Vaticano: Papa sai em defesa da reforma da Cúria Romana, rejeitando mentalidade de «autopreservação»

Francisco encontrou-se com os seus mais diretos colaboradores, para encontro de Natal em que traçou «rota» da mudança proposta para o governo da Igreja

Foto: Agência ECCLESIA/Arlindo Homem

Cidade do Vaticano, 21 dez 2019 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje no Vaticano com os responsáveis da Cúria Romana, para o encontro anual de Natal, junto dos quais defendeu a mudança em curso nos organismos centrais de governo da Igreja, criticando a mentalidade de “autopreservação”.

“A humanidade é a chave com que ler a reforma. A humanidade chama, interpela e provoca, isto é, chama a sair e não temer a mudança”, declarou, num longo discurso, perante os seus mais diretos colaboradores.

Francisco destacou a necessidade de transformar a Cúria Romana, “concebida e vivida no hoje do caminho percorrido pelos homens e as mulheres, na lógica da mudança de época”.

“A Cúria Romana não é um palácio ou um armário cheio de roupas que se hão de vestir para justificar uma mudança. A Cúria Romana é um corpo vivo, e sê-lo-á tanto mais quanto mais viver a integralidade do Evangelho”, apontou.

O Papa, que criou um conselho consultivo de cardeais para o ajudar nesta renovação, alertou para a atitude de “rigidez” que rejeita a mudança e cria um “campo minado de incomunicabilidade e ódio”.

O discurso deste ano abordou, em particular, os novos papéis destinados a dois organismos centrais da Santa Sé, a Congregação para a Doutrina da Fé e a Congregação para a Evangelização dos Povos, que foram criadas historicamente quando havia “um mundo cristão e um mundo carecido ainda de ser evangelizado”.

Esta situação, indicou Francisco, mudou em todos os continentes, na atualidade.

“Nas grandes cidades, precisamos de outros mapas, outros paradigmas, que nos ajudem a situar novamente os nossos modos de pensar e as nossas atitudes: já não estamos na Cristandade”, advertiu.

O Papa defendeu uma “mudança de mentalidade pastoral, que assuma este fim do regime de cristandade, “porque a fé – especialmente na Europa, mas também em grande parte do Ocidente – já não constitui um pressuposto óbvio da vida habitual; na verdade, muitas vezes é negada, desvalorizada, marginalizada e ridicularizada”.

Este processo, recordou o pontífice, foi assumido nos pontificados de São João Paulo II (1978-2005) e Bento XVI (2005-2013), a partir do conceito central de nova evangelização.

“O objetivo da reforma atual é que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autoconservação”, referiu Francisco.

O Papa sublinhou que a atual reforma da Cúria Romana assume a sua história e tem como objetivo principal a evangelização, como é assumido no título da nova constituição para os serviços centrais de governo da Igreja, ‘Praedicate evangelium’ (pregai o Evangelho), em fase de revisão, após a proposta inicial do conselho consultivo de cardeais.

A intervenção realçou que a história da Igreja “está sempre marcada por partidas, deslocações, mudanças”.

O cardeal Martini, na última entrevista dada poucos dias antes da sua morte (2012), disse palavras que nos devem interpelar: «A Igreja ficou atrasada duzentos anos. Como é possível que não se alvorace? Temos medo? Medo, em vez de coragem? No entanto, a fé é o fundamento da Igreja. A fé, a confiança, a coragem. (…) Só o amor vence o cansaço».

(Papa Francisco)

Francisco admitiu que existem “grandes desafios” nesta reforma da Cúria Romana, sujeita ao “erro humano”, pedindo que todos rejeitem a tentação de se esconder no passado, “mais tranquilizador”.

“O Natal é a festa do amor de Deus por nós. O amor divino que inspira, dirige e corrige a mudança e vence o medo humano de deixar o ‘seguro’ para se lançar no ‘mistério’. Feliz Natal para todos”, concluiu.

OC

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