«A pandemia impede-nos de fazer muitas coisas, mas não nos pode deixar paralisados» – Irmão David
Taizé, França, 26 dez 2020 (Ecclesia) – O irmão David, monge português da Comunidade Ecuménica de Taizé (França), projetou um Encontro Europeu de Jovens “inédito” e online, entre 27 de dezembro a 1 de janeiro de 2021.
“O desafio de criar um programa e organizar as atividades num contexto virtual é novo para nós e tem exigido um enorme esforço da nossa parte. Mas estamos muito animados com esta possibilidade de poder partilhar com tantas pessoas, numa tão grande diversidade. As contribuições para o Encontro serão feitas de Taizé, mas também de diferentes partes do mundo: teremos intervenções muito variadas”, disse à Agência ECCLESIA.
O irmão David destaca que vai existir “um encontro com irmãos e voluntários em Taizé e, através da Internet, com jovens do mundo inteiro”, na impossibilidade de realizarem esta ‘etapa da peregrinação de confiança 2020’ na cidade italiana de Turim, “como inicialmente previsto, nem com muitos jovens em Taizé”, devido à Covid-19.
A pandemia impede-nos de fazer muitas coisas, mas não nos pode deixar paralisados. Qualquer crise pode ser uma ocasião para pormos a criatividade a funcionar e procurarmos avançar em direções que nem sequer imaginávamos”.
O irmão David revela que, “desde o confinamento na primavera”, os irmãos reuniram “regularmente para refletir” sobre o que podiam fazer neste novo contexto e não quiseram “anular o Encontro Europeu, mas sim fazer um Encontro Europeu diferente”.
“Verificamos o quanto a transmissão de orações e de reflexões em linha (online) é importante para tantas pessoas, que nos escreveram a agradecer e a motivar para continuar. Fomos sensíveis a esses apelos”, explica ainda.
Do programa do 43. º Encontro Europeu de Jovens de Taizé, o primeiro em formato online, o irmão David destaca que em cada manhã, depois da reflexão bíblica proposta por um monge, “haverá um tempo com testemunhos de jovens de diferentes partes do mundo” que “vão enriquecer muito a reflexão de cada um”.
“Poderemos interiorizar essas reflexões nos momentos de oração e alargar os horizontes partilhando com outros em pequenos grupos. Parece-me que os ateliês estão a ser muito bem preparados e também serão certamente momentos fortes deste encontro”, acrescenta.
O encontro começa com a oração da noite, em direto da Igreja da Reconciliação em Taizé, às 18h45 (menos uma hora em Lisboa), de domingo, 27 de dezembro, e a partir do dia seguinte, os temas diários – de 28 de dezembro e 1 de janeiro de 2021 – são os subtítulos da mensagem ‘Manter a esperança em tempo propício e fora dele’, do prior da comunidade, para 2021: ‘Atentos aos sinais de esperança’; ‘Viver a fraternidade’; ‘Acreditar – confiar numa presença’; ‘Discernir um novo horizonte’; ‘Modificar o nosso olhar’.
Um encontro online que vai ser vivido e dinamizado com a ajuda dos jovens voluntários que estão na comunidade e com quem os monges partilham “a vida”: “Não poderia ter sido feito sem a contribuição e a intuição deles”.
A sua presença nas orações e no acolhimento de outros jovens é algo de muito precioso para nós. Neste momento, estão trinta e poucos voluntários em Taizé e a sua ajuda foi também essencial para acolhermos as várias centenas de jovens franceses que aqui passaram no final de outubro”.
“Desde o final de novembro que podemos de novo acolher pessoas nas nossas orações e, com as medidas de higiene em vigor, isso implica algum trabalho dos voluntários”, desenvolveu o entrevistado, adiantando que com o acolhimento fechado, também têm “mais tempo para propor diferentes atividades aos voluntários, mais tempos de reflexão e de encontro”.
O irmão David assinala que para os monges “é estranho” estarem “todos em Taizé nesta altura”, quando “normalmente a comunidade está em peregrinação numa grande cidade europeia”.
Neste contexto, acolheram as pessoas da região que quiseram celebrar a Eucaristia da Noite de Natal, no final, não as convidaram “para um tradicional chá com bolachas” mas convidam-nas a ‘manter a esperança em tempo propício e fora dele’, como escreveu o prior da comunidade, o irmão Alois, na sua mensagem para 2021.
Em frente à igreja da Reconciliação o presépio foi “evoluindo ao longo das semanas” até ao Natal, e, segundo o monge português, este ano, “a decoração foi inspirada nas leituras de Isaías (9,2; 11,6-7; 35,3-4 e 7,14)”.
“São leituras que nos convidam a pôr-nos a caminho com esperança, a acolher a alegria do Natal; Todos os anos gostamos de preparar um presépio fora da Igreja, é uma forma de partilharmos com os que passam por Taizé o que vamos vivendo ao longo do Advento”, acrescentou o monge português de Taizé.
A comunidade ecuménica, a cerca de 360 quilómetros de Paris, congrega uma centena de monges de várias Igrejas cristãs, de mais de 30 países; foi fundada a 20 de agosto de 1940, por Roger Schutz, pastor protestante suíço, e começou por acolher perseguidos políticos, judeus e mais tarde prisioneiros alemães.
O irmão David explica que na comunidade vivem do seu trabalho, vendem na sala de exposição em Taizé – olaria, pequenas peças em esmalte sobre cobre, livros, CDs, pinturas e diferentes objetos artísticos – que “teve que estar fechada” durante os dois períodos de confinamento deste ano em França. A sala de exposição reabriu no verão mas com “muito menos gente as vendas foram obviamente muito menores que habitualmente” e os monges tiveram que refletir “sobre outras formas de ganhar a vida” e os produtos alimentares foram uma “boa pista”. “Lançamo-nos na fabricação de bolachas, que têm tido um grande sucesso. A loiça que produzimos não se parte facilmente e as pessoas não vêm comprar todas as semanas mas quando vamos às feiras da região à volta de Taizé, com as nossas bolachas, verificamos que as pessoas voltam regularmente para comprar mais! Temos projetos para a fabricação de chás de tília, de camomila e de outras plantas, de mel, de sumo de maçã… mas será preciso tempo para concretizar tudo isso”, explicou. O irmão David conta também que num verão com “pouco trabalho em Taizé”, sem as peregrinações e viagens de jovens, vários irmãos “foram também trabalhar nas vindimas e na apanha de fruta”. “Tanto nos mercados como nas quintas onde trabalhámos, verificámos que o contacto que podemos fazer com as pessoas nestes contextos é muito interessante, é também uma forma de trabalho pastoral. Várias vezes encontrei pessoas na feira que me vinham confiar intenções de oração”, acrescentou o monge português. |
CB/OC