Solidariedade: Individualização leva à abstenção e ao «salve-se quem puder»

Comissão Nacional Justiça e Paz procura alternativas à lógica «morrer e pagar impostos quanto mais tarde melhor»

Lisboa, 22 out 2016 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou hoje em Lisboa que a “individualização sociocultural” retém “cada um em si mesmo”, provoca a indiferença diante dos outros e leva à crescente abstenção dos cidadãos na política.

Ao intervir na sessão de abertura da conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), sobre o tema “Sistema fiscal e justiça social”, D. Manuel Clemente disse que as sociedades atuais são marcadas por uma “grande contradição”, ao promover a “globalização”, por um lado, e a “individualização”, por outro.

“A globalização põe-nos cada vez mais perto uns dos outros, quantitativa e mediaticamente falando”, recordou o cardeal-patriarca de Lisboa.

“A individualização sociocultural pode reter, e retém, cada vez mais cada um em si mesmo, eliminando vizinhanças, desvitalizando comunidades, rarefazendo cooperações, virtualizando o mundo e abstendo-nos politicamente”, acrescentou.

O presidente da CEP sublinhou a “grande importância e oportunidade” do tema em debate na conferência anual da CNJP e disse que “o princípio básico da relação sistema fiscal justiça social” é “contribuir para o bem comum, conjugando as próprias possibilidades com as necessidades alheias”.

“A justiça manda-nos dar a cada um o que lhe é devido. A caridade faz-nos tomar como próprias as necessidades de todos. E assim mesmo alcançaremos um bem que se possa dizer comum”, defendeu D. Manuel Clemente.

Na abertura dos trabalhos, o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz disse que o objetivo da conferência que decorre este sábado na Fundação Calouste Gulbenkian é contribuir para um “sistema fiscal justo”.

Pedro Vaz Patto afirmou que a “via correta” está distante de quem defende que “não está moralmente obrigado a pagar impostos precisamente porque o sistema fiscal enferma de injustiças".

“Com a evasão fiscal a injustiça não desaparece”, lembrou o presidente da CNJP.

Para Pedro Vaz Patto, é necessário configurar os sistemas fiscais com “critérios de justiça” para que “os cidadãos se sintam motivados a cumprir os seus deveres fiscais”, na certeza de que essa é “uma forma de contribuir para o bem comum e de exercício de solidariedade para com os mais pobres”.

O presidente da CNJP sublinhou que cumprir os deveres fiscais “de bom grado” e não com o “temor de sanções” é a via para que não se continue a dizer “morrer e pagar impostos, quando mais tarde melhor”.

O tema da conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz “Sistema social e justiça fiscal” está em debate durante este sábado com Ildefonso Camacho, Guilherme d´Oliveira Martins, João Amaral Tomaz, António Bagão Félix e Manuela Silva.

PR

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top