Responsável portuguesa vai participar em encontro de rede internacional constituída por congregações femininas
Lisboa, 20 set 2019 (Ecclesia) – A irmã Júlia Bacelar, da Congregação das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento, elogiou o trabalho realizado pelas religiosas católicas a nível mundial na denúncia do tráfico de pessoas e do apoio às vítimas.
“São situações novas que vão surgindo, constantemente. Não é fácil dizer: isto é preto no branco. É um fenómeno oculto, é um fenómeno que é como um camaleão, vai mudando de cor, de jeito, de feitio, de forma de estar e de atuar: o que é hoje, pode não ser, daqui a um mês”, observa, em entrevista conjunta à Renascença e Agência ECCLESIA.
A religiosa vai representar Portugal na assembleia geral da ‘Thalitha Kum’, a Rede Internacional da Vida Consagrada para a Erradicação do Tráfico de Pessoas, que vai decorrer em Roma de 21 a 27 de setembro, no 10.º aniversário da sua fundação.
Nos sítios mais ocultos do mundo há uma irmã. E é muito valorizado este trabalho, porque as irmãs vão aos sítios onde quase ninguém quer ir”.
A irmã Júlia Bacelar, com um trabalho dedicado ao acolhimento de mulheres em situação vulnerável, sublinha a necessidade de distinguir o tráfico de pessoas da imigração ilegal.
“Está a ficar mais claro que falamos de coisas muito diferentes. Uma pessoa traficada, criança, homem ou mulher, foi recrutada, à partida, de uma maneira diferente do imigrante. A forma de transporte, a gente diz ‘pronto, aqueles que estão ali na fronteira na Líbia, que depois vêm nos barcos’… mas, o recrutamento, o transporte, a própria integração aqui no meio da exploração sexual é completamente diferente dos imigrantes”, precisa.
Em Roma, a religiosa vai falar do seu trabalho e ouvir relatos de muitas experiências, na Ásia e na África.
“Nós pomos sempre os olhos na Ásia, por causa do turismo sexual e da prostituição infantil, e nesta reunião que vamos ter em Roma a Ásia é o continente que está mais representado”, adianta.
A Rede Talitha Kum foi por criada no ano de 2009, com o objetivo de coordenar e reforçar as atividades contra o tráfico de pessoas, promovidas pelas redes de outros países nos cinco continentes, respeitando os diversos contextos, realidades e culturas.
O tráfico de pessoas afeta pelo menos 40 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 70% são mulheres e crianças (Unodc, 2019). Talitha Kum está presente em 92 países com 44 redes nacionais nos 5 continentes: 9 na África, 11 na Ásia, 15 na América, 7 na Europa e 2 na Oceânia.
A entrevistada destaca que o Papa Francisco tem sido “bastante dinâmico” na atenção que quer que a Igreja católica dê a este problema, tendo instituído um Dia de Oração contra o Tráfico Humano, que se assinala a 8 fevereiro – memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, religiosa sudanesa e antiga escrava.
“O Papa tem experiência do terreno, e isso dá-lhe uma sensibilidade completamente diferente de pessoas que não saem de gabinetes. Ele tem mesmo aquilo nas entranhas, porque ele mesmo viu”, assinala a irmã Júlia Bacelar.
A religiosa recorda projetos na Europa, com mulheres imigrantes, vítimas de tráfico e de “de situações de especial vulnerabilidade”, com uma abordagem própria, que passa por conquistar a “confiança” e propor uma saída da “exploração sexual”.
“Não nos compete a nós fazer de polícias e ir atrás dos traficantes”, precisa.
Em relação a Portugal, a entrevistada destaca o aumento do tráfico de homens de origem asiática, sobretudo para o trabalho agrícola.
Octávio Carmo (Ecclesia) e Ângela Roque (Renascença)
O tráfico de pessoas é uma realidade em mutação constante – irmã Júlia Bacelar