Francisco pede diálogo entre culturas, para promover a amizade entre povos
Cidade do Vaticano, 31 mai 2023 (Ecclesia) – O Papa apresentou hoje no Vaticano o jesuíta Matteo Ricci (1552-1610), que levou o Evangelho à China, como exemplo de um missionário capaz de apresentar uma “mensagem cristã perfeitamente insculturada”, em diálogo com a cultura ancestral do país asiático.
“Peçamos ao Senhor que nos dê a humildade de saber abordar os outros com atitude de amizade, respeito e conhecimento da sua cultura e valores. Que saibamos acolher tudo o de bom que há neles, como Jesus quando incarnou, para nos tornarmos capazes de falar a sua linguagem”, disse aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, para a audiência pública semanal.
Após ter abordado, há duas semanas, a tentativa de chegar à China de São Francisco Xavier, “grande sonhador” e missionário do século XVI, ao serviço da Coroa Portuguesa, o Papa destacou esta manhã o percurso de Ricci, um homem que deu “toda a vida pela missão”, com “amor pelo povo chinês”.
“O espírito missionário de Matteo Ricci constitui um modelo vivo e atual”, indicou.
Partindo de Lisboa, Ricci estudou “cuidadosamente a língua e os costumes chineses”, tendo conseguido estabelecer-se no sul do país e, após 18 anos, chegar a Pequim.
“Com constância e paciência, animado por uma fé inabalável, Matteo Ricci conseguiu superar dificuldades e perigos, desconfianças e oposições”; disse Francisco.
Ele seguiu sempre o caminho do diálogo e da amizade com todas as pessoas que encontrou, e isto abriu-lhe muitas portas para o anúncio da fé cristã. A sua primeira obra em língua chinesa foi precisamente um tratado sobre a amizade, que teve grande ressonância”.
Do ponto de vista da Teologia católica, os métodos de Ricci levaram a uma longa polémica até que, em 1704, Clemente XI proibiu aos cristãos a participação nas celebrações em honra dos antepassados e de Confúcio.
“Para se integrar na cultura e na vida chinesas, num primeiro período vestia-se como os bonzos budistas, mas depois compreendeu que a melhor maneira era assumir o estilo de vida e os trajes dos eruditos”, recordou o Papa.
Francisco destacou que o padra Matteo Ricci “estudou profundamente os seus textos clássicos, a fim de poder apresentar o cristianismo em diálogo positivo com a sua sabedoria confucionista e os usos e costumes da sociedade chinesa”.
O missionário jesuíta faleceu em Pequim, em 1610, com 57 anos, sendo o primeiro estrangeiro a quem o Imperador concedeu que fosse sepultado em solo chinês.
“Os conhecimentos matemáticos e astronómicos de Ricci e dos seus seguidores missionários contribuíram para um encontro fecundo entre a cultura e a ciência do Ocidente e do Oriente, que então viverá uma das suas épocas mais felizes, no sinal do diálogo e da amizade”, indicou o pontífice.
O Papa elogiou o trabalho destes missionários que souberam “inculturar” a fé cristã em diálogo com a cultura grega.
Francisco sustentou que, no caso, de Ricci, a credibilidade obtida mediante o diálogo científico lhe conferia autoridade para “propor a verdade da fé e da moral cristã, que ele debate de modo aprofundado nas suas principais obras chinesas”, como ‘O verdadeiro significado do Senhor do Céu’.
No final da audiência, o Papa saudou os peregrinos de língua portuguesa.
“Seguindo o exemplo do Pe. Matteo Ricci, devemos anunciar o Evangelho não pela força, mas através da amizade sincera e do diálogo fraterno, que espelham o Amor de Deus por todos os seus filhos e filhas”, apelou.
OC
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Matteo Ricci
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