A cruz escondida

UCRÂNIA: Padre brasileiro acolhe dezenas de refugiados em Kiev

“Estar aqui é a vontade de Deus”

Tem 36 anos, é brasileiro e vive na Ucrânia desde 2004. A sua paróquia, na cidade de Kiev, tem vindo a acolher refugiados praticamente desde o primeiro dia, desde que a guerra começou. O Pe. Lucas Perozzi fala da sua missão, da solidariedade entre as pessoas e de como a guerra está a aproximar os Ucranianos de Deus. E agradece a ajuda da Fundação AIS que está a revelar-se essencial para o trabalho da Igreja neste país…

Quando começou a guerra, o Pe. Lucas Perozzi estava na cidade de Uzhhorod, a quase 800 km de Kiev, a capital da Ucrânia. Decidiu partir de imediato. Arrumou as coisas no carro e fez-se ao caminho. “Senti que a minha missão era estar aqui, que devia estar aqui.” “Aqui” é na Paróquia da Dormição da Santíssima Virgem Maria, em Kiev. O Pe. Lucas é brasileiro, tem 36 anos e pertence ao Caminho Neocatecumenal.  Está na Ucrânia desde 2004. “Fui formado no seminário Redemptoris Mater e foi-me pedida a disposição para ir para onde a Igreja me mandasse. E eu pus-me à disposição.” Quando se fez ao caminho para Kiev, para a sua paróquia, foi quase surreal. Na direcção da capital da Ucrânia a estrada estava quase vazia. No sentido contrário, porém, “havia um engarrafamento de mais de 200 km”. Chegou já tarde. No outro dia, de manhã, juntamente com o outro sacerdote da comunidade, começou a rezar as Laudes quando surgiu a primeira família a pedir ajuda. “Foi o primeiro sinal, a resposta à minha pergunta se fazia sentido estar ali, porque Deus mandou-nos aquela família…” Foi a primeira de muitas famílias, das várias dezenas que já passaram pela paróquia, que já se abrigaram por ali, que procuraram refúgio na igreja. Acolher pessoas, famílias, ter a porta sempre aberta faz parte da missão deste padre, faz parte da missão da Igreja na Ucrânia nestes dias de guerra. Em conversa com a Fundação AIS em Lisboa, o Pe. Lucas revela que sentiu um sinal em todos estes acontecimentos. Nada é por acaso. “Ficou para mim como uma tatuagem no coração”, diz. “Vejo que é a vontade de Deus eu estar aqui.” A guerra começou a 24 de Fevereiro. Já passaram muitas semanas, meses, já se viram imagens de destruição, cidades convertidas em ruínas, mortos em valas comuns, sofrimento, pessoas em lágrimas, desespero, muita dor. É impossível alguém não se comover com tanta gente aflita.

Rotina da guerra

O Padre Lucas também já se perturbou vezes sem conta. E até já teve medo. Com o passar do tempo a guerra passou também a ser quase uma rotina. Até o toque das sirenes se transformou em algo de comum. Mas se o toque das sirenes passou a ser algo comum, a relação com Deus alterou-se em muitas pessoas por causa da guerra. E muitas pessoas aproximaram-se da Igreja. O Pe. Lucas conta um caso que o deixou profundamente tocado. “Foi um rapaz do exército que entrou aqui com a arma e tudo, porque ele não podia abandonar a arma, e pediu para entrar na igreja para rezar. Como não estava ninguém, eu abri a porta, ele entrou e ficou lá sozinho… Entrou com a arma para rezar. É inconcebível alguém entrar numa igreja com uma arma…” A guerra coloca as pessoas frente a frente com os maiores desafios da vida. E isso é particularmente assinalável para os Cristãos. “O cristão não é aquele que reza muito, não é aquele que faz jejum, o cristão não é aquele que dá muita esmola, o cristão é aquele que ama o inimigo, o cristão é o Sermão da Montanha…” A história do Pe. Lucas cruza-se também com a própria Fundação AIS. O seminário onde se formou, a igreja onde está e até o automóvel, que lhe permite realizar o seu trabalho, tudo isso tem a marca da solidariedade dos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre. E o Pe. Lucas não o esquece. “É uma ajuda muito boa e de que precisamos em situações muito difíceis. Eu sei que a Fundação apoia as dioceses em geral aqui, na Ucrânia. É uma ajuda muito grande… muitas igrejas foram construídas graças à Fundação, muitos padres são também apoiados…” Todas as semanas, assegura este sacerdote brasileiro que vive na Ucrânia há 18 anos, reza-se em Kiev pelos benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre em todo o mundo. “Eu sempre digo que o Senhor dá aos benfeitores o cêntuplo por tudo o que fazem por nós, alegria aqui na terra e a vida eterna…”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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