Educação: Universidade é um local técnico onde «sinais de Igreja despontam»

IV Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior iniciou com uma intervenção de D. Joaquim Mendes e contou com conferências de D. Manuel Clemente,  José Eduardo Franco e Ana Jorge

Fátima, 09 mar 2019 (Ecclesia) – O diretor do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior lamenta que o mundo das universidades seja pautado por um “conhecimento muito técnico”, sem espaço para as grandes perguntas mas evidencia “sinais de uma Igreja verdadeira” a despontar.

“O conhecimento superior é muito técnico e as grandes questões não são trabalhadas: a questão do bem e do mal, de onde vimos e para onde vamos… estas são as perguntas que, mais cedo ou mais tarde, os alunos vão colocar”, indica o padre Eduardo Duque à Agência ECCLESIA, durante o IV Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior, dedicado ao tema «Discernir para agir».

O responsável acredita que o conhecimento mútuo, “a partilha de questões de profundidade” traduzem na população académica “sinais”.

“Há muita gente, professores e funcionários, que fazem muito bem dentro das suas instituições, que semeiam e fazem bem no seu silêncio mas são necessários sinais externos para que os alunos, em momentos de tribulação, podem colocar questões de profundidade”, enfatiza o responsável.

As experiências da Missão País ou dos Núcleos de Estudantes Católicos são “sinais de uma Igreja verdadeira a despontar”.

O mesmo acredita o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que acompanha uma “movimentação muito expressiva” do cristianismo no âmbito universitário.

“Tudo isto é uma movimentação muito expressiva do que o cristianismo pode dar, quando é vivido e convivido na prática porque não são apenas encontros teóricos: Começam por ser vivências em zonas que (os estudantes) nunca viram, participantes em comunidades que nem imaginavam. Essa experiência forte na Universidade transporta-os para mais, para melhor, para mais autenticidade. Isto é novo mas antigo, porque é o Evangelho”, afirma à Agência ECCLESIA.

O caminho de testemunho cristão no ensino superior será sempre de “personalização”.

“Que seja pessoalmente o que se professa, e que isso permita às outras pessoas serem ainda mais pessoas, seres de relação. Isso acontece numa aula, num corredor, no acompanhamento de um aluno, numa atenção aos que têm mais dificuldade em seguir a lecionação. São atitudes cristãs que marcam o agir”, traduz o cardeal-patriarca de Lisboa.

Orador durante o IV Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior, o professor José Eduardo Franco destacou a necessidade de se voltar aos “modelos e mestres”, ao que é “permanente, fundamental e sólido”, num mundo marcado por um “excesso de inteletualismo, de racionalismo, de relativismo”.

O meio juvenil, indica, apresenta “exemplos extraordinários” que contrariam o “burburinho e ruído”, procurando espaços de silêncio para se “reabilitarem” e encontrarem “uma plenitude para além do que é proposto pela sociedade”.

“Há jovens que dão grandes exemplos aos próprios adultos”, enfatiza o investigador.

A diretora da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, Ana Jorge, destacou o diálogo entre diferentes saberes para um compromisso com o mundo atual.

“A relação entre os vários saberes está intrínseca à Teologia. Todos os saberes se cruzam e a relação da Teologia, que se vai construindo em outros espaços, é um convite para, no concreto do quotidiano, incarnarmos o compromisso cristão”.

A responsável sublinhou que o “transpor fronteiras” cultiva no ser humano a “humildade”.

Sobre o assumir as crenças em ambiente académico a professora de enfermagem, Rafaela Rosário, afirmou que a “perspetiva humanista será sempre a linha orientadora no tratamento e na relação”.

O IV Encontro Nacional de Docentes e Investigadores do Ensino Superior iniciou com a intervenção do presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família, D. Joaquim Mendes, que desafiou os participantes a não esquecer as “grandes perguntas da vida”.

“É pedido que os professores, apesar do cansaço do dia a dia, ou das rotinas que o próprio sistema impõe, não desistam de serem professores que conduzam às grandes perguntas da vida e que, na maior parte das vezes, a ciência não responde”, afirmou o bispo auxiliar de Lisboa na sessão de abertura do encontro, que decorreu em Fátima.

Para D. Joaquim Mendes, “estas questões podem ser ponte para procurar novos espaços de debate, perguntas que podem conduzir a outros caminhos, a outras pessoas e a outras perguntas”.

O presidente da Comissão Episcopal que acompanha, em nome da Conferência Episcopal Portuguesa, o Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior lembrou recente Sínodo sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, sublinhou o desafio da “formação integral” aí afirmado e apelou a uma presença “mais humanista, mais justa, e mais verdadeira” no meio universitário.

“A nossa sociedade esqueceu as suas raízes e acoplado a esse esquecimento surgem os constantes ataques à família, à desumanização das estruturas, ao relativismo moral, à repetição de certos conteúdos de índole niilista, etc., que clamam por uma presença mais humanista, mais justa, e mais verdadeira”, disse D. Joaquim Mendes.

O presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família concluiu afirmando que é preciso “falar da Vida aos estudantes”, “falar-lhes de Deus”, “acompanhando-os dia a dia, preocupando-se com eles, ajudando-os a crescer e a ultrapassar os desafios”.

HM/LS/PR

(Notícia atualizada às 23h00)

 

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