Vaticano/Atentados: Papa pede «prudência» para evitar reações violentas

Francisco apela à intervenção do Islão moderado para contrariar fundamentalismo terrorista

Lisboa, 20 jan 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco reafirmou esta segunda-feira que o uso da liberdade de expressão exige a virtude da “prudência”, para evitar ofender o outro e provocar reações violentas.

“Em teoria, estamos todos de acordo: há liberdade de expressão e uma reação violenta não é boa, é sempre má. Todos de acordo. Na prática, no entanto, vamos parar um pouco, porque somos humanos e arriscamo-nos a provocar os outros: por isso, a liberdade tem de ser acompanhada pela prudência”, declarou, em conferência de imprensa, no voo entre Manila e Roma.

O Papa foi questionado sobre as reações que as suas declarações sobre os “limites” da liberdade de expressão, na última quinta-feira, provocaram em vários setores, nalguns casos com acusações de estar a justificar a violência.

“Na teoria, estamos todos de acordo, mas somos humanos e há a prudência, que é uma virtude da convivência humana”, disse, em resposta aos jornalistas.

Francisco sublinhou que, no plano dos princípios, a reação violenta perante uma ofensa ou uma provocação “não é uma coisa boa” e que, segundo o Evangelho, é preciso “oferecer a outra face”, mas observou que “a liberdade de expressão deve ter em conta a realidade humana”.

“Não posso insultar, provocar continuamente uma pessoa, porque me arrisco a deixá-la enraivecida, arrisco-me a ser alvo de uma reação imprópria”, alertou.

O Papa defendeu, por isso, que é a prudência a “virtude humana” que deve regular as relações entre as pessoas.

A respeito dos atentados e ataques terroristas em várias partes do mundo, Francisco renovou o apelo para que os “líderes religiosos, académicos e intelectuais” do mundo muçulmano se manifestem.

“Também o povo islâmico moderado exige isso dos seus líderes”, acrescentou.

O Papa admitiu que é preciso “algum tempo” para que se assumam estas posições públicas de condenação do fundamentalismo, porque a situação dos responsáveis muçulmanos “não é fácil”.

“Tenho esperança, porque há tanta gente boa entre eles, tantas pessoas boas, muitos bons líderes, estou certo de que se vai chegar lá”, concluiu.

Francisco falou também sobre o "terrorismo de Estado" que leva a descartar os mais pobres e renovou as críticas à corrupção, dando um exemplo que aconteceu consigo, em 1994, quando era bispo na Argentina: dois funcionários de um ministério tinham 400 mil dólares que podiam oferecer para ajudar os pobres, desde que ficassem com metade.

"Nesse momento, fiquei a pensar no que havia de fazer: ou os insulto e lhes dou um pontapé onde o sol não brilha ou faço-me de parvo. E fiz-me de parvo", recordou, tendo recusado alinhar nesse esquema.

OC

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