Cardeal português fala em gesto que reforça «confiança e abertura» a todos os investigadores
Cidade do Vaticano, 30 out 2019 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário do Vaticano, saudou a mudança de nome do Arquivo do Papa, que abandona a denominação “Secreto”, por decisão de Francisco.
“Este Arquivo profundamente ‘católico’, porque nele se reflete a vida da Igreja universal e do mundo inteiro, é partilhado, sem temor, com os estudiosos de todo o mundo, com um gesto de confiança e de abertura que é a apologia mais correta e convincente da nossa fé”, escreve o responsável, num texto divulgado na edição de hoje do jornal da Santa Sé, ‘L’Osservatore Romano’.
Para o responsável da Cúria Romana, a decisão do Papa Francisco de mudar, na denominação do Arquivo, o adjetivo “secreto” para “apostólico” está em “total continuidade” com a dinâmica imprimida nos últimos séculos, pelos seus predecessores.
“A conotação fosca e opaca que acompanha, na sensibilidade e no imaginário, o termo ‘secreto’ tornava este passo necessário, pois o valor originário de ‘secreto’ desapareceu – seria simplesmente ‘privado’ (‘secretum’ de ‘secernere’, portanto ‘reservado’, ou seja à disposição do soberano e do seu governo”, precisa D. José Tolentino Mendonça.
O cardeal madeirense recorda ainda que o termo “apostólico” é historicamente atestado desde o século XVII, século do nascimento do moderno Arquivo do Vaticano.
“O Arquivo do Vaticano é o Arquivo do Papa, da sua Cúria; portanto é plena e verdadeiramente ‘apostólico’, necessário e indispensável ao sucessor do apóstolo Pedro no seu serviço à Igreja universal”, escreve.
D. José Tolentino Mendonça assinala que a decisão do Papa Francisco tem “outra significativa consequência positiva”, dado que a partir de agora o Arquivo e a Biblioteca são definidos pelo adjetivo “Apostólico”.
“Arquivo e Biblioteca não são uma joia e um luxo do passado, mas são um recurso para o futuro, para compreender e interpretar a história dos homens, da qual são um espelho incomparável e fiel”, sustenta.
O Arquivo Vaticano foi fundado na primeira década do século XVII pelo Papa Paulo V, que separou o acervo de arquivística do acervo de livros da Biblioteca do Vaticano.
O cardeal Tolentino Mendonça refere que, em 1881, o Papa Leão XIII teve “a extraordinária coragem e a profunda previdência de abrir progressivamente aos estudiosos de todo o mundo a consulta dos documentos reunidos no Arquivo Vaticano”.
O cónego José Paulo Abreu, presidente do Conselho de Administração do Instituto de História e Arte Cristã (IHAC), na Arquidiocese de Braga, referiu à Agência ECCLESIA que “ninguém presta um bom serviço à investigação e à cultura” fechando arquivos.
“Nós hoje nos arquivos não privilegiamos o secretismo”, mas a sua fruição e acessibilidade à documentação.
Estes documentos são vistos, na Igreja Católica, como “pegadas da passagem de Deus pela história dos homens”.
O especialista sublinha que já há muito que o Arquivo do Vaticano, com exceção de situações de reserva por “razões especiais”, não “tinha nada de secreto”.
“Este título, alterado, repõe a verdade”, conclui.
LFS/OC