Unificação europeia e pontes para a África

Secretários das Conferências Episcopais da Europa acompanham transformações no Velho Continente D. Carlos Azevedo, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), considera que a presidência portuguesa da União Europeia pode criar “pontes” para África, aproveitando a ligação especial do nosso país a este Continente. Após ter participado no 35.º encontro anual de secretários das Conferências Episcopais da Europa, que decorreu em Minsk, Bielorrússia, de 14 a 18 de Junho, este responsável indica à Agência ECCLESIA que, nesta reunião, se abordou a questão da presença cada vez maior de populações de origem africana ou muçulmana, que coloca novos “problemas pastorais”. Num contexto de fortes movimentos migratórios, as comunidades cristãs são chamadas a “denunciar os atentados contra os direitos humanos, assumindo uma posição de crítica política, económica e social quanto ao tráfico de pessoas ou a prostituição”. Portugal, pela sua história e pelo seu presente, com milhões de emigrantes, deve saber estar à altura dos desafios. O comunicado final deste encontro, enviado à Agência ECCLESIA, indica que este fenómeno das migrações é um “sinal dos tempos”, depois de ter sido proibido emigrar sob alguns regimes comunistas ou de países como a Espanha (hoje com mais de 4 milhões de imigrantes), locais de emigrantes, se transformarem em terras de imigração. “A Igreja preocupa-se com os problemas sociais ligados ao fenómeno migratório: ilegalidade, desemprego, envelhecimento das populações nos países de partida, tráfico de seres humanos, desagregação das famílias, crianças que crescem longe dos seus pais”, referem os participantes. A nível interno, a assistência pastoral aos diversos grupos étnicos coloca desafios próprios. D. Carlos Azevedo sublinha que é preciso encontrar soluções em diálogo com os Bispos das comunidades locais e os das dioceses de origem. “Tem de ser cada Bispo a pedir missionários, não as pessoas a virem com padres atrás”, indica. Unificação europeia Relativamente ao futuro da UE, D. Carlos Azevedo fala das dúvidas que rodeiam o “mini-Tratado” que se discute, após o falhanço da Constituição Europeia. “Está tudo muito em suspenso e notámos algum pessimismo sobre a obtenção do consenso”, lamenta. No ano do 50.º aniversário dos Tratados de Roma, fundadores da Comunidade Europeia, o secretário da CEP entende que “só com muita sorte se poderá chegar a um Tratado de Lisboa”. Num último desenvolvimento que confirma este cepticismo, o primeiro-ministro polaco, Jaroslaw Kaczynski, reafirmou que a Polónia vai vetar a proposta de novo Tratado Europeu se não for reaberta a discussão sobre o sistema de voto. D. Carlos Azevedo sublinha que “a Igreja tem sido das instituições que mais apoia tudo o diz respeito à unificação europeia, mesmo quando algumas populações manifestam mal-estar”. Este responsável lamenta que alguma legislação europeia seja marcada por um “espírito laicista” que a vai invadindo, “sobretudo no sector da família e da cultura da vida”. O futuro da Europa passa pela consciência de que esta deve ser uma comunidade de “valores”, que não esqueça a “cultura cristã”. “A Europa tem de salvaguardar os valores, essa é a grande questão”, conclui. O comunicado final do encontro sublinha a necessidade de promover uma rede europeia de “leigos cristãos competentes, capazes de fazer ouvir a sua voz nas problemáticas da UE, sobre as questões da bioética bem como sobre as questões sociais ou jurídicas”.

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