Timor-Leste: Massacre no cemitério de Santa Cruz foi há 20 anos

Bispos recordam dia marcante na história do país lusófono

Lisboa, 11 nov 2011 (Ecclesia) – Os bispos das dioceses de Timor-Leste recordaram o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli, a 12 de novembro de 1991, como um dia que mudou a história do país.

Em declarações à RR, D. Basílio do Nascimento, bispo de Baucau, fala nas imagens transmitidas pela imprensa mundial como “os dois minutos que viraram os destinos de Timor”, que fizeram acreditar os mais céticos.

O prelado, que na altura estava em Portugal, conta até que o presidente indonésio Suharto terá dito que “era o fim da Indonésia” e que os próprios indonésios acreditam que os seus governantes foram “burros”.

“Salvo seja”, atalha, “burros em terem gasto energias, dinheiro e o bom nome da Indonésia ao dar tiros em Timor, porque toda a riqueza de Timor, neste momento, tudo aquilo que era objeto da sua ganância, hoje vem parar às mãos da Indonésia”.

O atual bispo de Díli, D. Alberto Ricardo da Silva, afirma, por sua vez,  que “estava decidido a morrer” há 20 anos quando era vigário-geral da diocese e foi interrogado pelos militares indonésios na sequência do massacre.

“Eu sabia que ia ser uma coisa muito perigosa para mim, eu podia reagir e podiam-me matar. Estava mesmo decidido a morrer, porque eu não estava habituado a interrogatórios daquele tipo ou maus-tratos”, afirmou, em entrevista à agência Lusa.

O prelado presidiu à missa na igreja de Motael, que antecedeu à manifestação que culminou no cemitério de Santa Cruz, em Díli.

O bispo de Díli, ordenado em 2004, lembra-se de ter regressado ao seu trabalho diário antes de “ouvir tiros”, mas quando pensou em ir para a zona do cemitério começaram a chegar os primeiros feridos.

“Foi assim todo o dia, um verdadeiro pesadelo”, disse, sublinhando que havia militares na rua e que no dia a seguir começaram a perseguir e a prender rapazes e familiares de pessoas para interrogatórios.

D. Alberto Ricardo da Silva também foi levado para ser “cinco interrogatórios em dias quase seguidos”.

“A minha pessoa, com o meu temperamento, foi uma graça especial não me terem mal tratado senão era a minha morte”, desabafa, acrescentando que os militares queriam saber o que dizia respeito à Igreja, à política, ao povo e à integração.

“Eu tinha de dizer a verdade, que a Igreja é pela justiça e pela verdade e a verdade é que o povo queria a independência. Queria, mas com tudo direito, sem violência”, afirmou.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésios abriram fogo sobre a multidão e, segundo números do ‘Comité 12 de Novembro’, 74 pessoas identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

RR/Lusa/OC

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