Que contributo da Escola Católica para a educação cristã?

Aproximando-se a Semana Nacional da Educação Cristã, a celebrar de 4 a 11 de Outubro, subordinada ao tema “Educação Cristã: um serviço e um compromisso”, será pertinente perguntar qual o contributo da Escola Católica para esta “educação cristã” da sociedade portuguesa. Orgulhosa de um passado que a aridez dos tempos modernos ajuda a olvidar, a Escola Católica tem-se imposto como um oásis no meio do deserto de muita má educação. No momento presente, e apesar dos gigantescos investimentos governamentais na melhoria do parque escolar estatal, quer a nível das instalações, como dos apoios educativos, das condições de trabalho, das novas e velhas oportunidades, o certo é que a educação dita pública, isto é, da escola estatal, ainda deixa muito a desejar. Neste cenário de alguma frustração, surge a Escola Católica como um espaço diferente, uma alternativa que transporta uma mais valia insubstituível: ser “católica”. É este adjectivo que dá propriedade ao substantivo. E este atributo – que encerra enormes responsabilidades! – é uma oferta acrescida que mais nenhuma escola possui. Olhar os programas, as actividades, os projectos, as relações pessoais, à luz do Evangelho, é uma necessidade, uma urgência, nos tempos que correm, assumida pela Escola Católica. Levar o aluno a sentir-se pessoa e a crescer como pessoa, tendo como referência Jesus Cristo, só na Escola Católica será possível. Com base nestes pilares – que precisam constantemente de ser reforçados devido às ameaças externas e fragilidades internas –, o resto virá por acréscimo: a estabilidade organizativa e pedagógica, o ambiente de disciplina e respeito, a intervenção solidária no meio envolvente, a autoridade sentida como autoritas, “fazer crescer”, o acto de educar, sentido como ex+duc, e que leva o educador a procurar as melhores condições para “extrair” os talentos de dentro dos alunos.

A Escola Católica é antes de mais uma “escola”, lugar de ensino e aprendizagem, dos saberes em acção orientados para a vida. Mas o qualificativo dá um sentido acrescido ao substantivo, melhor, dá-lhe todo o sentido e projecta-o para as “ultimidades”. Um sem o outro perdem o significado. E os dois juntos erguem uma realidade transcendente, que configura a pessoa do aluno – porque ele é carne e espírito – e o “transfigura” – porque ele é um ser (quase) divino. É esta cumplicidade, esta simbiose de Fé-cultura-vida, a riqueza acrescida das escolas católicas, que tanto podem contribuir para a construção de uma sociedade mais saudável, mais civilizada, – por que não? – mais cristã.

Infelizmente, esta proposta da Igreja tem muitos escolhos: se os há a nível interno – fruto das contingências humanas –, são sobretudo os externos – vindas da Constituição e das ambiguidades das leis, ou das mentes pombalinas dos políticos e governantes – os que mais têm condicionado a abertura deste “espaço de cultura e evangelização” a todos, sobretudo os mais débeis.

Oxalá os poderes públicos e os cidadãos, mormente as famílias cristãs, saibam acarinhar esta proposta alternativa, e criar condições para a potenciar e estender a todos os que livremente a desejam, sem sufocos de qualquer espécie.

Oxalá a Igreja portuguesa e os responsáveis das escolas católicas saibam “ver longe” e estar convictos de que as suas escolas desempenham uma missão sublime, por isso indispensável e urgente.

Nestas circunstâncias, a Escola Católica, comprometida com o Evangelho, afirma-se como uma escola “diferente” e insubstituível, procurando servir o aluno na sua totalidade, como pessoa humana e divina, como realidade “antropológica”, como “ser para os outros”. É este o segredo desta escola “especial”: ter uma visão “holística” do homem e querer atingir todos os homens. Por isso é que esta escola se chama katholikós

Jorge Cotovio, Coordenador do Núcleo das Escolas Católicas da Diocese de Coimbra

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