Encontro com a Congregação para a Doutrina da Fé destacou defesa da dignidade humana e abordou processo sinodal
Cidade do Vaticano, 21 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa reforçou hoje no Vaticano a determinação da Igreja Católica em punir os “abusos de qualquer tipo”.
“A Igreja, com a ajuda de Deus, prossegue firmemente o compromisso de fazer justiça às vítimas de abusos por parte dos seus membros, aplicando com particular atenção e rigor a legislação canónica prevista”, referiu, numa audiência aos participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), organismo da Santa Sé.
Francisco recordou que, em dezembro de 2021, decidiu atualizar as ‘Normas sobre os crimes reservados à Congregação para a Doutrina da Fé’, visando “tornar mais eficaz a ação judicial”.
“Isso por si só não é suficiente para conter o fenómeno, mas constitui um passo necessário para restaurar a justiça, reparar o escândalo, corrigir o infrator”, observou, numa intervenção publicada pela sala de imprensa da Santa Sé, esta manhã.
A nova versão das normas sobre crimes reservados segue as alterações promovidas na área das sanções penais no Direito Canónico.
O documento foi apresentado como “mais um passo na direção do Papa contra os crimes mais graves que ferem a Igreja”, os chamados “delicta graviora”, identificados num texto promulgado em 2001 por João Paulo II e modificado em 2010 por Bento XVI.
A 1 de junho de 2021, o Papa publicou a constituição Apostólica ‘Pascite gregem Dei’, promovendo uma reforma do Direito Canónico no que se refere às sanções penais na Igreja, com atenção particular aos casos de abusos sexuais.
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No encontro com os responsáveis da CDF, Francisco destacou a importância da reflexão teológica sobre a dignidade humana.
“Na nossa época, marcada por tantas tensões sociais, políticas e até sanitárias, cresce a tentação de considerar o outro como um estranho ou um inimigo, negando-lhe uma real dignidade”, advertiu.
O Papa sustentou que a dignidade de cada ser humano tem “um caráter intrínseco, válido desde o momento da sua conceção até à sua morte natural”.
“A afirmação de tal dignidade é a condição indispensável para a proteção da existência pessoal e social, e também a condição necessária para que a fraternidade e a amizade social se realizem entre todos os povos da terra”, acrescentou.
O discurso abordou ainda a “arte do discernimento”, que colocou em relação com o Sínodo 2021-2023, um processo de consulta e mobilização das comunidades católicas que se iniciou no último mês de outubro.
“Alguns podem pensar que o caminho sinodal é ouvir todos, fazer um inquérito e oferecer resultados. Muitos votos, muitos votos, muitos votos… Não. Um caminho sinodal sem discernimento não é um caminho sinodal”, referiu o Papa.
“É necessário – no processo sinodal – discernir continuamente opiniões, pontos de vista, reflexões. Não se pode percorrer o caminho sinodal sem discernir. Este discernimento é o que fará do Sínodo um verdadeiro Sínodo, do qual o personagem mais importante – por assim dizer – é o Espírito Santo, e não um parlamento ou um inquérito de opiniões que os media podem fazer. Por isso sublinho: o discernimento no processo sinodal é importante”, acrescentou.
A intervenção apelou ao mesmo discernimento nos casos de “a dissolução do vínculo matrimonial em favor da fé”.
Os matrimónios entre não-católicos, em que pelo menos um dos esposos não é batizado, podem ser dissolvidos pelo Papa, sob certas condições, “em favor da fé e da salvação das almas”.
Francisco destacou que “a dissolução do vínculo matrimonial não sacramental” é um “ato eminentemente pastoral”, visando “a nova união e a família, da qual este novo casamento será o núcleo”.
O Papa desafiou ainda os membros da CDF a assumir a missão de “promover a fé”.
“Sem fé, a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária”, observou.
OC