Em entrevista à «Associated Press», Francisco reafirma empenho da Igreja Católica no reconhecimento da «dignidade» de todos
Cidade do Vaticano, 25 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa criticou as legislações que criminalizam a homossexualidade, em vários países do mundo, assumindo a intenção de lutar pelo fim destas leis, que considerou “injustas”.
“Ser homossexual não é um crime, é uma condição humana”, referiu, em entrevista publicada hoje pela agência norte-americana ‘Associated Press’ (AP).
“Não é um crime. ‘Sim, mas é um pecado’… Muito bem, mas primeiro vamos distinguir entre um pecado e um crime”, acrescentou, realçando que “também é um pecado faltar com a caridade ao próximo”.
Francisco sustentou que, neste campo, há bispos que precisam de um “processo de conversão”, para tratar todas as pessoas com “ternura”, como Deus faz com cada um.
O Papa citou o catecismo da Igreja Católica, que no seu número 2358 destaca que estes homens e mulheres “devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza”, evitando “qualquer sinal de discriminação injusta”.
“Somos todos filhos de Deus, e Deus ama-nos como somos e pela força com que cada um de nós luta pela nossa dignidade”, destacou.
Francisco assinalou que a Igreja Católica deve empenhar-se na luta contra quaisquer leis “injustas”, neste campo.
“Tem de o fazer”, insistiu.
Em outubro de 2020, o Papa defendeu necessidade de os Estados oferecerem proteção legal para uniões entre pessoas do mesmo sexo.
“O que temos de fazer é uma lei de convivência civil, [as pessoas] têm direito a estar protegidas legalmente”, refere, numa das passagens do filme ‘Francesco’, do realizador Evgeny Afineevsky.
Em várias intervenções, desde a sua eleição pontifícia em 2013, o Papa tem distinguido estas uniões homossexuais, no plano civil, do sacramento do Matrimónio, reservado na Igreja Católica à união entre um homem e uma mulher.
A entrevista divulgada no documentário sublinhava a necessidade de acompanhar as pessoas homossexuais na sua família.
“As pessoas homossexuais têm direito a estar em família, são filhos de Deus, têm direito a uma família. Não se pode expulsar uma pessoa da sua família ou tornar a vida impossível para ela”, indicou.
A mesma posição tinha sido assumida em entrevista ao canal mexicano Televisa, em 2019: “As pessoas homossexuais têm o direito de estar na família, as pessoas com uma orientação homossexual têm o direito de estar na família e os pais têm o direito de reconhecer aquele filho como homossexual, aquela filha como homossexual. Ninguém pode ser expulso da família ou que a sua a vida se torne impossível por isso”.
Após o Encontro Mundial da Família a que presidiu na Irlanda, em agosto de 2018, o Papa sustentou que “ignorar o filho ou a filha com uma tendência homossexual é uma falta de paternidade e maternidade”.
No livro-entrevista ‘Política e sociedade’ (2017), do sociólogo francês Dominique Wolton, Francisco defendeu que o casamento se limita às relações “entre um homem e uma mulher”, pela “natureza das coisas” e pela história da humanidade, pelo que as uniões entre pessoas do mesmo sexo deveriam ser chamadas “uniões civis”.
Em 2013, poucos meses depois do início do seu pontificado, Francisco abordou o tema numa entrevista à revista jesuíta ‘La Civiltà Cattolica’, recordando que recebeu em Buenos Aires várias cartas de pessoas homossexuais, “feridos socais” nas quais estas lhe diziam sentir “que a Igreja sempre os condenou”.
A Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé) publicou em 2003 uma nota com documento “Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais”, no qual se sustentava que “as legislações que favorecem as uniões homossexuais são contrárias à reta razão, porque dão à união entre duas pessoas do mesmo sexo garantias jurídicas análogas às da instituição matrimonial.
Os jornalistas que acompanhavam Francisco na viagem de regresso a Roma, desde o México, a 17 de fevereiro de 2016, questionaram-nos sobre este documento, tendo o Papa respondido que aos políticos compete enfrentar estes temas com uma consciência “bem formada”, antes de reafirmar, sobre as pessoas do mesmo sexo, o que disse na viagem de regresso do Rio de Janeiro, em 2013: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar?”.
Em outubro de 2016, no voo de regresso a Roma, desde o Azerbaijão, Francisco realçou em conferência de imprensa que as suas críticas à ideologia do género não implicam uma rejeição de homossexuais ou transsexuais por parte da Igreja Católica.
“Acompanhei na minha vida de sacerdote, de bispo e até de Papa, pessoas com tendência e também com prática homossexual”, declarou.
“Nunca abandonei ninguém”, insistiu.
Meses antes, na conferência de imprensa no final da viagem à Arménia, reforçou a indicação de que os homossexuais “não devem ser discriminados, mas devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente”.
OC
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