Um novo ano lectivo

Testemunho de um professor de EMRC

 

Um novo ano lectivo chegou. E é mesmo novo. Cansados do “velho”, restabelecidos por um tempo de paragem que é sempre tempo de reflexão e avaliação, pais professores e alunos, atravessam os portões da escola com vontade que seja diferente. Melhor.

Mal atravessei os portões da minha escola, senti este clima de esperança, de vontade de construir.

No ano lectivo anterior, todos sentimos as dificuldades que as escolas atravessaram. O ambiente humano degradou-se e com ele toda a missão da escola foi posta em causa. Ficou para trás um ano lectivo muito difícil. Regressa-se com esperança de construir uma escola onde todos e cada um se sinta acolhido, “em casa”, sem conflitos que só desvirtuam a missão, fazem perder o norte, esquecer o que é essencial. Este ano, muitos professores mudaram de escola, se calhar, uma oportunidade de se construírem novas relações, de entrar “ar fresco”.

Eu senti um “já chega” quando entrei na escola. Senti esperança. Senti que a vontade de aprender e o gosto de educar se voltaram a encontrar com alegria. São a condição essencial para que “a escola cumpra, efectivamente, a missão a que está destinada – a formação integral e o desenvolvimento harmonioso das nossas crianças e jovens”.(Carta da CEP sobre a Escola em Portugal, 2008).

Lá estava o sorriso dos alunos que corriam a procurar o seu nome nas turmas, espetando os dedos nas vitrinas, gritando com alegria para o amigo ao lado: Estás na minha turma! E faz-se festa de encontro entre adultos, adolescentes e crianças, comenta-se o “cresceste muito nestas férias”. Mais adiante, na sala-dos-professores dão-se abraços, fazem-se vénias uns aos outros, nada de beijos, é preciso prevenir a Gripe! Brinca-se com a situação, contam-se as aventuras vividas nas férias.

Nós, os professores de Educação Moral e Religiosa Católica, iniciamos este ano vendo restabelecida nas escolas a igualdade de direitos em relação aos outros professores, com novos manuais nas mãos e a continuação da implementação de um novo programa.

É verdade que nem tudo tem sido fácil. A possibilidade legal de os professores de EMRC do 2º e 3º ciclo leccionarem no 1º, não teve nas escolas a adesão que esperávamos. Sentimos que havia muito receio, talvez devido à possibilidade de voltarem a surgir dificuldades legais à leccionação da EMRC, com graves prejuízos para as escolas, como aconteceu em tempos não muito longínquos…Torna-se urgente uma regulamentação da Concordata de 2004, nomeadamente no que se refere ao estatuto da disciplina e do professor de EMRC. É urgente esta estabilidade que a legislação pode assegurar, não ficando a implementação da disciplina na dependência de Despachos que revogam Despachos, ou da boa, ou menos boa, vontade das Direcções das Escolas. 

Mas tudo isto nos responsabiliza, nos desafia. É a hora de continuarmos a ser bons profissionais, assumindo um lugar único na formação integral dos alunos, defendendo uma visão humanista do desenvolvimento. Hoje, não é possível imaginar a escola fechada em quatro paredes mas aberta às instituições sociais da comunidade que a envolve sem os quais a verdadeira educação para todos, ao longo da vida e com a vida, não acontece, comprometendo o futuro da cidade. Também aqui o professor de EMRC, sensível a uma educação de cariz humanista, tem um lugar na escola como elemento privilegiado dinamizador de diálogo entre a escola e os diversos actores que envolvem a comunidade educativa, em especial a família.

Os professores de EMRC têm consciência da sua missão de evangelizadores. Temos razões para olharmos para este ano lectivo com esperança. Recordo as palavras de Bento XVI na carta à Diocese de Roma em Janeiro de 2008: “Só uma esperança credível pode ser a alma da educação, como de toda a vida”. É este o primeiro testemunho que podemos e devemos dar nas escolas.

As dificuldades são sempre desafios, como as crises são sempre ocasião de crescimento.

A nossa resposta tem de ser de “serviço” e “compromisso” como refere a nota da CEEP para a Semana da Educação. Como desafios para este ano, surge o diálogo com as estruturas da Igreja, a formação permanente, a reflexão séria sobre o perfil do professor de EMRC nas escolas de hoje, muito em especial, no que se refere à comunhão eclesial e, como prioridade, uma maior preocupação com a vida espiritual. Como refere o nosso Papa na sua última encíclica, Cáritas in Veritate: “ O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração”. Sem esta atitude ninguém dá testemunho da verdadeira alegria que educa para a fé e garante o verdadeiro crescimento.

Acredito nos pais, professores, alunos e todos os que estão envolvidos na educação. A sua boa vontade e criatividade dão a certeza de que 2009/2010 irá ser um ano lectivo de eleição!

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