Visita ecuménica alertou para crise de refugiados e violação dos direitos das mulheres
Juba, 05 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje na capital do Sudão do Sul a sua visita ao mais jovem país de África, uma peregrinação ecuménica pela paz em que alertou para a crise dos refugiados e a violação dos direitos das mulheres.
“Com os meus Irmãos Justin (Welby, primaz da Comunhão Anglicana) e Iain (Greenshields, moderador da Igreja da Escócia), cuja presença agradeço de coração, viemos até aqui e continuaremos a acompanhar os vossos passos, fazendo tudo o que pudermos para que sejam passos de paz, passos rumo à paz”, declarou, no último encontro com a população, esta manhã, no memorial a John Garang, em Juba.
Após a Missa que reuniu cerca de 100 mil pessoas, na qual o Papa desafiou a comunidade cristã a estar na linha da frente do processo de paz e reconciliação nacional, Francisco evocou uma santa sudanesa, Josefina Bakhita (1860-1947), antiga escrava que se tornaria religiosa católica, na Itália.
“Como nos lembra a figura de Santa Josefina, aqui a esperança está particularmente sob o signo da mulher e quero agradecer e abençoar, de maneira especial, todas as mulheres do país”, declarou.
Invocamos, confiamos a causa da paz no Sudão do Sul e em todo o continente africano, onde muitos dos nossos irmãos e irmãs na fé são alvo de perseguições e perigos, onde inúmeras pessoas sofrem por causa de conflitos, exploração e pobreza”.
Francisco disse que vai guardar o Sudão do Sul no seu “coração”, convidando todos a manter a esperança e lutar pela paz.
O Papa iniciou esta sexta-feira a sua primeira viagem ao país, independente desde 2011, em busca de acordos que promovam a reconciliação e o fim da guerra.
“Basta de sangue derramado”, disse no Palácio Presidencial, num encontro com responsáveis políticos.
O governo do Sudão do Sul e a Aliança dos Movimentos de Oposição (Ssoma) assinaram em janeiro de 2020 a Declaração de Roma, onde assumiram o compromisso de terminarem as hostilidades no país africano, com a mediação da comunidade católica de Santo Egídio.
“É tempo de passar das palavras aos atos. É tempo de virar página; é o tempo do empenho em prol duma transformação urgente e necessária. O processo de paz e reconciliação exige um novo salto”, sustentou Francisco.
As duas partes têm trocado acusações de violação dos acordos, com o país a viver uma crise de refugiados: segundo dados da ONU, desde dezembro de 2013, o conflito – agravado por inundações e secas extremas – provocou milhares de mortos e expulsou quase quatro milhões de pessoas das suas casas.
O Papa mostrou a preocupação de fazer dos católicos, mais de 50% da população local, uma “voz contra a injustiça e a prevaricação”, evitando os conflitos étnicos.
Acompanhado pelo arcebispo Justin Welby e o pastor Iain Greenshields, Francisco reuniu-se no sábado com deslocados internos do Sudão do Sul, junto dos quais denunciou o “maior crise de refugiados do continente” africano, apelando ao fim da guerra no país.
Os três líderes cristãos encerraram este dia de viagem com uma oração ecuménica, na qual apelaram à fraternidade entre os cristãos, à rejeição da violência e à proteção das mulheres.
Esta foi a quinta viagem de Francisco ao continente africano, onde esteve em 2015, 2017 e 2019, por duas vezes, tendo passado pelo Quénia, Uganda, República Centro-Africana, Egito, Marrocos, Moçambique, Madagáscar e Maurícia.
A visita iniciou-se terça-feira, na República Democrática do Congo, onde o Papa denunciou a “exploração sangrenta e ilegal da riqueza” do país, cuja população é vítima da violência devido a tensões internas e interesses estrangeiros.
“Tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Chega de sufocar a África!”, apelou.
OC