Cardeal Koch foi portador da mensagem de Francisco e criticou políticos europeus por não verem o que se passa no Médio Oriente
António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt em serviço especial para a Ecclesia (o autor escreve segundo a anterior norma ortográfica)
Taizé, França, 19 ago 2015 (Ecclesia) – O Papa escreveu uma mensagem à comunidade de Taizé, que esta quinta-feira completa 75 anos, na qual afirma que o seu fundador, o irmão Roger, procurou “com paixão a unidade da Igreja”.
No texto, transmitido à comunidade pelo cardeal suíço Kurt Koch, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos (Santa Sé), Francisco acrescenta que o irmão Roger se abriu “aos tesouros depositados nas diversas tradições cristãs, sem no entanto chegar à ruptura com a sua origem protestante”.
“Pela sua perseverança, da qual fez prova durante a sua longa vida, ele contribuiu para modificar as relações entre cristãos ainda separados, traçando para muitos um caminho de reconciliação”, refere.
Segundo o Papa, o irmão Roger alimentava a sua fé da Sagrada Escritura e referia-se ao ensinamento dos Padres da Igreja, os teólogos dos primeiros séculos do cristianismo.
Por isso, “ele baseava-se nas fontes cristãs e sabia actualizá-las junto dos jovens”, prossegue.
O fundador da comunidade de Taizé chegou à pequena aldeia da Borgonha a 20 de Agosto de 1940; nos primeiros tempos, o então jovem pastor calvinista acolhia refugiados fugidos da metade norte da França, ocupada pelos nazis.
Esta foi uma das datas aniversárias que, entre sábado e domingo, foram evocadas na presença de uma centena de responsáveis religiosos, de diferentes igrejas cristãs, mas também de judeus, muçulmanos, budistas e hindus.
Os outros dois aniversários recordados nestes dias são os 100 anos do nascimento de Roger Schutz e os dez anos da sua morte, a 16 de Agosto de 2005, durante a oração da noite, na Igreja da Reconciliação, assassinado por uma mulher perturbada.
A mensagem do Papa foi transmitida ao actual prior da comunidade, irmão Alois, perante a centena de irmãos de Taizé, os líderes religiosos presentes na aldeia e mais duas centenas e meia de jovens voluntários e animadores dos debates e ateliês dos últimos dias em Taizé.
“O irmão Roger compreendia as jovens gerações; tinha confiança nelas. Ele fez de Taizé um lugar de encontro onde jovens de todo o mundo se sentem respeitados e acompanhados na sua busca espiritual”, observa o Papa.
O texto de Francisco acrescenta: “O irmão Roger amava os pobres, os deserdados, aqueles que, aparentemente, não contam. Ele mostrou, pela sua existência e pela dos irmãos [da comunidade], que a oração vai a par com a solidariedade humana.”
No final do almoço em que os irmãos de Taizé convidaram mais de duas centenas de pessoas – os responsáveis religiosos e os animadores das diferentes iniciativas – o irmão Alois deu a palavra a três mulheres da Associação ‘Le Nid’ (equivalente a O Ninho, que apoia mulheres vítimas de tráfico e prostituição).
O gesto foi justificado pela impossibilidade de dar a palavra a todos os convidados.
Essas três mulheres simbolizavamas pessoas que sofrem e que, apesar disso, são capazes de reconstruir a sua vida, disse, referindo-se à violência de que todas elas tinham sido vítimas.
No final da tarde de domingo, o enviado do Papa falou com jornalistas e referiu-se ao drama dos refugiados de África e Médio Oriente que buscam a Europa: “Os políticos não vêem o que se passa”, com a avalanche de refugiados, afirmou.
O cardeal suíço Kurt Koch acrescentou, a propósito dos atentados de Paris, em Janeiro, que ficou “muito contente” por ver tantos políticos na capital francesa unidos contra o terrorismo.
“Mas no Médio Oriente temos todos os dias o mesmo problema e não vemos a mesma atitude”, lamentou.
AM