Estudar o Coração de Jesus para compreender o coração do homem foi o mote para um encontro internacional de especialistas em “teologia do coração”, tema chave na vida da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos), fundada no séc. XIX pelo Pe. Leão Dehon. Mais de 50 participantes reuniram-se no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, ao longo desta semana, para um trabalho “importante, num tempo em que se está a diversificar a presença da Congregação no mundo”, como afirma à Agência ECCLESIA o Geral da Congregação, Pe. José Ornelas Carvalho. O religioso português destaca a necessidade de encontrar “bases comuns” que possam estar presentes nas diferentes culturas, marcando uma identidade e uma missão próprias. “O tema da teologia do coração foi muito importante na vida da Igreja – basta lembrar a importância da espiritualidade do Coração de Jesus na redescoberta do rosto de Deus, de um Deus próximo do homem -, moldando a fé e o compromisso social de muitos católicos”, refere. Este responsável lembra ainda o grande número de Congregações que são dedicadas ao Coração de Jesus, “normalmente de vida apostólica, de empenhamento activo no campo da caridade, da evangelização, das missões”. “Todas tiram a sua inspiração e a sua motivação deste património a que chamamos o Coração de Jesus”, prossegue. Desde 9 de Março, sucederam-se conferências e debates com vários oradores, com o objectivo de se interpretar aquela teologia à luz da espiritualidade dehoniana e dos contributos bíblicos, entre os outros aspectos essenciais. Para o Pe. José Ornelas de Carvalho, é natural que uma devoção nascida num tempo diferente do nosso tenha de passar por um “processo de purificação e de clarificação”, sem que isso a anule. Logo na abertura dos trabalhos, o Geral dos Dehonianos alertou para a necessidade de não reduzir o simbolismo do coração a uma “perspectiva sentimental e afectiva”, esquecendo as dimensões da “inteligência, da sabedoria, atenta à visão global e integral da pessoa, a partir do seu ser mais íntimo e verdadeiro”. Os contributos de especialistas nas áreas da filosofia, da antropologia e da teologia permitiu perceber que o campo da “teologia do coração” está a ser, com diversas denominações, “revalorizado a todos os níveis”. “São essas raízes novas que nos permitem não simplesmente recuperar o passado, mas tomar as intuições fundamentais de uma herança valiosíssima que recebemos e dá-las de novo à Igreja, como serviço”, aponta. Novas fronteiras O Pe. Ornelas não se mostra desanimado perante uma estagnação numérica na Congregação, lembrando que são muitos os novos países onde os Dehonianos estão hoje presentes, desde a América Latina à Ásia. Este continente, em particular, apresenta grandes desafios, em especial no plano do diálogo intercultural. O Geral dos Dehonianos frisa que as Congregações, com o tom próprio que cada uma dá, não são “uma divisão da Igreja, mas portas abertas para o mistério comum de Deus e da Igreja”. Lembrando que o Pe. Dehon sempre trabalhou de perto com o mundo laical, este responsável frisa que os leigos não são uma “claque de apoio da Congregação”, mas um conjunto de pessoas que, ao viver e apreciar esta inspiração na sua vida pessoal, dão um “contributo preciosíssimo com a sua experiência, reflexão e compromisso”. Esta abertura a uma partilha laical da espiritualidade é “uma característica muito importante” para todas as Congregações religiosas e mesmo, para o Pe. José Ornelas, “uma premissa para um desenvolvimento novo e uma inserção nova da Vida Religiosa na vida da Igreja”. Nesta Sexta-feira, 14 de Março, celebra-se ainda o 165.º aniversário natalício do Pe. Dehon, fundador da Congregação. Na conclusão dos trabalhos, o Superior Geral dos Dehonianos anunciou a intenção de se publicar uma “biografia crítica” da vida do sacerdote francês, assegurando que os religiosos devem apostar “sem complexos” na pesquisa histórica, tendo em mente os acontecimentos que rodearam o falhanço no processo de beatificação do Pe. Dehon.