Vaticano: «A solidariedade deve ser globalizada», indicou o Papa perante milhares de voluntários da Cruz Vermelha italiana

Francisco recebeu em audiência elementos da instituição humanitária, agradeceu pelo serviço que prestam e abordou guerras e sofrimento

Cidade do Vaticano, 06 abr 2024 (Ecclesia) – O Papa Francisco apelou hoje, no Vaticano, perante milhares de voluntários da Cruz Vermelha italiana, para que se “globalize a solidariedade, atuando a nível nacional e internacional”, quando falava no sofrimento que afeta todos os cantos do mundo.

“Nenhum contexto se pode afirmar isento de sofrimento, isento das feridas do corpo e da alma, seja nas pequenas comunidades ou nos cantos mais esquecidos da terra. A solidariedade deve ser globalizada, atuando a nível nacional e internacional”, defendeu o Papa, num discurso publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

Segundo Francisco, “são necessárias normas que garantam os direitos humanos em toda a parte, práticas que alimentem a cultura do encontro e pessoas capazes de olhar o mundo com uma perspetiva ampla. Olhar para o horizonte”.

Na audiência com membros da instituição humanitária, no âmbito do 160ºaniversário da sua fundação, o Papa lembrou que foi em junho de 1864 que foi instituída, em Milão, com a designação de ‘Comité da Associação Italiana de Socorro aos Feridos e Doentes de Guerra’.

O Papa assinalou que “perante a devastação e o sofrimento causado pela guerra”, assistiu-se a “uma explosão de humanidade” que se traduziu “em gestos e obras concretas de assistência e cuidado, sem distinção de nacionalidade, classe social, religião ou opinião política”.

“Esta corrente de amor nunca mais parou: hoje, como ontem, a vossa é uma presença eficaz e preciosa, sobretudo em todos os contextos em que o barulho das armas abafa o grito dos povos, a sua ânsia de paz e o seu desejo de futuro”, destacou.

No discurso lido, Francisco aproveitou a ocasião especial para manifestar “gratidão” pelo serviço que elementos da Cruz Vermelha prestam “no contexto de guerra” e “pela ajuda que dão todos os dias aos necessitados em diversas situações de emergência”: “Muito obrigado, muito obrigado por tudo isto!”.

“O vosso empenho, inspirado nos princípios de humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, voluntariado, unidade e universalidade, é também um sinal visível de que a fraternidade é possível”, disse o Papa aos cerca de oito mil membros da Cruz Vermelha italiana participantes na audiência.

Se colocarem “a pessoa no centro”, podem “dialogar, trabalhar em conjunto para o bem comum, ultrapassando as divisões, derrubando os muros da inimizade, superando a lógica do interesse e do poder que cega e faz do outro um inimigo. Para o crente, cada pessoa é sagrada”, acrescentou.

O Papa realçou a realidade dos mais vulneráveis, as crianças, e lamentou a condição de muitas chegaram a Itália da guerra na Ucrânia.

“Sabem de uma coisa? Essas crianças não sorriem, esqueceram a capacidade de sorrir. Isto é mau para uma criança. Pensemos nisso”, pediu.

Neste contexto, o Papa evocou o “insubstituível serviço” que a instituição humanitária tem “em zonas de conflito e em zonas afetadas por catástrofes ambientais, no campo da educação e da saúde”, bem como pela missão que tem junto dos “migrantes, dos últimos e dos mais vulneráveis”.

O Papa aludiu ao slogan que a Cruz Vermelha italiana escolheu para celebra os 160 anos, “Em todo o lado para todos”, referindo que “é universal”, “uma expressão, que, ao mesmo tempo que descreve um compromisso, descreve também um estilo, uma forma de ser e de estar”.

“Em todo o lado e para todos, porque a nossa sociedade é a sociedade do ‘eu’ e não do ‘nós’, do pequeno grupo e não de todos. É uma sociedade, neste sentido, egoísta. A palavra ‘qualquer pessoa’ recorda-nos que cada pessoa tem a sua dignidade e merece a nossa atenção: não podemos afastá-la ou rejeitá-la devido à sua condição, deficiência, origem ou estatuto social”, advertiu.

Francisco incentivou os voluntários a continuarem a estar ao lado dos irmãos e irmãs necessitados, “com competência, generosidade e dedicação, especialmente numa altura em que o racismo e o desprezo crescem como ervas daninhas”.

No final da audiência, o Papa, de cadeira de rodas, cumprimentou os voluntários e ficou registado o momento em que usou um boné da organização.

LJ

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