Ucrânia: «Encontro Cristão» promoveu olhar ecuménico sobre a guerra e a paz

«Na origem do cristianismo, fundado no exemplo de Jesus, afasta-se de todo o princípio de guerra e toda a violência» –  João Luís Fontes

Foto: Lusa/EPA

Sintra, 24 mai 2022 (Ecclesia) – O ‘Encontro Cristão’, iniciativa ecuménica que decorreu este sábado em Sinta, promoveu o fórum ‘O Caminho da História’ onde diferentes oradores refletiram sobre a fé, as confissões cristãs, as relações geopolíticas e a paz, no contexto da guerra na Ucrânia.

“Na origem do cristianismo, fundado no exemplo de Jesus, afasta-se de todo o princípio de guerra e toda a violência. No ‘Sermão da Montanha’ – ‘não matarás’ – Jesus alarga esta ideia à purificação de todos os sentimentos que envenenam e matam a relação – a violência, a ira o desejo de vingança, o pagar na mesma moeda”, explicou o historiador João Luís Fontes, no auditório da igreja de São Miguel, em Sintra.

O professor auxiliar do Departamento de História, da Faculdade de Ciências Humanas, assinala que mesmo as frases de Jesus que “aparentemente apelam à violência” – ‘não vim trazer a paz mas a espada ou a expulsão dos vendilhões do tempo’ – falam sobretudo da “radicalidade” da opção pelo Evangelho que “é superior aos laços de sangue ou às lógicas instaladas”.

O especialista explicou que o cristianismo acaba por nascer e expandir-se “num mundo que não é pacífico”, e recordou que São Tomas de Aquino elaborou “os princípios da guerra justa”, atendendo ao direito e dever de defesa pessoal e do bem comum, “e a um ajuizar das circunstâncias para a decisão da própria guerra”.

Outro orador do fórum ‘O Caminho da História’ foi o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo da Igreja Católica em Portugal, que explicou que nos contactos com os colegas da Ucrânia são “confrontados” com a questão de ajudar o país “a defender-se pela via das armas”.

“A guerra é sempre o último recurso. Outra questão que se tem levantado nos nossos diálogos é saber até que ponto não é possível recorrer a outros meios, como a resistência pacífica, a recusa de colaboração com as autoridades”, desenvolveu Pedro Vaz Patto, referindo também que a resolução por via pacifica “não é mais cómoda”.

Foto: Encontro Cristão

A guerra na Ucrânia começou há três meses, com a invasão da Rússia no dia 24 de fevereiro, e o juiz desembargador explicou que se tem de encontrar um “equilíbrio” entre reconhecer a legítima defesa e compreender “a posição de quem está na Ucrânia”.

O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, organismo da Igreja Católica em Portugal, concluiu afirmando que são as pessoas que têm de “testemunhar e demonstrar” que as divisões entre religiões, ou várias denominações cristãs “não são parte do problema”, e alertou que muitas vezes, nestas situações, “há uma instrumentalização da região por fator de identidade”.

O historiador João Luís Inglês incentivou ainda a criar “uma cultura diferente da relação” e que tem a ver com uma dinâmica da conversão pessoal, da conversão das relações.

Também integrou este painel, o professor Luiz Filipe Thomaz, professor universitário e especialista na História do Oriente, também conhecido por frei Jerónimo, é um hierodiácono do Patriarcado Ortodoxo russo, e defendeu com outros clérigos que a Teologia Ortodoxa não deve apoiar a guerra na Ucrânia.

‘A Caminho’ foi o tema do ‘Encontro Cristão’ 2022 e do programa também constou a atividade ‘Unidos a Caminho’, onde os participantes ficaram a conhecer melhor a comunidade cristã em Sintra, e à noite um momento cultural, de reflexão, testemunho e oração pela paz, no Centro Cultural Olga Cadaval.

LS/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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