Vaticano: Cardeal Angelo Becciu diz-se inocente de acusações de peculato

Responsável italiano explica demissão da Congregação para a Causa dos Santos e renúncia ao cardinalato

D. Angelo Becciu.
Foto: João Lopes Cardoso/Diocese do Porto

Roma, 25 set 2020 (Ecclesia) – O antigo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos (Santa Sé), D. Angelo Becciu, reagiu hoje em conferência de imprensa às acusações que levaram o Papa a pedir a sua renúncia, rejeitando qualquer crime financeiro.

“Parece-me estranho ser acusado (de peculato)”, referiu, numa conferência de imprensa que decorreu em Roma.

Esta quinta-feira, ao final da tarde, a Santa Sé informou em comunicado que o responsável renunciava ao seu cargo na Cúria Romana e aos “direitos ligados ao cardinalato”, sem adiantar os motivos da decisão.

Antes de ser nomeado para Congregação para a Causa dos Santos foi figura de destaque na diplomacia da Santa Sé, como substituto dos Assuntos Gerais do Secretário de Estado do Vaticano, cargo para o qual foi escolhido pelo Papa emérito Bento XVI.

O diplomata tinha sido ainda núncio apostólico em Angola e em Cuba; foi criado cardeal pelo Papa Francisco em 2018.

Os casos de renúncia às prerrogativas do cardinalato são raros: em 2015, o escocês D. Michael Patrick O’Brien abdicou dos direitos e prerrogativas do cardinalato (como a participação no Conclave para eleição de um novo Papa), após admitir ter cometido abusos sexuais; viria a falecer em 2018.

Já em 2018, o Papa Francisco suspendeu do exercício público do ministério o antigo arcebispo de Washington (EUA), D. Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais, aceitando a sua renúncia como membro do Colégio Cardinalício; em 2019, o Vaticano condenou-o à pena de “demissão do estado clerical”.

Em 2019, D. Angelo Becciu tinha rejeitado acusações de envolvimento em investimentos imobiliários da Santa Sé em Londres, alegadamente irregulares e atualmente sob investigação da Justiça do Vaticano.

Em declarações aos jornalistas, o responsável italiano admitiu hoje que houve a atribuição de um fundo de 100 mil euros à Cáritas da sua terra natal, na Sardenha, mas sustentou que a iniciativa visava responder à “emergência do desemprego”.

D. Angelo Becciu negou ter desviado verbas da Santa Sé, em particular do chamado ‘Óbolo de São Pedro’, o fundo da caridade do Papa, justificando os investimentos na capital de Inglaterra com a necessidade de fazer “crescer” um fundo próprio da Secretaria de Estado do Vaticano.

O responsável mostrou-se surpreendido com a decisão do Papa, que lhe retirou a sua confiança, falando num “mal-entendido”.

“Tornando-me cardeal, prometi dar a minha vida pela Igreja e pelo Papa. Hoje renovo a minha confiança”, acrescentou.

OC

Vaticano: Cardeal Angelo Becciu deixa Congregação para a Causa dos Santos e renuncia ao cardinalato

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Agência ECCLESIA

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