Vaticano: Papa critica Nicarágua pela expulsão de Missionárias da Caridade e pede «paciência» para o diálogo com a China

Francisco aponta a futuras viagens, nos próximos meses, apesar dos problemas no joelho

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 15 set 2022 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje o a Nicarágua pela expulsão das Missionárias da Caridade e outros atos contra a Igreja Católica, no país, sublinhando que a Santa Sé tem procurado dialogar com o regime de Daniel Ortega.

“Todas as notícias sobre a Nicarágua são claras. Há diálogo. Foi falado com o governo, há diálogo. Isso não quer dizer que se aprova tudo o que o governo faz ou que se desaprova tudo. Não. Há diálogo e é preciso resolver os problemas. Neste momento existem problemas”, admitiu Francisco.

Falando aos jornalistas, no voo de regresso ao Vaticano, após uma viagem de três dias ao Cazaquistão, o Papa disse esperar que “pelo menos as Irmãs de Madre Teresa regressem”, após terem sido obrigados a sair da Nicarágua.

“Essas mulheres são boas revolucionárias, mas do Evangelho! Não fazem guerra contra ninguém. Na verdade, todos nós precisamos dessas mulheres. Este é um gesto que não se entende”, apontou.

A situação no país da América Central tinha sido alvo de uma intervenção do Papa, após a recitação do ângelus do último dia 21 de agosto.

Francisco disse esta noite esperar que o diálogo possa continuar, mas admitiu que há situações que custam a “entender”.

“Colocar um núncio na fronteira é uma coisa grave diplomaticamente. O núncio é uma pessoa boa, que agora foi nomeado para outro lugar. Essas coisas são difíceis de entender e até de engolir”, indicou, a respeito da expulsão do seu representante diplomático na Nicarágua, D. Waldemar Stanislaw Sommertag, arcebispo polaco que a 6 de setembro foi designado como núncio apostólico no Senegal, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Mauritânia.

Foto: Vatican Media

O Papa foi ainda questionado sobre a situação da Igreja Católica na China, pedindo “paciência”.

“Para entender a China, precisamos de um século e nós não vivemos um século. A mentalidade chinesa é uma mentalidade rica e quando fica um pouco doente, perde a sua riqueza, é capaz de cometer erros”, observou.

Francisco sublinhou que a Santa Sé escolheu o caminho do “diálogo” com Pequim, mas admitiu que a comissão bilateral avança “lentamente, porque o ritmo chinês é lento”.

“Não é fácil entender a mentalidade chinesa, mas ela deve ser respeitada, eu respeito-a sempre”, admitiu.

O Papa falou de um país muito “complexo”, com situações que, para um ocidental, “parecem antidemocráticas”, abordando as acusações dirigidas ao cardeal Zen, que se prepara para ir a julgamento, por, alegadamente, colaborar com forças estrangeiras.

“Ele diz o que sente e aí podemos ver que há limitações. Mais do que qualificar, porque é difícil, não me agrada qualificar, são impressões, tento apoiar o caminho do diálogo. Com o diálogo esclarecem-se muitas coisas”, prosseguiu.

O presidente chinês, Xi Jinping, esteve no Cazaquistão ao mesmo tempo que Francisco, mas os dois acabaram por não se encontrar.

“Ele estava em visita de Estado lá, mas eu não o vi”, referiu o pontífice.

Falando sobre a sua passagem pelo território cazaque, o Papa admitiu a sua “surpresa”, elogiando os responsáveis políticos e a minoria católica.

Foto: Vatican Media

Francisco participou no VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais, respondendo às críticas de quem o acusa de fomentar o “relativismo”.

“Cada um expressou a sua opinião, todos respeitaram a posição do outro, mas dialoga-se como irmãos. Porque se não há diálogo, há ignorância ou guerra. É melhor viver como irmãos, temos uma coisa em comum, somos todos humanos”, apelou.

O Papa alertou, neste sentido, para as consequências negativas da “falta de conhecimento” recíproco.

“Isso não é relativismo, eu não renuncio à minha fé se falo com a fé de outro, pelo contrário. Eu honro a minha fé, porque o outro escuta e eu o escuto a ele”, acrescentou.

OC

Francisco, de 85 anos, admitiu que tem sido “difícil” viajar, porque “o joelho ainda não se curou”.

“É difícil, mas a próxima irei fazê-la (projeto de viagem ao Barém, em novembro, ndr). Depois, falei com o monsenhor Welby (arcebispo da Cantuária, primaz da Igreja Anglicana) e vimos como possibilidade o mês de fevereiro, para ir ao Sudão do Sul. Se for ao Sudão do Sul, também irei ao Congo. Estamos a tentar, temos de ir os três juntos: o chefe da Igreja da Escócia, monsenhor Welby e eu”, acrescentou.

O Papa fez, desde 2013, 38 viagens internacionais, nas quais visitou 57 países: Brasil, Jordânia, Israel, Palestina, Coreia do Sul, Turquia, Sri Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba, Estados Unidos da América, Quénia, Uganda, República Centro-Africana, México, Arménia, Polónia, Geórgia, Azerbaijão, Suécia, Egito, Portugal, Colômbia, Mianmar, Bangladesh, Chile, Perú, Bélgica, Irlanda, Lituânia, Estónia, Letónia, Panamá, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bulgária, Macedónia do Norte, Roménia, Moçambique, Madagáscar, Maurícia, Tailândia, Japão, Iraque, Eslováquia, Chipre, Grécia (após ter estado anteriormente em Lesbos),  Malta, Canadá e Cazaquistão; Estrasburgo (França) – onde esteve no Parlamento Europeu e o Conselho da Europa -, Tirana (Albânia), Sarajevo (Bósnia-Herzegovina), Genebra (Suíça) e Budapeste (Hungria), para o encerramento do Congresso Eucarístico Internacional.

 

 

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