Mensagem Quaresmal do Bispo de Portalegre – Castelo Branco TODOS CONHECERÃO QUE SOIS MEUS DISCÍPULOS Mensagem Quaresmal A Igreja inicia todos os anos a Quaresma com o rito da imposição das cinzas e, desta forma, convida todos os cristãos a tomar consciência da sua condição de mortais e de pecadores. Enquanto mortais, recorda-nos que o tempo de vida sobre a terra é curto e, por isso, deverá ser bem aproveitado para cumprir a missão que o Criador assinalou a cada um. Enquanto pecadores, vem dizer-nos que, pelo mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, que celebramos na Páscoa, ficou aberto para todos o caminho da regeneração e da renovação interior. O percurso desse itinerário consegue-se usando os meios que o próprio Senhor nos recomendou, entre os quais se contam o jejum, a oração e a esmola, para alcançar a metanóia ou conversão interior que nos leva a conformar a vida com os critérios evangélicos. O tempo da Quaresma, concebido pela Igreja como um tempo de purificação interior, proporciona-nos, através das celebrações litúrgicas e devocionais que lhe são próprias, numerosas passagens da Sagrada Escritura que nos permitem descobrir o rosto misericordioso de Deus que nos convida à conversão e nos oferece o perdão regenerador, para que renovados interiormente possamos celebrar a solenidade da Páscoa com o coração inundado da alegria pascal, trazida à terra pela Ressurreição de Cristo. Mas, além da participação nos actos litúrgicos, os cristãos são também convidados a outras práticas de ascese que os ajudam a encontrar-se consigo próprios e a descobrir a realidade concreta de tantos seres humanos, carenciados de família, de recursos materiais, de habitação condigna, de salário justo ou sendo vítimas de outras privações e esperam por um gesto de solidariedade e de compreensão fraterna. É nesse contexto que adquire sentido toda a espécie de renúncias que cada um voluntariamente possa praticar. Pois a renúncia não vale por si. O valor advém-lhe da motivação que lhe está subjacente e da finalidade que se propõe atingir. Mais do que pela participação nos actos litúrgicos, é pela renúncia a si próprio e aos bens materiais, em favor dos outros, que os cristãos dão testemunho da sua fé, como nos ensina S. Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios (11,18) ao dizer que não é lícito celebrar a Eucaristia onde a caridade não seja testemunhada pela partilha fraterna. E é para reforçar esta ideia que o Papa João Paulo II nos interpela da seguinte forma: por que não fazer então deste Ano da Eucaristia um período em que as comunidades diocesana e paroquiais se comprometam de modo especial a ir, com operosidade fraterna, ao encontro de alguma das muitas pobrezas do nosso mundo? (MND,28). Dentre as muitas pobrezas existentes mundo que nos rodeia, parece-me que existe uma delas que é digna de atenção especial, por parte de todos quantos são a favor da vida. Trata-se das adolescentes e jovens que engravidam e são abandonas à sua sorte, desprovidas do necessário apoio para assumirem a maternidade com determinação e dignidade, tanto mais que na área diocesana não existe nenhuma instituição vocacionada para ajudar a resolver esses casos. Ora a nossa Diocese, na sequência do referendo contra o aborto e querendo ajudar as mães adolescentes desprovidas de meios, implementou o projecto A VIDA NASCE que, devido a complicações várias, só agora poderá ser concretizado com a construção de um Centro de Acolhimento Temporário, para dez mães, na Quinta da Lage, em Portalegre, orçamentado em cerca de um milhão de euros, cabendo à Diocese, aproximadamente, a importância de duzentos mil euros. A nossa renúncia quaresmal deste ano será canalizada para a concretização desse projecto. Queremos dessa forma expressar o nosso amor fraterno e a nossa solicitude por quem passa privações, declarando-nos ao mesmo tempo a favor da vida, certos de que assim estaremos a cumprir o mandamento novo de Jesus Cristo (Jo 13,35) e por todos seremos reconhecidos como seus discípulos. José, Bispo de Portalegre-Castelo Branco