Terra Santa: Exposição «O Tesouro dos Reis» mostra hoje como «o belo é um caminho para o bem»

100 peças, para visitar no Museu Gulbenkian, viajam desde o século IV até à atualidade, mostrando Jerusalém «centro do mundo» e um património que conta «histórias sagradas»

Lisboa, 10 nov 2023 (Ecclesia) – O Museu da Fundação Calouste Gulbenkian inaugura hoje a exposição ‘O Tesouro dos Reis – obras-primas da Terra Sancta Museum’, evidenciando como em Jerusalém, “local universal de encontro”, o “se torna um caminho de encontro para o bem”.

“Estas peças testemunham Jerusalém como local universal de encontro. São peças tuteladas pela Custódia da Terra Santa mas são um património universal, que permitem mostrar uma grande diversidade e encontro, que o património e os museus concretizam: são locais de encontro e diálogo que neste tempo devemos evidenciar. A exposição fala-nos de diálogo, de encontro mas também de belo que é um caminho para o bem”, explica à Agência ECCLESIA André Afonso, comissário executivo da exposição e curador do Museu Calouste Gulbenkian.

O projeto da exposição nasceu “há dois anos”, quando o diretor percebeu “disponibilidade” para “a circulação das peças e que estas pudessem chegar a Lisboa”, explica o curador.

Num percurso de quatro núcleos, disponíveis para visitar até ao dia 26 de fevereiro de 2024, a exposição convida, num primeiro momento, a conhecer ‘Jerusalém, centro do mundo’, mostrando a “sua importância e centralidade”.

“Tal como Delfos já tinha sido para os gregos o centro, Jerusalém passa a ser, para os cristãos, sobretudo com Constantino, o centro e isso percebe-se com o túmulo de Cristo, onde se constrói a Basílica do Santo Sepulcro”, explica, desencadeando por parte de “monarcas, doadores e benfeitores anónimos” a oferta de “bens de diversa natureza: obras de arte, ourivesaria, pintura, escultura, têxteis, mobiliário”.

O segundo núcleo, ‘De Constantino, o grande, a Solimão, o magnífico’, apresenta um percurso de quase mil anos, desde a construção da Basílica do Santo Sepulcro, no século IV, até à ocupação otomana do território, no séc. XVI, destacando, por exemplo, a presença dos franciscanos em Jerusalém, também a “importância das peregrinações à terra Santa no séc. XVI ou XVII, de barco pelo Mediterrâneo”, elucida.

‘Theatrum Mundi’ é o nome do terceiro núcleo, onde se conhecem as doações régias aos lugares santos, sendo dividido em várias geografias, tendo sido necessário fazer uma “seleção” e onde estão presentes, num total de 60 peças, ofertas de Espanha, Portugal, “com o núcleo principal”, o sacro império romano-germânico, França e com Nápoles.

A exposição evoca ainda, no quarto núcleo, a ligação da família a Jerusalém, desde a primeira deslocação, com oito anos, de Calouste Gulbenkian aos lugares santos.

A mostra tem no seu início, em exposição, um Evangeliário arménio, do século XV, comprado por Calouste Sarkis Gulbenkian em 1947, e oferecido à Biblioteca Arménia de Jerusalém que se encontrava na Terra Santa desde 1950.

“Foi localizado e, apesar de complexa a sua chegada, tornou-se possível trazê-lo a Lisboa, tendo sido a última peça da exposição a chegar. No atual contexto havia receio com o seu transporte, mas muito recentemente foi concretizado e foi muito emotivo incluí-lo na exposição”, destaca André Afonso.

Frei Rodrigo Machado, atual superior do Convento de São Salvador e vice-responsável para os Bens culturais da Custódia da Terra Santa, indica que a exposição permite uma “imersão” nos lugares santos.

“Conservar o património é conservar a identidade cristã e católica, conhecendo os santuários e as histórias sagradas que são contadas através dos objetos que atravessam uma história que tem mais de 800 anos. Já passaram vários conflitos, prestes, doenças, pandemia, o atual conflito, mas é importante conservar o passado para lermos hoje, no presente, olhando sempre o futuro. E por isso, é importante a construção do futuro museu, «Terra Sancta Museum», como lugar de encontro, povos e culturas, e pessoas, que não creem da mesma forma, que não vivem no mesmo país, mas podem através destes elementos, históricos ou artísticos, se encontrar e dialogar, e construir um mundo novo, através da cultura e da paz”, evidencia.

António Filipe Pimentel, diretor do Museu Calouste Gulbenkian, sublinha ainda a importância da preservação do património e o lugar que o Museu assume, com a mostra ‘O Tesouro dos Reis’, num tempo conturbado pelo conflito entre Israel e a Palestina.

“Estamos a assistir a um cenário de guerra que põe sempre em causa, para além das vidas humanas, o património. É preciso pensar nisso. No quadro atual, torna-se ainda mais evidente ver a exposição: para além do interesse cultural e artístico. É um momento de refletir também no passado, no presente e no futuro. A exposição ao trazer mil anos de história, evocando a ligação da Terra Santa com a comunidade social, transporta-nos para esse outro domínio de tranquilidade, de paz, e encontro connosco próprios, proporcionado precisamente por um Museu, um local onde nos encontramos connosco próprios”, destaca.

Disponível para visita até 26 de fevereiro de 2024, ‘O Tesouro dos Reis – obras-primas do Terra Sancta Museum’, desloca-se a Santiago de Compostela (Espanha), Florença (em Itália) e Nova Iorque (Estados Unidos da América).

LS

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