Vaticano: Papa lamenta esquecimento de Deus na Europa, criticando «consumismo» e «pensamento único»

Francisco evoca perseguição aos cristãos e aos judeus, no século XX, sublinhando que «não há oração sem memória»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 22 set 2021 (Ecclesia) – O Papa lamentou hoje no Vaticano o esquecimento de Deus na Europa, criticando o consumismo e o que chamou de “pensamento único”.

“A presença de Deus é diluída, vemo-lo todos os dias, no consumismo e nos vapores de um pensamento único, uma coisa estranha, mas que é real, que é fruto da mistura de velhas e novas ideologias. Isto afasta-nos da familiaridade com o Senhor, com Deus”, referiu, durante a audiência geral desta manhã, no auditório Paulo VI.

Francisco dedicou a sua reflexão semanal à viagem que realizou à Hungria e Eslováquia, de 12 a 15 de setembro, que apresentou como “uma peregrinação de oração, uma peregrinação às raízes, uma peregrinação de esperança”.

O Papa disse ter encontrado uma história de fé e de serviço, destacando a fidelidade destes povos à sua história.

Foi isto que vi no encontro com o povo santo de Deus: um povo fiel que sofreu a perseguição ateia. Também o vi no rosto dos nossos irmãos e irmãs judeus, com os quais recordamos a Shoah. Pois não há oração sem memória”.

Francisco passou por Budapeste, para Missa de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional, e por várias cidades da Eslováquia.

“Foi uma peregrinação de oração no coração da Europa, começando pela adoração e terminando com a piedade popular. Pois o Povo de Deus é chamado sobretudo a isto: adorar, rezar, caminhar, peregrinar, fazer penitência e nisto sentir a paz, a alegria que o Senhor nos dá. A nossa vida deveria ser assim”, declarou.

O Papa convidou todos a preservar as “raízes” da sua fé, rejeitando “interesses de prestígio e de poder, para consolidar uma identidade fechada”.

A intervenção considerou “um sinal forte e encorajante” o encontro com milhares de jovens, particularmente em tempos de pandemia, e recordou a figura da Beata Ana Kolesárová, eslovaca de 16 anos que foi morta em 22 de novembro de 1944 por um militar soviético, na II Guerra Mundial, numa tentativa de violação.

“É um testemunho que infelizmente é mais atual do que nunca, pois a violência contra as mulheres é uma chaga aberta. Por todo o lado”, disse Francisco.

O Papa pediu um aplauso para as Missionárias da Caridade, fundadas por Madre Teresa de Calcutá, recordando a sua passagem por uma casa de acolhimento para sem-abrigo, gerida pelas religiosas, e disse que foi “comovente” partilhar a festa da comunidade cigana, num bairro do leste da Eslováquia.

“São nossos irmãos, devemos acolhê-los, estar próximo deles”, apelou.

No final da audiência pública semanal, Francisco deixou uma saudação aos peregrinos de língua portuguesa.

“Agradeço a quantos rezaram por esta minha viagem e, por favor, juntai uma oração mais para que as sementes então espalhadas produzam bons frutos. Que Nossa Senhora vos acompanhe e proteja, a vós todos e aos vossos entes queridos”, disse.

OC

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Agência ECCLESIA

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