Venezuela: Arcebispo de Mérida denúncia «situação atípica e sem precedentes»

«Dói ver o povo assim» – Cardeal Baltazar Porras

Mérida, Venezuela, 30 jul 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Mérida e administrador apostólico de Caracas afirmou que a Venezuela vive uma “situação atípica e sem precedentes” de carência e a Igreja Católica “é a única instituição que permanece intacta” e vai continuar ajudar a população.

“É muito triste. Estamos numa situação atípica e sem precedentes, que não é o produto de uma guerra, nem de um conflito bélico, nem de uma catástrofe natural, mas com consequências semelhantes”, disse o cardeal Baltazar Porras, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Na informação enviada à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da AIS, o arcebispo de Mérida afirma que o regime político que lidera a Venezuela “destruiu o país e gerou um conflito social que está a aumentar”.

“As pessoas abandonam o país devido à situação económica, às ideias políticas, à perseguição… Não há nenhum tipo de segurança jurídica. Há também falta de emprego e de cuidados de saúde, não sendo possível levar para casa o mínimo para o sustento da família”, explicou.

Segundo o cardeal venezuelano a Igreja “é a única instituição que permanece intacta”, mas com “pressões”, pela proximidade com as pessoas e a coragem de apontar as falhas do regime enquanto outros parceiros sociais “não falam desta crise por medo”, porque o Governo “ameaça, encerrou os média e ataca as empresas”.

“Há vários anos que sofremos pressões de forma subtil, também ameaças verbais e perseguição às obras de caráter social, como a Cáritas. As paróquias recebem ataques do próprio Governo, dos conselhos comunitários e dos grupos pró-governamentais chamados ‘coletivos’”, exemplifica.

O administrador apostólico de Caracas (nomeado a 9 de julho de 2018) dá ainda como exemplo que na capital do país, “nas áreas populares”, os ‘coletivos’ estão à porta das paróquias “a ouvir o que o sacerdote diz na homilia e se não gostam começam as ameaças”.

“Dói-nos ver o nosso povo assim. Com o fenómeno da emigração, os que ficámos somos órfãos de afeto, porque a família e o ambiente em que vivemos desapareceram”, acrescentou, adiantando que o objetivo da Igreja Católica é continuar a ajudar as populações, especialmente os mais fragilizados.

D. Baltazar Porras revelou também que a Igreja Católica está preocupada que “o número de pessoas presas, torturadas, mortas e desaparecidas tenha vindo a aumentar” desde “o fenómeno (Juan) Guaidó”, o presidente da Assembleia Nacional que se proclamou presidente interino da Venezuela.

Neste contexto, refere que são ações onde “não estão envolvidos apenas altos oficiais militares” mas também “parte da população”, e, acrescenta que alguns organismos do Estado “são como uma polícia nazi, o que gera medo entre a população”.

À fundação pontifícia AIS, o arcebispo de Mérida referiu que “algo nunca antes conhecido” é a realidade do “exílio de tantos venezuelanos”, com previsões de quatro milhões de venezuelanos emigrados, principalmente na Colômbia, Peru, Chile e o estado norte-americano da Florida.

CB/OC

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