Uma história de 400 Anos de hospitalidade em Portugal

O ano de 1606 por razões documentais, marca o início da presença dos Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus, em Portugal. Embora se referenciem Irmãos espanhóis em território luso a exercer as suas funções assistenciais já desde 1580, devido à União Dinástica (1580-1640). A Restauração da monarquia lusitana em 1640, trouxe acções bélicas e uma nova problemática peninsular quanto à questão do tratamento dos feridos e óbitos que surgiram nas campanhas militares e refregas de fronteira. Em 4 de Maio de 1645 o Rei de Portugal, D. João IV, incumbiu os Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus, já presentes em Montemor-o-Novo e Lisboa, de administrarem os Hospitais Reais Militares durante o período beli-cista instalado na Península Ibérica, entre 1640-1668, acção prolongada até 1834. O esforço de guerra teve de contar, e de forma muito concreta, com este novo potencial técnico e científico dos hospitais militares, com os Irmãos que muito contribuiram para uma melhoria social e humana das tropas e comunidades. Fundaram-se os hospitais de campanha, com especial incidência nas Praças de Guerra, chegando a atingir cerca de duas dezenas e estenderam-se também, à África, Oriente e Brasil. O estabelecimento assistencial dispunha de áreas fundamentais que constituem a essência tipológica do que hoje entendemos ser um hospital militar: I – Enfermarias; II – Mesa de cirurgia/Hospital de Sangue e Botica; III – Sector Administrativo, Capelania e Comunidade dos Irmãos; IV – Serviços (Cozinha, Cisterna/Poço e Latrinas); V – Cerca (Plantio de ervas aromáticas, medicinais, desinfestação e para uso do quotidiano) VI – Cemitério Militar (normalmente em terreno fronteiro ou adjacente). Os Reais Hospitais Militares de administração dos Irmãos, pela sua prestação de serviços competentes e pela formação que neles era feita constituíram considerável parcela da primeira rede de saúde pública portuguesa, a qual foi interrompida em 1834. Do de Elvas saiu o primeiro manual de enfermagem, em português, do Irmão Frei Diogo de Sant’Iago, Postilla Religiosa e Arte de Enfermeiros (1741). Nova Caminhada de Hospitalidade, 1891-2006 Após 57 anos de interrupção, forçada pelo decreto de extinção de 1834, o Irmão S. Bento Menni plantou de novo, em 1891, a árvore hospitaleira em Portugal, a qual se desenvolveu e ramificou. De Santa Marta, em Lisboa, irradiou para Aldeia da Ponte, Sabugal, e, em 1893, para o Telhal, a “Casa Mãe” orientando-se para a saúde mental que era a área mais caren-ciada. Os Irmãos mantiveram uma residência em Lisboa para a recolha de esmolas para os doentes pobres do Telhal. A permanência breve em Aldeia da Ponte (Sabugal) serviu ao Padre Menni para uma outra “recolha”, a de jovens, rapazes e raparigas, candidatos a Irmãos e Irmãs, que no início se formavam em Ciempozuelos (Madrid). Uns faleceram, outros ainda estão activos e esperam substitutos. O Telhal começou por doentes pobres e poucos pensionistas. Para subsistir os Irmãos, iam de terra em terra, a recolher ofertas, faziam a promoção da obra e convidavam candidatos para a Ordem. A visita de Afonso Costa a 15-10-1910 ao Telhal pôs os Irmãos à beira de serem expulsos. Mas ficaram e o próprio Ministério da Guerra durante a I Grande Guerra iniciou o recurso aos seus serviços acção que se iria prolongar quase por todo o século. Os Irmãos irradiaram com a recolha de esmolas e de fundações: em 1922, para o Funchal; em 1927 para Angra do Heroísmo; em 1928 para S. Miguel (Açores), e para Barcelos, criando-se no mesmo ano a Província Portuguesa. Em 1936, foi oficializada a Escola de Enfermagem e iniciou-se a publicação da revista Hospitalidade, hoje com 70 anos. Em 1943 e 1944 iniciou-se a acção missionária dos Irmãos para Além-Mar, com a assistência de doentes mentais e leprosos em Moçambique; e em 1947, no Brasil onde há hoje três comunidades. Após 344 anos da primeira fundação, os Irmãos regressaram a Montemor-o-Novo em 1950. Em 1957 fundou-se o Hospital-Granja de Vilar de Frades (Barcelos); e em 1967, em Luanda (Angola). A Casa de Retiros em Colares, que nos últimos dois anos foi Centro de acolhimento de imigrantes sem abrigo; data de 1967 e de 1980 a Residência em Fátima. A Província dispõe desde 1997, em Lisboa, de Edifício Sede, Residência de pessoas idosas e Centro de Encontros. E iniciou em 2004 uma missão em Timor-Leste. Os Campos de Férias Vocacionais de S. João de Deus, começaram em 1978 e em 1988, com as Irmãs H do S. C. de Jesus o Movimento Juventude Hospitaleira. O período de 1980-2006 tem sido de renovação intensa na Organização, Formação, Reabilitação Psicossocial, Humanização e Pastoral da Saúde dos Centros em que a Província foi pioneira nacional no panorama da Igreja em Portugal.. Irmão Aires Gameiro. O H Augusto Moutinho Borges, historiador

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