Vaticano: Papa condena violência gerada pelo consumismo e pede fim de Economia ao serviço da guerra

Francisco presidiu a Missa para a comunidade congolesa em Roma, evocando conflitos no país africano

Lisboa, 01 dez 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje no Vaticano à Missa com a comunidade congolesa em Roma, na qual alertou para a violência gerada pelo consumismo e denunciou uma Economia ao “serviço da guerra”.

“Vemos hoje onde o consumismo reina: quanta violência, mesmo que seja verbal, quanta raiva e desejo de procurar um inimigo a todo o custo! Assim, enquanto o mundo está cheio de armas que causam a morte, não percebemos que continuamos a armar nossos corações com raiva”, declarou, na homilia da celebração, que seguiu o rito do Missal Romano para as dioceses do antigo Zaire.

“Quando se vive para as coisas, as coisas nunca são suficientes, a ganância cresce e os outros tornam-se obstáculos na corrida; no final, todos se sentem ameaçados e, sempre insatisfeitos e com raiva, aumenta o nível de ódio – quero mais, quero mais, quero mais”, acrescentou.

A intervenção destacou a violência que tem atingido as populações no leste da República Democrática do Congo, nos territórios de Beni e Minembwe.

“Ali irrompem os conflitos, alimentados também de fora, no cúmplice silêncio de muitos. Conflitos alimentados pelos que enriquecem, vendendo armas”, denunciou o pontífice.

Segundo o portal de notícias do Vaticano, que cita a Conferência Episcopal Congolesa (Cenco), em novembro foram mortos 80 civis no território de Beni, além de episódios de sequestros e saques.

Os bispos católicos alertam para os atos levados a cabo pelos rebeldes ugandenses do ADF-Nalu nas províncias situadas no leste da República Democrática do Congo.

“É inaceitável que há décadas a dignidade da pessoa e a vida humana são constantemente ameaçadas num país em que as instituições estatais e as organizações internacionais presentes deveriam proteger a população”, lê-se no comunicado assinado pelo bispo de Kisangani, D. Marcel Utembi Tapa, presidente da Cenco.

A celebração no Vaticano decorreu no dia em que se recorda o martírio da Beata congolesa Maria Clémentine Anuarite Nengapeta (1939-1964).

Pedimos por sua intercessão que, em nome de Deus-Amor e com a ajuda dos povos vizinhos, renunciemos às nossas armas, por um futuro que não seja um contra o outro, mas uns com os outros, e nos convertamos de uma economia que ao serviço da guerra para uma economia que serve a paz”.

A homilia papal assinalou o início do tempo litúrgico do Advento, que no calendário católico serve de preparação para o Natal, nos quatro domingos anteriores ao 25 de dezembro.

Francisco alertou para o “vírus” do consumismo, da “tentação de acumular”, como se isso desse sentido à vida.

“Vive-se coisas e já não se sabe para o quê; há muitos bens, mas não se faz o bem; as casas enchem-se de coisas, mas estão vazias de crianças. Este é o drama de hoje, casas cheias de coisas, mas vazias de filhos, o inverno demográfico que estamos a sofrer”, apontou.

O Papa convidou os católicos a “desmascarar o engano” de ligar à felicidade ao que se tem e a “resistir às deslumbrantes luzes do consumo, que brilham este mês em todos os lugares”.

O Papa vai divulgar hoje uma carta sobre o significado do presépio, no lugar onde São Francisco de Assis fez a primeira representação ao vivo da Natividade, em 1223.

OC

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Agência ECCLESIA

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