Vaticano: Casos de abusos sexuais não beliscaram santidade de João Paulo II, diz cardeal português

D. José Saraiva Martins lembra um «santo humano» e explica os passos que se seguem rumo à canonização

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Roma, 30 abr 2011 (Ecclesia) – O cardeal português no Vaticano, José Saraiva Martins, afirmou hoje em Roma que os casos de abusos sexuais sobre menores, por membros do clero católico, não “beliscam minimamente” a santidade de João Paulo II.

Em declarações aos jornalistas, a respeito da próximo beatificação do Papa polaco, o antigo responsável pela Congregação para as Causas dos Santos (CCS) admitiu que a questão da pedofilia no seio da Igreja Católica foi “levada em conta” na «positio», dossier que reúne toda a documentação recolhida para este processo.

“Nunca foi dito que [João Paulo II] estivesse ao corrente de tudo, que estivesse informado de tudo. À minha volta podem acontecer muitas coisas, mas se não estou informado, que culpa tenho?”, questionou.

Alemanha Áustria, Bélgica, Estados Unidos da América e Irlanda foram alguns dos países onde ocorreram denúncias contra sacerdotes, nos últimos anos, com vários casos a terem acontecido durante o pontificado de João Paulo II, entre 1978 e abril de 2005.

“Estes acontecimentos não beliscaram minimamente a santidade de João Paulo II”, indicou o cardeal português.

Falando num “santo humano”, Saraiva Martins lembrou Karol Wojtyla (1920-2005) como um defensor da “dignidade do homem”, destacando a sua “coragem e entusiasmo”.

“Era profundamente humano porque era um grande santo”, afirmou.

O cardeal confirmou o que foi noticiado esta manhã pela Lusa e a Agência ECCLESIA sobre a necessidade de um milagre que aconteça “depois da beatificação”, admitindo casos acontecidos durante a própria cerimónia, desde que aprovados pelo Papa.

A CCS, adiantou vai estudar todos os “presumíveis milagres” que surjam depois de domingo, com a ajuda de mais de 60 médicos, “grandes especialistas”, para definir se o caso “é explicável cientificamente à luz da ciência atual”.

A cura, acrescentou José Saraiva Martins, deve ser “instantânea, completa e duradoura” e o parecer chega mesmo a ser pedido a médicos agnósticos ou de outras religiões.

Aos teólogos, compete falar do nexo causal entre a oração de intercessão e a cura, passando depois o processo para o “parlamento” da CCS, com 30 membros entre cardeais, arcebispos e bispos, que estudam os documentos para a canonização durante um mês.

As conclusões, quando são aprovadas, são levadas ao Papa, que tem de pronunciar a palavra final sobre as mesmas.

Questionado sobre a data em que o beato João Paulo II poderia ser proclamado santo, o cardeal português evitou prever quanto tempo seria necessário esperar, mas deixou votos de que “aconteça um milagre quanto antes, porque há muita gente que o invoca”.

“O que é certo é que é preciso um novo milagre para a canonização”, prosseguiu.

Em relação à beatificação, Saraiva Martins disse esperar um “espetáculo estupendo, magnífico, único” com uma multidão de “todo o mundo”.

“A beatificação não tem um sentido estritamente religiosa, mas também social”, acrescentou, referindo que muitos, mesmo não crentes, consideram João Paulo II como um “modelo”.

A celebração do próximo domingo, no Vaticano, foi anunciada a 14 de janeiro, depois da publicação do decreto que comprovava um milagre atribuído à intercessão de João Paulo II, Karol Wojtyla (1920-2005), relativo à cura da religiosa francesa Marie Simon-Pierre, que sofria de Parkinson, tal como o Papa polaco.

OC

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