Vaticano: Papa denuncia consequências negativas da extração de matérias-primas para «os mercados do Norte»

Francisco deixa apelos em favor do trabalho digno, ligado a uma «transição justa»

Cidade do Vaticano, 08 mai 2024 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje, no Vaticano, para as consequências negativas da extração de matérias-primas destinadas aos “mercados do Norte” do mundo.

“A exportação de certas matérias-primas com o único objetivo de satisfazer os mercados do Norte industrializado não está isenta de consequências, até graves, incluindo a poluição por mercúrio ou dióxido de enxofre nas minas”, declarou, numa audiência aos participantes na consulta ‘Cuidado é trabalho, trabalho é cuidado’, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé).

Falando sobre a relação entre “o trabalho digno e as indústrias extrativas”, Francisco recordou a sua encíclica ecológica e social ‘Laudato si’, de 2015.

“É essencial que as condições de trabalho estejam ligadas aos impactos ambientais, prestando muita atenção aos possíveis efeitos em termos de saúde física e mental das pessoas envolvidas, bem como de segurança”, observou.

O Papa abordou ainda a relação entre o trabalho digno e uma “transição justa”, do ponto de vista ecológico.

“Tendo em conta a interdependência entre o trabalho e o ambiente, trata-se de repensar os tipos de trabalho que devem ser promovidos para cuidar da casa comum, especialmente com base nas fontes de energia de que necessitam”, precisou.

O grupo recebido pelo Papa promoveu, ao longo dos últimos anos, um conjunto de reflexões e pesquisas, propondo “modelos inovadores de ação para um trabalho justo, equitativo e digno para todos os povos do mundo”.

É necessário, de facto, reunir todos os nossos recursos pessoais e institucionais, para iniciar uma leitura adequada do contexto social em que nos movemos, procurando captar as potencialidades e, ao mesmo tempo, reconhecer antecipadamente os males sistémicos que podem tornar-se flagelos sociais”.

Francisco mostrou-se preocupado com a segurança alimentar de centenas de milhões de pessoas, aludindo em particular às “zonas devastadas pela guerra”, como Gaza e o Sudão, onde “o maior número de pessoas está a enfrentar a fome”.

“As catástrofes naturais e as condições meteorológicas extremas, agora intensificadas pelas alterações climáticas, para além dos choques económicos, são outros fatores importantes de insegurança alimentar”, acrescentou.

O discurso, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, aludiu também à situação dos trabalhadores migrantes.

“Estas pessoas, também devido a preconceitos e informações inexatas ou ideológicas, são frequentemente vistas como um problema e um fardo para os custos de uma nação, quando na realidade, ao trabalharem, contribuem para o desenvolvimento económico e social do país de acolhimento e do país de onde provêm”, advertiu.

O Papa assumiu a sua preocupação com a baixa taxa de natalidade nos países ocidentais, um “problema muito grave”, que a migração pode ajudar a mitigar.

“No entanto, muitos migrantes e trabalhadores vulneráveis ainda não estão totalmente integrados com plenos direitos, são cidadãos de segunda, excluídos do acesso a serviços de saúde, cuidados, assistência, regimes de proteção financeira e serviços psicossociais”, lamentou.

No início do encontro, o cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, considerou “urgente refletir sobre o futuro do trabalho no contexto das grandes mudanças que estão a acontecer”.

“O objetivo primordial é sempre defender a dignidade e promover os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras”, sustentou.

OC

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Agência ECCLESIA

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