Vaticano: Documentário sobre encíclica «Laudato Si», protagonizado pelo Papa, sublinha urgência de travar crise climática (c/vídeo)

«A natureza grita: parem!», diz Francisco, que se une a cientistas, ativistas e líderes indígenas

Cidade do Vaticano, 04 out 2022 (Ecclesia) – O Vaticano apresentou hoje o documentário ‘A Carta’, com a participação do Papa, que apresenta reflexões sobre a “crise climática”, a partir da encíclica ‘Laudato Si’ (2015).

“A natureza grita: parem! Parem!”, diz Francisco, na obra lançada, simbolicamente, na festa litúrgica de São Francisco de Assis, que encerra o ‘Tempo da Criação’, iniciativa ecuménica de ação e oração que se iniciou a 1 de setembro.

O documentário foi apresentado em conferência de imprensa, esta terça-feira, no Vaticano, com a presença do cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

“A crise ecológica está a acontecer agora. Acabou o tempo da especulação, do ceticismo e da negação, do populismo irresponsável. Inundações apocalípticas, enormes secas, ondas de calor desastrosas e ciclones e furacões catastróficos tornaram-se o novo normal nos últimos anos; continuam hoje e amanhã vão piorar”, alertou o colaborador do Papa.

O cardeal lamentou que, desde 2015, quando foi lançada a encíclica ecológica e social assinada por Francisco, a crise ambiental se tenha agravado “drasticamente”.

O documentário “A Carta” (The Letter) foi realizado pelo cineasta Nicolas Brown e a sua equipa da ‘Off The Fence Productions’ (My Octopus Teacher), com o Movimento ‘Laudato si’ e o Dicastério para a Comunicação, da Santa Sé.

D. Michael Czerny destacou a importância de ouvir “as vozes das periferias”, dos jovens, dos pobres, dos povos indígenas.

“Este belo filme – uma história comovente, mas esperançosa – é um grito para as pessoas em todos os lugares: acordem! Levem isto a sério, encontram-se, ajam em conjunto e ajam agora”, concluiu.

Foto: Lusa/EPA

A conferência de imprensa contou com a presença de outro dos intervenientes no filme, o cacique Odair “Dadá” Borari, do Território Indígena Maró, do Pará (Brasil), o qual pediu “justiça” para os povos indígenas.

“Sofremos na pele com a perda da floresta”, assumiu o responsável, que tem proteção policial, por causa das ameaças que vem recebendo nos últimos anos.

Lorna Gold, presidente do Conselho de Administração do ‘Movimento Laudato Si’, assinalou que o documentário quer levar a mensagem do Papa a “novos públicos, a cada pessoa”.

A responsável sublinhou o simbolismo deste lançamento na festa litúrgica de São Francisco de Assis, que pode inspirar todos a redescobrir a importância de “cuidar uns dos outros e cuidar do planeta”

O filme explora questões como direitos indígenas, migração climática e liderança juvenil no contexto da ação sobre o clima e a natureza, apresentando um diálogo exclusivo com o Papa Francisco.

A estreia acontece também no dia da entrada oficial da Santa Sé no marco do Acordo de Paris sobre alterações climáticas.

Nicolas Brown, realizador do documentário, fala de Francisco como uma “bússola moral.

“Espero que todos possamos encontrar um renovado sentido de propósito e compromisso para proteger a nossa casa comum e ter compaixão por todos os seres vivos”, refere, em comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

O novo documentário tem estreia mundial, no Vaticano, pelas 18h30 (17h30 em Lisboa), ficando também disponível de forma gratuita, no canal Originals do YouTube.

OC

A encíclica ‘Laudato si’ foi lançada a 18 de junho de 2015, propondo uma mudança de fundo na relação da humanidade com o meio ambiente, face às consequências do aquecimento global e das alterações climáticas.

O texto fala numa “raiz humana” da crise ecológica, que o Papa diz ser possível superar, entre outras medidas, “substituindo os combustíveis fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável”.

A encíclica com 246 números, divididos em seis capítulos, fala da “relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta” e lança várias críticas a um “novo paradigma e formas de poder que derivam da tecnologia”, desafiando a comunidade internacional a “procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso”.

Francisco convida a reconhecer “o valor próprio de cada criatura”, o “sentido humano da ecologia”, e considera que face a temas tão complexos existe a necessidade de “debates sinceros e honestos”.

O Papa recorda “a grave responsabilidade da política internacional e local”, condenado o aborto e a “cultura do descarte”, num texto que apresenta a proposta dum “novo estilo de vida” para a humanidade.

A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Laudato si’’ (louvado sejas) remete para o ‘Cântico das Criaturas’ (1225), de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.

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