«Vatileaks»: Julgamento começa esta terça-feira com cinco acusados

Três funcionários da Santa Sé e dois jornalistas vão responder por «divulgação ilícita de notícias e documentos reservados»

Cidade do Vaticano, 23 nov 2015 (Ecclesia) – O Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano vai começar a julgar esta terça-feira cinco pessoas acusadas de “divulgação ilícita de notícias e documentos reservados”, incluindo os autores dos livros ‘Via Crucis’ e ‘Avarizia’, publicados na Itália.

A justiça do Vaticano anunciou este sábado que tinha notificado monsenhor Angel Vallejo Balda, Francesca Immacolata Chaouqui, Nicola Maio e os jornalistas Emiliano Fittipaldi e Gianluigi Nuzzi, após o final da fase instrutória do processo em curso.

Monsenhor Lucio Vallejo Balda, em prisão preventiva desde 1 de novembro, e Francesca Chaouqui foram respetivamente secretário e membro da Comissão relativa ao estudo e orientação sobre a organização das estruturas económico-administrativas da Santa Sé (COSEA), instituída pelo Papa em julho de 2013 e posteriormente dissolvida, após cumprir o seu mandato.

Nicola Maio, cujo nome foi agora divulgado pela primeira vez em relação a este processo, é um ex-colaborador do padre Vallejo Balda na COSEA.

Os três vão responder por associação criminosa para “divulgação de notícias e documentos relativos aos interesses fundamentais da Santa Sé e do Estado” da Cidade do Vaticano, que “conseguiram ilegitimamente”.

Segundo a nota divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé, os jornalistas Fittipaldi e Nuzzi “solicitavam e exerciam pressões, sobretudo em relação a Vallejo Balda, para obter documentos e notícias confidenciais, que depois utilizaram em parte para a redação de dois livros publicados na Itália em novembro de 2015”.

A primeira audiência do processo está marcada para as 10h30 (menos uma em Lisboa) desta terça-feira.

O porta-voz do Vaticano disse já ser “absolutamente falso” que cardeais ou outros prelados estejam a ser investigados no âmbito do caso de fuga e publicação de informações confidenciais da Santa Sé.

O padre Federico Lombardi confirmou que os dados revelados nos livros ‘Via Crucis’, de Gianluigi Nuzzi, e ‘Avarizia’, de Emiliano Fittipaldi, publicados na Itália, têm a sua origem na COSEA.

A 8 de novembro, o Papa reagiu publicamente às recentes polémicas sobre as atividades financeiras da Santa Sé e disse que a “reforma” em curso vai continuar.

“Gostaria de dizer-vos, antes de mais, que roubar estes documentos é um crime, um ato deplorável que não ajuda”, assinalou, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a recitação do ângelus.

O Papa pediu a “oração” e o “apoio” de todos os católicos para as mudanças que estão a ser implementadas, que implicaram, entre outras medidas, auditorias externas às contas do Vaticano e a criação de uma Secretaria para a Economia na Santa Sé, para além da implementação de medidas de transparência financeira no Instituto para as Obras de Religião (IOR, conhecido popularmente como Banco do Vaticano).

Os livros em causa apresentam, no essencial, o mesmo material com polémicas ligadas à propriedade dos bens da Santa Sé ou ao Óbolo de São Pedro, que recolhe donativos dos católicos de todo o mundo para o Papa, entre outros.

Já em 2012 o Vaticano tinha julgado um caso de fuga de documentos confidenciais, tendo na altura condenado o ex-mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele, a 3 anos de cadeia, pena reduzida para ano e meio; o agora Papa emérito viria a conceder-lhe um indulto, semanas após a condenação.

Parte do material obtido por Paolo Gabriele foi entregue a Gianluigi Nuzzi, que volta agora a estar no centro da polémica.

Outro caso mediático na justiça do Vaticano foi o do antigo núncio Jozef Wesolowski, preso em 2014 sob a acusação de abuso sexual de menores; o ex-arcebispo polaco faleceu antes de ser julgado, a 27 de agosto deste ano.

OC

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