Solidariedade: «Zero Desperdício», milhões de refeições

António Costa Pereira recorda percurso que permitiu recuperar alimentos em boas condições que estavam destinados ao lixo

Lisboa, 15 jan 2016 (Ecclesia) – António Costa Pereira, presidente da Associação DariAcordar, criou o Movimento «Zero Desperdício» para evitar que “comida boa” fosse parar ao lixo e já conseguiu recuperar milhões de refeições.

Em janeiro de 2008 resolveu escrever ao presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a manifestar a sua indignação em relação às sobras dos restaurantes e dos hotéis.

Para além da carta a Cavaco Silva, o promotor do Movimento «Zero Desperdício» escreveu a deputados e não teve “grandes respostas”, defendendo-se que era uma “questão da lei e uma norma da União Europeia”, disse à Agência ECCLESIA:

A sua persistência levou-o a lançar, posteriormente, uma petição online onde pedia “que a lei fosse alterada ou reinterpretada”.

Essa luta constante fez com que tivesse uma reunião na ASAE e chegou à conclusão que “a lei estava a ser mal interpretada”, frisou o promotor da iniciativa.

O primeiro passo para a abertura de “um caminho legal”.

Com a ajuda de outros cidadãos preocupados com o desperdício alimentar foi criada a Associação «DariAcordar». Depois do trabalho legal com a ASAE, desde 2012, que têm “doadores” que vão desde cadeias de supermercados a hotéis, do refeitório da Assembleia da República ao Banco de Portugal.

Dentro do conceito de não desperdiçar o que existe, a associação contactou várias câmaras municipais para que indicasse instituições (Centro Social, Misericórdias ou IPSS) “para ir buscar esses alimentos ao centro comercial do seu bairro ou freguesia”, sublinhou António Costa Pereira.

Um “grande” trabalho de equipa que resultou na criação do movimento «Zero Desperdício». Ao fim de um ano de labor, já tinham acordos com quatro municípios (Loures, Cascais, Lisboa e Sintra).

Desde 2012, esta associação já recuperou “quase dois milhões e quatrocentas refeições” que “antigamente iam para o lixo”, realçou o promotor. Estas refeições são doadas às pessoas que “as instituições no terreno” indicam.

“Elas é que definem para quem vão as refeições”, acrescenta.

Este processo “não envolve dinheiro” porque é feito na “base das energias e sinergias”. Desde 2014, e no sentido de “fazer crescer ainda mais este movimento”, o grupo tem tido o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

O movimento tem “crescido bastante” e, atualmente, está localizado em dez municípios portugueses, mas com tendência para alargar os horizontes.

Com a legalização, as operações “ficam seguras” e “às claras, como tudo na vida”, disse.

Um trabalho social, visto que estas refeições vão ajudar “inúmeras pessoas”. Através destas iniciativas foram recuperados cerca de “seis milhões de euros”. É como que evitar que este dinheiro “fosse queimado”, concluiu.

A Assembleia da República Portuguesa resolveu declarar 2016 como o ano nacional do combate ao desperdício alimentar, iniciativa que está no centro da mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

CB/LFS/OC

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