portugal, é tempo de regresso e visita dos emigrantes que um dia partiram e as aldeias e vilas enchem-se e as festas multiplicam-se, realidade que o autor, natural de Vagos, aponta como um enriquecimento que “seria criminoso não aproveitar” para trocar experiências com essas pessoas”.

“Vêm de outros sítios, provavelmente vão ouvir experiências de vida diferentes e devemos ouvir e dialogar com muita tolerância e respeito. Por fim é preciso ter se um espírito aberto, nós aprendemos sempre uns com os outros… As férias, o tempo de convivência e de comunicação, deixam-nos mais ricos, tornamo-nos mais ricos uns com os outros e até o diálogo é importante também para as relações das religiões e das culturas”, conclui.

Esta conversa com o professor António Estanqueiro é o mote para o programa ECCLESIA, deste domingo, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública.

SN

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